RAFAEL BALAGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os compradores de carros precisam de sorte para encontrar veículos novos que ainda estejam à venda com o desconto dado pelo governo federal e as concessionárias já limitam as opções disponíveis nas negociações.
Segundo Andreta Jr, presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), as concessionárias tiveram movimento recorde no último final de semana. “Apesar de ainda não termos o resultado dos emplacamentos consolidados, já que muitos pedidos ainda estão em vias de ser atendidos, há grandes chances de termos ultrapassado a marca dos R$ 500 milhões oferecidos, em bônus tributários pelo governo federal”, disse.
A reportagem entrou em contato com concessionárias da capital paulista. Em uma rede da Fiat, uma vendedora informou que a loja não vende mais carros com desconto, pois há risco de que na hora de a compra ser faturada, o benefício pode já ter se esgotado.
Apesar disso, a rede continua oferecendo abatimentos. Após alguma negociação, seria possível comprar um Fiat Mobi por R$ 59.700, cerca de R$ 1.000 a mais do que o preço que considerava o desconto do governo.
Em outra rede de concessionárias da Fiat, ainda havia Fiat Mobi 2023/24 por R$ 59.990, desde que o faturamento fosse feito até sexta (30). Os modelos 2023/23 com desconto, mais baratos, já haviam acabado.
Em uma loja da Renault, também não havia mais modelos Kwid com desconto nesta segunda (26). A orientação era voltar a tentar nesta terça (27). Segundo uma vendedora, havia a possibilidade de que viesse uma nova determinação, que permitiria a retomada do benefício.
Já em uma rede da Chevrolet, também havia apenas a versão 2024 mais cara do Ônix 1.0 com desconto. O modelo 2023 com o benefício não estava mais sendo vendido.
“Ficamos impressionados com o sucesso da medida, que fez o consumidor voltar a poder comprar um carro zero-quilômetro. Um novo aporte equivalente seria maravilhoso e igualmente absorvido em tempo recorde”, afirma o presidente da Fenabrave.
O programa de ‘carro popular’ do governo Lula foi lançado há três semanas. O valor total disponível para a modalidade de veículos leves é de R$ 500 milhões. Os descontos patrocinados pelos cofres públicos vão de R$ 2.000 a R$ 8.000, mas muitas empresas têm aplicado margens maiores por conta própria.
No entanto, até sexta (23), R$ 420 milhões, ou 84% do total disponível para cobrir os descontos, já havia sido usado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Os números disponíveis ainda não consideram as vendas do último fim de semana.
Considerando todos os tipos de veículo, o programa já consumiu R$ 660 milhões de R$ 1,5 bilhão disponível (além dos R$ 500 milhões para carros, há R$ 700 milhões em recursos para caminhões e R$ 300 milhões para vans e ônibus).
Até 5 de julho, há exclusividade das vendas de carros para pessoa física, sendo que a partir daí o programa fica liberado também para empresas.
Apesar da procura, o governo tem sinalizado que não vai ampliar a medida devido à necessidade de controle das contas públicas. Na semana passada, por exemplo, o vice-presidente Geraldo Alckmin indicou que dificilmente haverá injeção de novos recursos do governo.
“Isso vai ser decidido um pouco mais para frente. Provavelmente, essa não é uma decisão definitiva, mas provavelmente quando acabar os R$ 500 milhões, acabou o programa, o estímulo”, afirmou.
A Folha de S.Paulo procurou as montadoras Stellantis, Renault, Chevrolet e Toyota, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.