RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Centenas de pessoas lamentaram após Fernanda Torres não levar o Oscar de melhor atriz pela atuação no filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. A premiação ocorreu na noite deste domingo (2) em Los Angeles, nos Estados Unidos.
O público ficou inconsolável com a derrota, vaiando a premiação. O longa também perdeu na categoria de melhor filme, mas fez história ao conquistar o Oscar de melhor filme internacional. É a primeira vez que o Brasil conquista uma estatueta.
Esta é a 97ª edição do Oscar e nenhum brasileiro e a última indicada foi a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, que perdeu a estatueta pela atuação no longa Central do Brasil, em 1999. Torres já havia ganhado um Globo de Ouro no início do ano.
O filme se passa no contexto do período da ditadura militar no Brasil e retrata a vida de Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva. Ela dedica 40 anos da vida na busca pela verdade sobre o desaparecimento do marido. A produção é inspirada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal.
Nascida no Jardim Botânico, na zona sul da capital fluminense, a atriz passou boa parte da vida na Tijuca, bairro da zona norte. Na rua Padre Elias Gorayeb ficava o apartamento dos tios paternos, que cuidavam da atriz e de seu irmão, o diretor de cinema Cláudio Torres.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, ela disse se lembrar de como era sua vida no bairro da zona norte da cidade. “Era um apartamento de três andares no fim da rua, do lado de um rio que marca o limite da ruazinha. A gente brincava na rua, comia no café Palheta, na lanchonete, e ia ver filmes nos cinemas da praça Saenz Peña”, contou a atriz.
Sobre a Tijuca
Antes dos bares, escolas, cinemas e Maracanã, antes mesmo da formação das favelas, a Tijuca era toda uma plantação de café.
“O café chega à Tijuca pelo clima, a água abundante e a disponibilidade de terreno. É um tipo de planta que gosta de relevo alto, e a Tijuca oferecia essas condições. Nobres do império e comerciantes portugueses investem no café usando a mão de obra escravizada”, conta Mário Brum, professor do departamento de história da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Na metade do século 19, as árvores da mata atlântica que hoje compõem o maciço da Tijuca já estavam todas cortadas e tinham dado lugar aos cafezais. Um reflorestamento aconteceu a partir de 1850.
“Nessa época, o centro está densamente povoado, abafado e sujeito a epidemias. Uma atmosfera úmida e insalubre. Tijuca e Botafogo se tornam áreas destinadas a uma certa elite da cidade. Famílias abastadas passam a ocupar a Tijuca em palacetes, chácaras, casas com quintal.”
Fábricas ocuparam terrenos da Tijuca na primeira metade do século 20, espalhando pelo bairro vilas operárias e construções sobre os morros, que deram início às favelas. Os morros do Salgueiro, Borel e Turano foram batizados com sobrenomes dos donos das terras da região.
“Herdeiros do Emílio Turano quiseram despejar os moradores nos anos 1950, e eles conseguiram permanecer. O morro passou a se chamar Morro da Liberdade durante um tempo, depois voltou a prevalecer o nome Turano. No Borel, surgiu a União dos Trabalhadores Favelados também por conta de uma resistência.”