Conjunto de atrações da capital norueguesa tem potencial descolado que fez a fama de Copenhague na Europa
David Lucena
OSLO
Nas margens das águas gélidas (e, às vezes, congeladas) que banham Oslo, três grandes espaços culturais foram inaugurados nos últimos três anos em uma distância de menos de dois quilômetros. As novidades, somadas à cultura de cafés especiais, vêm ajudando a estender à capital norueguesa a fama de Copenhague como destino descolado da Europa.
A principal dessas novidades é o Museu Nacional, que abriu as portas em junho de 2022. Com uma exposição permanente de aproximadamente 6.500 itens, é o maior museu dos países nórdicos, segundo o escritório de turismo de Oslo. Dessas milhares de peças, a que mais se destaca é “O Grito”, obra-prima de Edvard Munch (1863-1944), mais célebre pintor norueguês.
A tela, famosa representação dos sentimentos de angústia e ansiedade nas artes plásticas, tem quatro versões (duas pinturas a têmpera e dois desenhos a pastel e crayon), além de uma litografia com dezenas de impressões.
A primeira versão, de 1893, está no Museu Nacional e outras duas, além de seis impressões da litografia, estão no Munch Museum, reinaugurado em 2021.
O Munch Museum, contudo, nunca exibe mais de uma versão ao mesmo tempo. Uma tela feita com têmpera, uma feita com crayon e uma litografia ficam dentro da parede com janelas que se abrem alternadamente de hora em hora.
Dedicado quase que inteiramente ao pintor (com exceção de algumas salas para exposições temporárias), o Munch Museum existe desde os anos 1960, mas há dois anos mudou-se para o novo prédio, com arquitetura chamativa e situado bem ao lado da Ópera de Oslo.
No mesmo bairro de Bjørvika está outro importante espaço cultural. A Deichman Bjørvika, biblioteca pública inaugurada em junho de 2020, tem ambiente pouco comum. Em vez de silêncio, a instituição incentiva o convívio e atividades que vão além da leitura. Há, por exemplo, setor dedicado à criação de objetos, que podem ser projetados em computadores e materializados por impressoras 3D.
A Deichman Bjørvika abriga também o projeto Future Library, com manuscritos que só serão publicados em 2114. Eles ficam armazenados em gavetas encravadas nas paredes de madeira de uma minúscula sala na qual só é permitido entrar descalço. Escritoras como Margaret Atwood, de “O Conto da Aia”, e Han Kang, de “A Vegetariana”, já depositaram textos ali.
Mas nem só de arte e cultura vive Oslo. Um roteiro pela capital norueguesa não pode deixar de lado uma experiência em uma das saunas da cidade —há até empresas que operam espaços à beira-mar (às vezes até dentro de barcos). No inverno, mesmo com temperaturas negativas, os frequentadores têm o hábito de mergulhar nas águas quase congeladas do mar após a sauna. Pode não parecer convidativo, mas o mergulho no gelo depois do calor da sauna desencadeia uma sensação prazerosa (ainda que deixe o corpo ligeiramente dormente por alguns instantes). No campo gastronômico, Oslo está longe da efervescência da capital dinamarquesa Copenhague. Apesar disso, tem restaurantes estrelados, como o Maaemo, com avaliação máxima no Guia Michelin, além de endereços menos badalados que servem ótimos frutos do mar —a Noruega possui uma das maiores costas do mundo
O restaurante Vaaghals é um dos mais buscados para conhecer a culinária local. Situado na moderna área conhecida como Barcode, serve pratos como o delicado bacalhau de Lofoten (arquipélago ao norte da Noruega) com camarões e molho de marisco com endro, por 285 coroas norueguesas (cerca de R$ 140).
É nos cafés, contudo, que Oslo se destaca. Com suas torras claras que quase sempre resultam em xícaras cheias de acidez e notas frutadas, a cidade proporciona aos amantes da bebida um nível difícil de encontrar em outros lugares do mundo.
É em Oslo, aliás, que fica a cafeteria de Tim Wendelboe, um dos pioneiros no ramo, já descrito como o René Redzepi dos cafés (em alusão ao chef do Noma, eleito cinco vezes o melhor restaurante do mundo). Parada obrigatória de coffee geeks em viagem pela região, o local oferece uma espécie de menu-degustação de cafés, com quatro grãos diferentes e torrados na casa por 180 coroas norueguesas (cerca de R$ 90). Também é possível pedir cafés específicos, com xícaras que ultrapassam as 60 coroas (R$ 30).
Para quem não se importa com cafés tão gourmet, há opções mais baratas. A Noruega é, afinal, o quinto país com maior consumo per capita da bebida no mundo, com média de 8,19 kg de café por ano —quase o dobro do Brasil.
Uma das opções mais fáceis de encontrar é a Espresso House, rede que é uma espécie de Starbucks nórdica. Os coados bem frutados e com qualidade acima da média de franquias custam cerca de 40 coroas (menos de R$ 20).
Não há voos diretos que ligam o Brasil a Oslo, mas é possível chegar à capital norueguesa fazendo conexão em cidades como Paris, Lisboa e Nova York.