SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) autorizou a retomada nas escavações da futura estação 14-Bis Saracura, da linha 6-laranja do metrô de São Paulo.
As obras foram parcialmente paralisadas desde que cerca de 4.000 peças que seriam do quilombo Saracura foram encontradas em 2022.
A autorização foi dada na última sexta-feira (28), prazo final dado pelo governo estadual e pela concessionária Linha Uni para que as escavações fossem retomadas e a construção da estação não fosse descartada ou atrasasse todo o cronograma da linha.
“Após essa data, qualquer atraso subsequente impactará o cronograma das obras, comprometendo, além da entrega da estação 14 Bis, a operação de outras estações”, disse a concessionária no mês passado.
No último dia 12 de fevereiro, a Secretaria de Parceria em Investimentos afirmou que, se até 28 de fevereiro, o Iphan não liberasse o resgate na área 4 do canteiro e o avanço das obras, o governo Tarcísio de Feitas (Republicanos) iria reavaliar a construção da estação de modo a evitar impacto no cronograma da inaugurações.
Nessa área, conforme o Iphan, indícios apontam para a existência da estrutura de um possível terreiro e de outros objetos ligados à religiosidade afro-brasileira.
A 14 Bis-Saracura está no local em que ficava a antiga sede da escola de samba Vai-Vai no Bixiga, região da Bela Vista, no centro de São Paulo.
Ao emitir seu parecer de aprovação, o instituto diz ter proposto contrapartidas à concessionária responsável pela obra, com o objetivo de proteção do patrimônio cultural nacional.
Entre as contrapartidas, está a elaboração de um projeto de salvamento e musealização dos achados arqueológicos, em parceria com as comunidades interessadas, seguindo o princípio da participação social.
“A autorização para continuidade das escavações da área 4 se soma às autorizações já concedidas pelo Iphan para as demais áreas”, diz o instituto, em nota. “Em todas elas, o empreendedor teve de apresentar propostas prévias de salvamento, conforme determina a legislação.”
A concessionária e o governo do estado apresentaram duas opções para exposição dos achados. Uma na entrada da futura estação e outra no mezanino.
Questionada sobre prazos para retomada e conclusão das obras, a Linha Uni não respondeu até publicação desta reportagem. Mas a 14 Bis Saracura não deve seguir o mesmo cronograma das demais e deve ser inaugurada posteriormente. A inauguração pode ficar para 2029, já com a linha em andamento.
A linha vai ligar a Brasilândia, na zona norte de São Paulo, à estação São Joaquim, na região central, com expectativa de transportar mais de 630 mil passageiros por dia. Com isso, o tempo de deslocamento neste trajeto, que hoje é feito em cerca de uma hora e meia por ônibus, será reduzido para 23 minutos.
O trecho entre Brasilândia e Perdizes tem previsão de entrega para outubro de 2026. A operação do traçado entre Perdizes e São Joaquim, onde fica a 14 Bis, é esperado para 2027.
Com apenas 14,6% de obras concluídas, a estação é a mais atrasada das 15 que irão compor a nova linha. É a única que não tem poço perfurado.
As escavações entre as estações da linha foram encerradas em fevereiro. Apenas a 14 Bis não conta com acesso ao túnel.
Nesta segunda-feira (3), o governo paulista disse que após o registro, armazenamento e catalogação dos vestígios arqueológicos pela empresa especializada contratada pela concessionária, qualquer necessidade de preservação será tratada fora do local das escavações, garantindo que o cronograma das obras não seja afetado.
De acordo com o governo, a data limite de 28 de fevereiro para a liberação dos trabalhos foi dada para que as etapas de escavação, desmontagem dos anéis dentro da estação e execução da laje de fundo sejam concluídas antes da instalação da via permanente (trilhos) e do sistema de energia.
“Caso esses serviços sejam executados dentro do túnel antes da desmontagem dos anéis, não será mais possível removê-los, inviabilizando a ligação da plataforma com o trem”, disse.
Os estudos no sítio arqueológico Saracura estão sendo feitos pela empresa de arqueologia A Lasca, contratada pela concessionária.
Desde janeiro de 2022, diz o Iphan, têm sido resgatados diversos itens que colocam em evidência a história da ocupação da região pela população negra, como a estrutura do possível terreiro e objetos diversos que indicam a existência do antigo quilombo Saracura.
Foram descobertas ainda estruturas de drenagem do córrego Saracura Grande, provavelmente relacionadas à política de saneamento na cidade de São Paulo entre as décadas de 1950 e 1970.
“Para este achado, o empreendedor apresentou proposta de musealização, que prevê sua desmontagem e remontagem na própria estação de metrô. No momento, o Iphan aguarda complementação da metodologia de trabalho”, diz trecho da nota do instituto.
Um dos principais objetivos, conforme o Iphan, é que as estruturas e os bens móveis arqueológicos estejam acessíveis à comunidade dentro da estação e disponíveis para pesquisa em instituições de guarda, com todo o custo bancado pela concessionária que tirará proveito econômico do empreendimento.
Prometida inicialmente para começar em 2010, a obra sofreu uma série adiamentos e efetivamente teve início em 2015, com previsão de entrega cinco anos depois. Porém, a construção acabou paralisada em 2016, sendo retomada em 2020 com a atual concessionária.
Houve ainda a interrupção inesperada de sete meses em parte dos trabalhos, quando uma cratera afundou o asfalto na marginal Tietê, em fevereiro de 2022, por causa do rompimento de uma tubulação de esgoto, que também inundou a tuneladora responsável pelas escavações.
No mês passado, o governo autorizou estudos para ampliação da linha com mais seis estações, sendo quatro a partir do centro: Aclimação, Cambuci, Vila Monumento e São Carlos/Parque da Mooca, já no início da zona leste, e Morro Grande e Velha Campinas na direção norte.