BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das apostas esportivas, que pode acabar nesta quinta-feira (14), não tem previsão para ouvir nenhum dos seis denunciados pelo Ministério Público de Goiás como líderes de uma máfia das apostas que atuou para manipular resultados no futebol brasileiro.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia comunicado a outros deputados que não prorrogaria nenhuma comissão da Casa. No rol das que se encerram nesta quinta estão também também a do MST e a das Americanas.

Segundo o relator da CPI, Felipe Carreras (PSB-CE), foi aberta uma exceção para que seja o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, no próximo dia 20.

“O presidente [Lira] garantiu a prorrogação, tanto que na próxima semana nós prevemos a presença do presidente da CBF. Ele não garantiu o prazo que vai estender, mas garantiu que vai ser estendida”, afirmou. Por esse motivo, ele ainda não apresentou o seu relatório dos trabalhos da comissão.

O Ministério Público aponta Bruno Lopez como o líder da organização criminosa que manipulava resultados. Ele e sua companheira, Camila Silva da Motta, suspeita de integrar a cúpula do grupo, chegaram a ser convocados para prestar depoimento, mas a oitiva não chegou a ser agendada pelo presidente da comissão, o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI).

O órgão ainda indica mais quatro nomes como integrantes dos núcleos de financiadores e operadores do esquema criminoso, todos denunciados à Justiça, mas que nem sequer tiveram requerimentos para que fossem chamados a depor.

Arcoverde, que é responsável por marcar as oitivas, não respondeu por que os líderes da máfia não foram ouvidos.

“A disputa envolvendo pressão sobre casas de apostas por um lado e proteção em relação às mesmas por outro acabou sendo o lobby prevalecente. Na prática, audiências fundamentais para a investigação do objeto da CPI acabaram não acontecendo”, afirmou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), autor dos requerimentos de convocação de Bruno e Camila.

Dentre os pedidos de oitiva aprovados pela comissão durante seus mais de três meses de duração estão integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público, empresários do setor de apostas esportivas —inclusive estrangeiros— e nomes do futebol.

Os convites incluíram jogadores que participaram do esquema, o diretor que denunciou o golpe, integrantes da CBF, representantes dos árbitros e pessoas sem nenhum indício de ligação com o grupo, como o técnico Abel Ferreira e o lateral Gabriel Menino, ambos do Palmeiras.

Como mostrou a Folha, conversas interceptadas pelo Ministério Público apontam que Bruno Lopez teria envolvido seus pais e sogros no esquema e pediu à mãe “reza forte” para o golpe dar certo.

A primeira fase da Operação Penalidade Máxima foi deflagrada pelo Ministério Público em fevereiro deste ano. Segundo a denúncia, o grupo atuava em núcleos. Bruno, além de liderar toda a operação, comandava o principal deles, chamado de apostadores, do qual também Camila faz parte.

Agora, a CPI discute ouvir Rodrigues, da CBF, ainda neste mês. Ele chegou a ser chamado para uma sessão, mas respondeu, por meio de seu advogado, que não poderia comparecer, “pois já havia assumido compromissos profissionais inadiáveis” —no caso, as partidas da seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa, uma em Belém, na última sexta (8), e outra nesta terça (12), em Lima, no Peru.

No mesmo documento, a defesa do presidente da CBF diz que ele segue, depois, para uma reunião na Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e retorna ao Rio de Janeiro apenas no sábado (15). Por isso, sua audiência deve ser marcada para o dia 20, uma quarta.

O objetivo dos parlamentares é questioná-lo se, em posse dos alertas sobre possível manipulação de resultado no futebol brasileiro, a CBF acionou as autoridades responsáveis ou tomou alguma outra providência.

Até aqui, 11 jogadores já foram penalizados pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), com sanções que variam de gancho de um ano a banimento do esporte.

Nesta segunda-feira (11), a Fifa (Federação Internacional de Futebol) ampliou para todo o mundo o entendimento da corte brasileira —alguns desses atletas haviam firmado contrato com times do exterior.

É o caso de Eduardo Bauermann, zagueiro que defendia o Santos e, punido, fechou contrato com um clube da Turquia —que agora o dispensou. Ele chegou a ser chamado para ser ouvido pela CPI, mas um habeas corpus o liberou.

Marcos Vinicius Alves Barreira, que foi jogador do Vila Nova e é conhecido por Romarinho, foi um dos poucos nomes diretamente envolvidos no esquema que prestaram depoimento à CPI.

Na ocasião, ele afirmou que Bruno Lopez chegou a lhe dizer, durante as negociações para que ele aceitasse entrar no golpe, que já havia firmado acordo com atletas de Cruzeiro, Atlético Mineiro e Avaí.

A comissão também ouviu o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que foi quem denunciou o esquema para o Ministério Público de Goiás. Falou também com o procurador encarregado do caso, Fernando Martins Cesconetto, e com o procurador-geral do estado, Cyro Terra Peres.

Nino Paraíba, que teve passagens por América-MG, Bahia e Ceará, prestou depoimento ao grupo. Ele é um dos atletas que já confessaram ter aceitado dinheiro em troca de participar da máfia.