SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Caças italianos escoltaram um Boeing da American Airlines após uma ameaça de bomba em uma operação que seguiu protocolos rigorosos.

COMO FUNCIONA A INTERCEPTAÇÃO

Interceptações aéreas, que lembram cenas de filmes de ação, fazem parte da rotina das forças militares de vários países. No domingo (23), caças Eurofighter Typhoon da Força Aérea Italiana escoltaram um Boeing 787 após uma ameaça de bomba durante um voo de Nova York, nos EUA, para Nova Déli, na Índia.

A aeronave precisou desviar sua rota e pousou em segurança no Aeroporto de Fiumicino, em Roma. Segundo reportagem do Business Insider, após inspeção, nenhuma bomba foi encontrada, confirmando que se tratava de um alarme falso.

No Brasil, a FAB (Força Aérea Brasileira) monitora o espaço aéreo 24 horas por dia. Qualquer aeronave suspeita é detectada por radares e acompanhada de perto. Se o avião não se identificar corretamente ou apresentar comportamento irregular, aeronaves de caça, como os jatos supersônicos F-5M e os aviões A-29 são acionados pelo Comae (Comando de Operações Aeroespaciais), em Brasília.

Os pilotos militares seguem protocolos rígidos, que incluem:

Aproximação discreta: o caça mantém uma posição onde não é facilmente percebido pelo avião suspeito;

Identificação visual: a matrícula e as características do avião são conferidas nos registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil);

Comunicação por rádio: se o piloto da aeronave suspeita não responder, sinais visuais são utilizados;

Ordem de pouso: caso o avião continue sem responder, a FAB ordena um pouso obrigatório.

Se o piloto ignorar todas as tentativas de comunicação, tiros de advertência podem ser disparados com munições traçantes. São projéteis de arma de fogo que têm uma carga pirotécnica na base. Quando disparadas, a carga pirotécnica se inflama e queima, tornando a trajetória do projétil visível.

Como último recurso, o chamado “tiro de detenção” pode ser realizado. Ele danifica a aeronave para forçá-la a pousar.

TECNOLOGIA E TEMPO DE RESPOSTA

O monitoramento do espaço aéreo brasileiro não depende somente de radares terrestres. A FAB também utiliza aviões-radar E-99, que conseguem identificar aeronaves voando em baixa altitude —uma tática usada por aviões clandestinos para evitar detecção.

Assim que um avião suspeito é identificado, uma sirene de alerta soa nas bases aéreas. Os pilotos de caça têm poucos minutos para decolar e chegar até a aeronave alvo. Esse tempo de resposta rápido é essencial para evitar invasões ao espaço aéreo e atividades ilegais.

DROGAS, CONTRABANDO E ROTAS CLANDESTINAS

Interceptações são comuns em regiões de fronteira, principalmente devido ao tráfico de drogas. Aeronaves clandestinas muitas vezes tentam entrar no Brasil sem plano de voo ou usando matrículas falsas. Em um caso recente, a FAB forçou o pouso de um bimotor carregado com 500 quilos de cocaína em um lago no Pantanal, no Mato Grosso do Sul.

O narcotráfico utiliza frequentemente aviões de pequeno porte, muitas vezes modificados para suportar mais carga ou aumentar a autonomia de voo. Segundo afirmou ao UOL o tenente-brigadeiro Carlos Vuyk de Aquino, muitas dessas aeronaves vêm da Bolívia, Paraguai e Colômbia. Após a interceptação e pouso forçado, equipes da Polícia Federal e do Grupo Especial de Fronteira são acionadas para inspecionar a carga e deter eventuais criminosos.

QUANDO UMA AERONAVE PODE SER ABATIDA

Desde 1998 está prevista no Código Brasileiro de Aeronáutica a possibilidade de derrubada de aeronaves consideradas hostis. Em 2004, um decreto presidencial, conhecido como Lei do Abate, regulamentou as situações nas quais isso pode ocorrer.

Apenas aeronaves consideradas uma ameaça à segurança pública — por motivos como suspeita de tráfico de entorpecentes — podem ser abatidas. No dia 11, dois suspeitos de tráfico de drogas morreram após agentes da FAB atirarem contra a aeronave em que eles estavam, que entrou no Brasil clandestinamente vinda da Venezuela.