SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezenas de milhares de pessoas se reuniram nos arredores de Beirute neste domingo (23) para prestar homenagens ao líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma cerimônia fúnebre, quase cinco meses após ele ter sido morto em um ataque aéreo israelense.
Nasrallah, que liderou o grupo extremista xiita por décadas de conflito com Israel, morreu em um dos primeiros ataques realizados por Tel Aviv no Líbano, que mais tarde impactaram significativamente as forças do Hezbollah.
Carregando fotos de Nasrallah e bandeiras do Hezbollah, apoiadores se reuniram no início da manhã deste domingo no estádio Cidade Esportiva Camille Chamoun, com capacidade para 55 mil pessoas, que já estava quase lotado horas antes do início da cerimônia.
Após sua morte, Nasrallah foi enterrado temporariamente ao lado de seu filho, Hadi, que morreu durante um conflito, em 1997. O funeral oficial foi adiado para esperar a retirada das forças israelenses do sul do Líbano, conforme os termos de um cessar-fogo mediado pelos EUA.
Outros membros mortos do grupo também foram velados no estádio, situado no sul de Beirute, em uma área historicamente controlada pelo Hezbollah. Isso inclui Hashem Safieddine, que liderou o Hezbollah por uma semana após a morte de Nasrallah. Safieddine foi morto em um ataque israelense antes mesmo de ser publicamente anunciado como sucessor de Nasrallah.
O atual dirigente do grupo extremista, Naim Qasem, prometeu continuar a luta contra Israel, sob a presença de milhares de pessoas. “Nasrallah vive em nós”, disse Qasem em um discurso transmitido ao vivo pela televisão e telões.
Qasem também afirmou que a resistência contra Israel não terminou, e que o Hezbollah rejeita a interferência americana no Líbano.
Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** Um caminhão transportando os caixões de Nasrallah e Safieddine deu a volta no estádio, enquanto participantes vestidos de preto observavam com punhos erguidos, jogavam flores sobre os caixões e agitavam as bandeiras amarelas do Hezbollah.
Nas ruas adjacentes, 35 mil assentos foram instalados para homens e 25 mil para mulheres, com apoiadores do Hezbollah se aglomerando em frente a telas gigantes.
O esquema de segurança das autoridades libanesas envolveu 4.000 homens, segundo a agência de notícias AFP. Já o Hezbollah mobilizou 25 mil de seus homens para os arredores do estádio, de acordo com a estação de televisão Al-Manar, do Hezbollah. O tráfego aéreo do aeroporto foi suspenso por quatro horas.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, uma delegação iraquiana incluindo políticos xiitas e comandantes de milícias, além de uma delegação dos houthis do Iêmen, eram esperados no evento.
O funeral em massa é uma demonstração de força após o Hezbollah sair enfraquecido da guerra do ano passado contra Israel, que matou a maior parte de sua liderança, milhares de combatentes e deixou um rastro de destruição no sul do Líbano.
“Podemos ter perdido muito com um homem, mas não perdemos o valor da resistência porque a resistência continua firme”, disse Hassan Nasreddine, um libanês a caminho da cerimônia que vinha do sul do país.
O impacto no Hezbollah foi agravado pela queda de seu aliado Bashar al-Assad, na Síria, o que cortou uma importante rota de abastecimento.
Embora Israel tenha se retirado em boa parte do sul, suas tropas continuam ocupando cinco posições estratégicas na região. No domingo, Israel realizou ataques aéreos no sul do Líbano, alegando ter identificado atividades do Hezbollah.
O conflito se intensificou quando o Hezbollah declarou apoio ao seu aliado Hamas depois do ataque de 7 de outubro de 2023, que desencadeou uma guerra contra Israel.
Ao longo de 32 anos no comando do Hezbollah, Nasrallah transformou a milícia em uma força política influente dentro do Líbano e em uma ameaça militar considerável a Israel, um dos países com as Forças Armadas mais sofisticadas do mundo.