BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP) foi eleito novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica nesta terça-feira (25), após uma reedição de embate da polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Ele derrotou Otoni de Paula (MDB-RJ), que já foi fiel escudeiro de Bolsonaro no Congresso, se aproximou do governo Lula no ano passado, e passou a ser tratado como governista por adversários.
Nascimento, por sua vez, é mais próximo de Bolsonaro e tratado por adversários como linha auxiliar do pastor Silas Malafaia -que diz não ter nada a ver com este pleito.
Ele foi eleito com 117 votos contra 61 para Otoni. Houve ainda cinco votos em branco.
“[Em] Defesa da família, contra aborto, liberalização das drogas. Vamos trabalhar muito por essas pautas, pautas que na verdade a sociedade clama por elas. Estou totalmente aberto para discutir qualquer outra pauta”, disse Nascimento.
Ele evitou comentar a proximidade com o ex-presidente, ao ser questionado por jornalistas em dois momentos diferentes.
Havia uma terceira candidata, Greyce Elias (Avante-MG), mas que deixou a disputa, após apelo de Bolsonaro, segundo relatos. Os dois primeiros nomes já eram os principais cotados.
Otoni não falou após a eleição, mas esteve presente na mesa com os demais colegas, durante coletiva de imprensa.
O eleito tomará posse na quarta-feira (26), quando haverá o tradicional Culto de Santa Ceia.
A votação, que é de papel, durou cerca de três horas e mobilizou integrantes do governo e da oposição. Segundo quem acompanha de perto os trabalhos, há muito tempo não havia tanta gente engajada na escolha.
A disputa para escolher o nome que comandará uma das maiores bancadas temáticas do Congresso é inédita. Inicialmente, estava marcada para dezembro passado, mas foi adiada diante do racha.
Durante as horas em que a votação esteve aberta, senadores como Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Damares Alves (Republicanos-DF) estiveram presentes para apoiar Nascimento.
Segundo integrantes da oposição, votaram em peso ainda nomes de parlamentares da base aliada que, apesar de pertencerem à frente, são menos atuantes na bancada evangélica.
A votação foi presidida pelo atual presidente, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), que fez um arranjo com o colega Eli Borges (PL -TO) no começo de 2023. Era temporada eleitoral entre deputados evangélicos, e havia um impasse sobre qual deles seria ungido pelos pares.
Ao anunciar o resultado nesta terça, Câmara fez questão de fazer um aceno a Otoni, que disse defender a direita. Ele disse que, no plenário, a cada dez pronunciamentos em defesa dos valores cristãos, oito são do parlamentar.
“Na história, foi sim o deputado que se levantou para defender a direita, os princípios cristãos, a família, é um homem de Deus”, disse. Câmara fez questão de frisar ainda unidade da bancada, após o racha histórico.
Antes do resultado final, Otoni disse à Folha que não era candidato governista, mas que Bolsonaro oficializou a polarização ao pedir a retirada da candidatura de Greyce.
Apesar de todos reconhecerem maior afinidade de um ou outro candidato com Lula ou Bolsonaro, deputados se queixam da politização da disputa.
Eles tentaram a todo custo construir um acordo para não decidir pelo voto quem os comandará, preferindo que a escolha tivesse sido por aclamação.
Câmara e Borges se revezaram no poder, um semestre cada, desde então. O pleito já havia sido tumultuado. Agora, em 2025, o racha se repete.
Silas Malafaia não se furta a elogiar Gilberto Nascimento, que é decano da bancada e tem seu apoio nas eleições gerais. Seria um “deputado moderado, agradável a todos, de mais de dez mandatos”.
No ano passado, Otoni disse à Folha que ataques contra sua candidatura partiam de “um grupo minoritário que mostra o quão pequena passou a ser nossa capacidade de fazer política do ‘p’ maiúsculo”.
Enquanto disse que “a frente evangélica não é puxadinho do bolsonarismo”, do qual aliás já foi um fiel escudeiro, ele também afirmou que ela “não serve para atender a interesses do atual presidente”.
Sinalizou, no entanto, que Lula tem apreço seu. Disse que, se o rotularem de assecla do governo por prestigiar “políticas públicas que de alguma forma têm beneficiado nossa gente [os crentes], pois pegam a base da pirâmide social, aí eu não posso fazer nada”.
Otoni criticou a esquerda de forma geral, mas diz que não lhe cabe “ficar xingando Lula”, numa reprise do “comportamento beligerante que um dia já tive” contra o PT.
A aproximação de Otoni com o governo foi selada durante evento no Palácio do Planalto, em outubro, com integrantes da bancada evangélica do Congresso Nacional, durante cerimônia de sanção do Dia Nacional da Música Gospel.
O encontro ocorreu em meio a uma tentativa do governo de aproximar do segmento, que ainda hoje mantém fortes lanços com o bolsonarismo.
Na ocasião, o parlamentar fez diversos elogios a Lula e a suas políticas sociais. Dias depois, o presidente disse que o deputado estava sendo sendo triturado pelos bolsonaristas.