Da Redação

O que era para ser um investimento robusto em infraestrutura virou dor de cabeça para a gestão municipal de Goiânia. Em novembro de 2024, a Prefeitura suspendeu um contrato de R$ 107 milhões com a Construtora Porto S/A, que havia sido firmado poucos meses antes, em agosto, para cuidar da manutenção predial de hospitais, UPAs, UBSs e outros centros de saúde. O rompimento, oficializado no Diário Oficial do Município no dia 25 de novembro, ocorreu após suspeitas de irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO).

A empresa havia recebido R$ 2 milhões, divididos em dois pagamentos, sem comprovação das obras realizadas. Poucos dias após a suspensão, o então secretário de Saúde em exercício, Quesede Ayres Henrique, foi preso ao lado de Wilson Pollara e Bruno Vianna na operação “Comorbidade”, conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), que investiga o desvio de cerca de R$ 300 milhões da saúde pública.

As consequências do escândalo não ficaram apenas no âmbito judicial. Sem empresa responsável por consertos e reparos, unidades da rede municipal estão há meses em estado crítico. Locais como a UPA Jardim Curitiba e o Centro de Saúde da Família da Vila Pedroso operam em condições precárias, com estrutura comprometida e sem previsão de reforma. A população, que já enfrenta filas e demora no atendimento, agora convive também com problemas básicos como infiltrações, falta de manutenção e higiene comprometida.

Mesmo após recorrer, a construtora teve seu pedido negado pelo TCM-GO em abril de 2025. A alegação da corte foi clara: cabe à administração municipal comprovar os serviços prestados e regularizar a situação, o que não foi feito. O conselheiro Fabrício Motta, relator do caso, reforçou que os motivos que justificaram a suspensão continuam válidos.

Enquanto isso, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que aderiu a um processo licitatório conduzido pelo governo estadual para contratar uma nova empresa de engenharia. Mas, até que o trâmite seja finalizado, os problemas estruturais continuam acumulando.

O episódio escancara não só um caso de possível corrupção de grandes proporções, mas também uma ferida aberta na saúde pública da capital: a negligência com o espaço físico onde milhares de pessoas buscam atendimento diariamente.