SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tarcísio de Freitas (Republicanos) teve seu cotidiano nos dois anos à frente do Governo de São Paulo dominado por temas como infraestrutura, economia, privatizações e segurança nas reuniões oficiais.
Segundo dados da agenda oficial do governador entre os dias 1º de janeiro de 2023, data da posse no estado, e 31 de dezembro passado, o campeão de encontros é o chefe da Casa Civil, Arthur Lima, com 167. Ele é seguido pela secretária de Infraestrutura e Meio Ambiente, Natália Resende (63), e depois, por Rafael Benini (51), de Parcerias e Investimentos.
Fora do pódio estão Samuel Kinoshita (48), titular da Fazenda e Planejamento, e o secretário de Governo, Gilberto Kassab (40), responsável pela articulação política da administração.
Os dados foram extraídos de forma automatizada pela Folha de S.Paulo e analisados pela reportagem, que contabilizou apenas os compromissos em que os convidados são nominalmente citados.
Isso significa que reuniões com citações mais genéricas, como “prefeitos”, “secretários”, ou “participantes” não entram nos totais mencionados.
O governador teve, no total, 1.183 compromissos oficiais com seus auxiliares de primeiro escalão, além de assessores, deputados estaduais e federais, senadores, governadores, membros do Judiciário e outras figuras do setor privado e da sociedade civil. Destas, 868 ocorreram em 2023, ante 315 em 2024.
Com os chefes de cada pasta do governo, foram realizadas 654 reuniões, sendo 479 delas em 2023 e 175 no ano de 2024 -uma redução de 64%. Vale ressaltar que muitas agendas não são incluídas nos anais oficiais da administração paulista.
Entre os dez primeiros também se encontram os secretários de Comunicação, Laís Vita, de Desenvolvimento Social, Jorge Lima, de Segurança Pública, Guilherme Derrite, de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos, e de Educação, Renato Feder.
Entre esses, Derrite se destaca com o maior número de encontros com Tarcísio no ano passado: ao todo, foram 10 reuniões. O secretário protagonizou, em 2024, uma crise envolvendo a segurança no estado e a atuação da Polícia Militar em abordagens e operações acumuladas desde o início do mandato.
Alguns casos polêmicos marcaram a gestão da dupla, incluindo o flagra de um policial no momento em que jogava um homem do alto de uma ponte, na zona sul de São Paulo, a morte de um estudante de medicina e o assassinato de um homem negro atingido por 11 tiros disparados pelas costas por um militar de folga em frente a um mercado.
A crise gerou pressão sobre o primeiro escalão do Palácio dos Bandeirantes, uma vez que a segurança pública é uma bandeira do governo Tarcísio, usada como vitrine eleitoral. Apesar dos rumores, o mandatário decidiu manter Guilherme Derrite à frente da pasta.
Tarcísio fala em concorrer à reeleição em 2026, mas também é visto como presidenciável, dada a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL). O secretário de Segurança é mencionado como possível candidato ao Senado, a vice-governador ou até a governador, caso o atual chefe do executivo paulista dispute o Palácio do Planalto.
Para o pleito do próximo ano, Derrite acertou a ida para o PP, de acordo com o senador e presidente da sigla, Ciro Nogueira. O senador defende que, se Tarcísio for candidato a presidente, Derrite concorra ao Governo de São Paulo.
“A segurança pública foi central para Tarcísio e sua relação com o núcleo central do bolsonarismo. O empoderamento dos policiais militares e o recrudescimento que produziriam a sua política de segurança, com aumento significativo da letalidade policial, colocam a Secretaria de Segurança Pública e a função de Derrite como central”, avalia a pesquisadora e analista política Júlia Almeida.
Para além do primeiro escalão, estão na lista das pessoas com as quais Tarcísio mais se reuniu em 2024 a procuradora-geral de SP, Inês Coimbra, o deputado e líder da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL-SP), e o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Dado curioso é a quantidade de encontros oficiais em que constam a presença do vice-governador paulista, Felício Ramuth (PSD). Nos dois anos, foram cinco, mesmo número obtido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), adversário eleitoral de Tarcísio em 2022.
Ramuth esteve em menos compromissos formalizados na agenda que André Salcedo, último presidente da Sabesp antes da privatização, e na mesma quantidade que Julio Castiglioni, diretor-presidente do Metrô de São Paulo.
Outro que perdeu espaço com o governador foi Kassab. Apesar de ser considerado homem forte da administração e ser cotado até mesmo como vice de Tarcísio em 2026, caso ele concorra ao Palácio do Planalto, saiu de 37 agendas em 2023 para apenas 3 em 2024.
O governador também teve encontros com figuras políticas brasileiras e estrangeiras, prefeitos e empresários. Nos dois anos, foram 87 reuniões com membros do setor privado, além de 81 com deputados estaduais, 57 prefeitos e 54 autoridades de órgãos internacionais e representações de outros países.
Entre as lideranças internacionais estão membros de consulados e embaixadas de Estados Unidos, China, Dinamarca, Japão, República Dominicana, Itália, Alemanha e outros. Na lista também constam organizações como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Banco Mundial.
O atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes também se encontrou com nomes do Judiciário, como desembargadores do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) e ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Dos 11 magistrados do STF (Supremo Tribunal Federal), se reuniu com 9 deles, à exceção de Flávio Dino e Cristiano Zanin, recém-indicados por Lula (PT). O petista, inclusive, também foi pouco visto em agendas formais, com apenas três encontros nos dois anos.
Em espectro nacional, foram realizados compromissos oficiais com Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-chefe do Senado, além dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (União Brasil), de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) e de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB).