SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta queda nesta quinta-feira (6), um dia depois de sofrer a maior perda diária desde as eleições de 2022.
Os investidores aguardam novas informações sobre os planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e repercutem dados da maior economia do mundo.
Às 12h08, a moeda norte-americana caía 0,29%, cotada a R$ 5,738. Já a Bolsa tinha alta de 0,64%, a 123.840 pontos. Na véspera, o dólar caiu 2,70%, a R$ 5,755, e o Ibovespa subiu 0,20%, a 123.047 pontos.
Os fatores que pautaram o mercado na quarta-feira continuam presentes nesta sessão. Trump adiou a implementação de tarifas de importação a montadoras do Canadá e México em um mês, ainda que as demais de 25% tenham entrado em vigor na terça.
A decisão veio após uma ligação do presidente com os CEOs das empresas General Motors, Ford e Stellantis, que pediram a suspensão das barreiras tarifárias a veículos em conformidade com as regras do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) de 2020. A legislação impõe regras de conteúdo norte-americano para acesso livre de tarifas ao mercado dos EUA.
Questionada sobre por que a suspensão é de apenas um mês, Karoline Leavitt, secretária de Imprensa da Casa Branca, disse que o presidente esperava que as montadoras transferissem a produção de volta para os Estados Unidos. A mensagem, segundo ela, era para “entrar em ação, começar a investir, começar a se mover, transferir a produção aqui para os Estados Unidos da América, onde não pagarão tarifas”.
As montadoras expressaram apoio ao aumento do investimento nos EUA, mas querem certeza sobre as políticas tarifárias, bem como sobre as regras de emissões de veículos antes de fazer mudanças drásticas, disseram duas fontes da indústria.
“Estamos preparados para trabalhar com a administração Trump para apoiar mais investimentos em nossa presença de manufatura nos EUA, mas precisamos de tempo para fazer essas mudanças sem impactar negativamente o negócio e nossos clientes”, disse a Stellantis a seus concessionários nesta terça-feira em um e-mail visto pela Reuters.
O recuo de Trump em relação às montadoras fortalece a tese de que a política comercial do republicano tem sido usada como ferramenta de barganha. Com isso, houve um desmonte de posições defensivas no dólar realizadas antes do feriado do Carnaval, quando investidores buscaram proteção antes do fechamento dos mercados na segunda e na terça-feira.
No entanto, parte dos temores sobre as demais tarifas persistem. O “tarifaço”, além de estimular uma guerra comercial ampla, tem o potencial de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.
Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
Mas se por um lado as tarifas podem forçar os juros a ficarem altos por mais tempo, por outro há uma percepção de desaceleração da atividade no país, que é corroborada pelos juros altos, o que enfraquece a divisa americana.
“Ainda vemos um dólar mais forte por conta da tese de que as tarifas dos EUA serão inflacionárias. O que está mudando no cenário é que estamos vendo uma desaceleração da economia norte-americana”, afirmou Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
O relatório ADP mostrou que a criação de vagas no setor privado dos EUA aumentou no menor ritmo em sete meses em fevereiro. Foram criados apenas 77 mil novos postos de trabalho, bem abaixo da expectativa do mercado, de 141 mil.
Já nesta quinta, os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram para 221 mil na semana passada, informou o Departamento do Trabalho nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam 235 mil pedidos.
“Várias medidas de atividade econômica estão apontando para uma desaceleração muito forte nos EUA Isso vai bater inclusive no dólar, com a visão de que eventualmente o Fed vai cortar juros este ano”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, citando o efeito de políticas como cortes fiscais e demissões em massa no setor público.
Outro destaque da sessão é a decisão de juros do BCE (Banco Central Europeu). Como esperado, a autoridade monetária cortou a taxa de referência para 2,5%, em um aceno à desaceleração da inflação e à fraqueza do crescimento, e disse que os juros ainda estão restringindo o crescimento, mesmo que menos do que no passado.
O BCE manteve a porta aberta para mais reduções, mesmo com a iminente guerra comercial com os Estados Unidos e os planos para aumentar os gastos militares que podem provocar a maior reviravolta na política econômica da Europa em décadas.
A Alemanha e a Comissão Europeia anunciaram mudanças transformadoras nas regras fiscais para aumentar os gastos com defesa e infraestrutura, em parte para substituir o apoio dos EUA à Ucrânia -uma mudança que pode afetar o crescimento por anos.