SÃO PAULO, SP 9FOLHAPRESS) – A Casa Branca disse nesta terça-feira (25) que vai passar a escolher que jornalistas podem participar da cobertura diária da agenda de Donald Trump, quebrando décadas de precedente que estabelecia um rodízio de veículos de imprensa que têm acesso direto ao presidente dos Estados Unidos.

Esse rodízio seleciona, todos os dias, 13 jornalistas que acompanham o chefe do Executivo em eventos situados em ambientes menores, como o Salão Oval da Casa Branca, e em viagens a bordo do avião presidencial, o Air Force One. Muitas vezes, são esses repórteres que primeiro relatam declarações de Trump ao mundo.

Três agências de notícias que distribuem seu conteúdo em tempo real para centenas de veículos em vários países, Reuters, Associated Press e Bloomberg, sempre têm um repórter no grupo -agora, isso deve mudar.

O rodízio era organizado pela Associação de Correspondentes da Casa Branca, uma entidade que reúne veículos como CNN, Reuters, The New York Times, Fox News, ABC News e Associated Press (AP), entre outros, e que elege seus membros por meio de voto de todos os repórteres que cobrem a Presidência.

A decisão do governo Trump significa que o Executivo terá controle sobre quem pode fazer perguntas ao presidente e faz parte de uma série de medidas hostis à mídia tradicional nos Estados Unidos, criticada com frequência pelo presidente há anos.

A medida foi anunciada depois que a Casa Branca impediu o acesso da agência de notícias Associated Press ao Salão Oval como represália pelo fato de que a empresa não vai alterar o nome do golfo do México para golfo da América em seu respeitado manual de Redação, utilizado por uma série de outros veículos de língua inglesa. Trump alterou a nomenclatura do acidente geográfico por decreto, em medida não reconhecida internacionalmente.

Em janeiro, a AP havia dito que a medida do presidente americano “só tem autoridade dentro dos EUA” e que, por isso, não alteraria seu manual. “O México, assim como outros países e órgãos internacionais, não reconheceram a mudança de nome.”

“O golfo do México tem esse nome há mais de 400 anos”, prosseguiu. “Como uma agência de notícias global que entrega conteúdo no mundo todo, a AP precisa se certificar de que lugares geográficos sejam facilmente reconhecidos por todas as pessoas.”

Na última sexta-feira (21), a agência processou membros do governo Trump pelo ocorrido, dizendo que a decisão de excluir os jornalistas da empresa do Salão Oval atenta contra liberdade de expressão e é inconstitucional. “A imprensa e todas as pessoas nos Estados Unidos têm o direito de escolher suas próprias palavras e não serem retaliadas pelo governo”, diz a agência na ação, apresentada no Tribunal Distrital dos EUA em Washington.

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que, ao escolher quais veículos participam da cobertura diária, o governo Trump quer dar espaço a “novos veículos”, como blogs, serviços de streaming e podcasts e, dessa forma, “devolver o poder ao povo americano”.

“A Associação de Correspondentes da Casa Branca não deveria ter um monopólio da decisão sobre quem tem acesso ao presidente diariamente”, afirmou Leavitt. “Todos os veículos, jornalistas e vozes merecem um espaço nesses momentos tão requisitados.” Ela prometeu que os novos nomes selecionados “serão perfeitamente capazes de cobrir as notícias do dia”.

“Empresas tradicionais que sempre estiveram aqui também vão poder participar”, acrescentou a secretária, “mas queremos acolher novas vozes” -de preferência, mais amigáveis à Casa Branca, temem jornalistas.

De acordo com o jornal The New York Times, o governo Trump criou um espaço para novos veículos na sala onde ocorrem as entrevistas coletivas com a secretária de Imprensa. Ele vem sendo ocupado por veículos novos, mas respeitados, como Axios e Semafor, e por outros abertamente trumpistas, como o podcaster Sage Steele.

A Associação de Correspondentes da Casa Branca, até aqui responsável por essa seleção, disse em nota que a medida “rasga a independência e a liberdade de imprensa nos EUA”. “Em um país livre, líderes não podem ter a capacidade de escolher os jornalistas que os cobrem.” A entidade disse que não foi avisada da mudança de precedente nem convidada para discutir a decisão, e se defendeu da acusação velada de que não dá espaço para novos veículos.

“Todos os anos, [a associação] convida novos membros e veículos emergentes a fim de possibilitar a inclusão de novas vozes. Ao decidir por nós mesmos como o rodízio funciona, podemos assegurar a qualidade profissional e o equilíbrio da cobertura a todos nossos leitores, ouvintes e telespectadores”, disse a entidade.