O deputado Eli Borges – Pablo Valadares-13.dez.22/Câmara dos Deputados

REGIANE SOARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se depender da animação e do trabalho do trio que forma Os Paralamas do Sucesso, o disco “Cinema Mudo” vai voltar a tocar nas vitrolas do país com muito mais qualidade sonora. Para celebrar os 40 anos do primeiro álbum da banda, o LP foi remixado e remasterizado, e será relançado em vinil em uma edição limitada, ainda sem data definida para chegar ao mercado.

E para agradar os fãs mais saudosistas, a banda também vai relançar em vinil o primeiro e único compacto com os sucessos “Vital e sua Moto” e “Patrulha Noturna”. A banda também lançou recentemente o documentário “Bios: Vidas Que Marcaram a Sua”, disponível no Star+, onde revisita a carreira.

Foi oficialmente há quatro décadas que Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, então com seus 20 e poucos anos, entraram pela primeira vez num estúdio para gravar o primeiro sucesso da banda. Mas, na verdade, a história de “Vital e sua Moto” começou bem antes, e existe uma pré-história paralâmica que torna a jornada um pouco mais antiga.

“Essa pré-história vem do dia que a gente se conheceu, em 1981 [na Universidade Rural do Rio de Janeiro]. Então já fez 40 anos. Depois, quando eu entrei efetivamente para Os Paralamas, em 1982, quando a gente formou a banda, e o Herbert começou a compor as músicas. Então, isso também já fez 40 anos”, conta o baterista João Barone à reportagem.

Mas foi somente no início de 1983, após o sucesso de “Vital e Sua Moto” nas rádios que o trio assinou com a EMI-Odeon para gravar o compacto e, posteriormente, o LP com um total de dez músicas, incluindo outros sucessos como “Patrulha Noturna” e “Química”.

Relançar “Cinema Mudo” remixado foi a forma que a banda encontrou para celebrar o início da carreira aproveitando as tecnologias que hoje permitem melhorar a qualidade do som. E ao rever o trabalho feito com limitações técnicas e orçamentárias da época, o trio se surpreendeu ao encontrar a essência do que está na banda até hoje: o prazer de tocar junto.

“A gente se sentiu como os arqueólogos entrando numa tumba. Revimos cada um dos canais [das músicas] e verificamos que foi tudo muito bem gravado. A essência toda estava ali. Aquela energia que a gente conseguiu registrar estava ali”, afirma Barone.

O baterista ressalta que o trabalho de remixagem feito neste ano foi essencialmente técnico, uma forma de “colocar tudo no lugar com um pouco mais de recursos técnicos” como eles gostariam de ter feito na época, mas não conseguiram pelas limitações do estúdio.

Um exemplo é a mesa de som da gravação com 16 canais, o que não era suficiente para captar o som de todos os instrumentos, em especial a bateria. “Na bateria, só tinha canal para o bumbo e para a caixa”, diz.

Além das questões técnicas do estúdio, o desejo de remixar “Cinema Mudo” também levou em conta uma outra particularidade da gravação da bateria. Barone conta que a banda aproveitava os horários livres no estúdio para gravar e, por isso, tinham que montar e desmontar os instrumentos todos os dias, principalmente a bateria. E cada música, lembra Barone, ficou com um som diferente.

Outro detalhe é o fato de “Cinema Mudo” ter sido originalmente mixado no mesmo estúdio em que foi gravado, o que não é comum. Desta vez, a remixagem foi feita no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, sob o comando do técnico de som Daniel Alcoforado.

O relançamento de “Cinema Mudo” é mais um revival dos anos 1980 que está sendo celebrado atualmente. Assim como Paralamas, os Titãs também comemoram 40 anos de sua formação original, e já reuniram mais 500 mil pessoas no show Titãs Encontro. E, mesmo sem usar o nome Legião Urbana, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá estão em turnê para tocar as músicas da banda.

Para “Cinema Mudo”, o que Os Paralamas querem mesmo é mostrar que o LP que foi desdenhado até pela própria banda poderá ser ouvido com mais qualidade. Barone lembra que nenhum novo som foi acrescentado, apenas passado um “novo verniz” ao digitalizar os canais de cada uma das músicas.

“A gente não queria macular esse processo [de gravação]. Éramos ali garotos de 20 e poucos anos querendo matar o mundo no peito e chutar de três dedos, como se diz no futebol. Agora, a gente não quer descaracterizar o som, a gente quer melhorar o som. E o resultado foi esse e a gente ficou muito feliz”, diz Barone.

Apesar de celebrado pela banda e ter o apoio da Universal Music -gravadora que ficou com o acervo da EMI-Odeon-, o relançamento do “Cinema Mudo” não deve ter shows só com as músicas do disco.

Atualmente, a banda está em turnê com o show “Paralamas Clássicos” no qual apresenta os principais sucessos dos 40 anos de carreira. “Vital e sua Moto”, inclusive, é a música que abre o show. “Patrulha Noturna” e “Cinema Mudo” também estão listadas. “Mas quem sabe a gente trabalhe algum coringa para a hora do bis, como “Química”, ou alguma música meio inusitada”, diz Barone.

E isso pode ocorrer muito em breve. Após uma pausa para que Herbert se recuperasse de uma pneumonia que forçou uma internação de oito dias, a banda volta para a estrada neste fim de semana –14 de julho em Curitiba e 15 de julho, no Rio– e tem shows agendados até outubro. “Ele [Herbert] está ótimo”, afirma Barone.

Ou seja, Paralamas vai continuar com o plano A, como diz o baterista, que é fazer shows Brasil afora.

Sobre voltar ao estúdio para gravar músicas novas, Barone disse que apesar de não ter nenhuma data prevista, esse dia está cada vez mais próximo. Ele lembra que é comum a pressão por novidade com artistas de carreiras tão longas como a dos Paralamas, mas não é o caso de competir com seu próprio sucesso. Ele afirma que quando tiver alguma coisa para falar, vai falar. “A hora que a gente tiver assunto, sentir firmeza, a gente vai gravar um disco novo.”