SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo Lula avalia retorno do horário de verão devido à seca e ao risco de racionamento. A medida, que adianta os relógios em uma hora, era adotada anualmente em partes do Brasil para diminuir o consumo de energia pelo melhor aproveitamento da luz natural, mas foi extinta em 2019, durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL).

O comércio anseia o retorno da medida, enquanto especialistas fazem ressalvas.

Segundo representantes do setor, o adiantamento impulsionaria os bares e restaurantes. Desde 2019, quando o horário de verão foi suspenso, a Abrasel defende sua retomada, sob os argumentos de que com mais horas de luz natural as pessoas tendem a passar mais tempo fora de casa, dedicando-se a atividades de lazer e consumo.

“Isso incentiva atividades econômicas e sociais durante esse período. Além disso, contribui para a redução do consumo de energia, o que é particularmente importante neste momento de aumento das tarifas”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.

Em bares e restaurantes, por exemplo, a associação estima que o horário de verão eleve o faturamento em até 15%. Ainda segundo estimativas de associações de lojistas no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, nos dias de horário de verão, há um aumento de faturamento por volta de 4% para as lojas de rua.

“A iniciativa faz com que as pessoas se divirtam por mais tempo em locais públicos”, afirma João Marcello Barreto, presidente da Orla Rio, que representa mais de 300 trailers e carrocinhas das praias cariocas. “É muito positivo para o Rio, para a orla e para os empreendedores, principalmente durante o fim de tarde.”

Em São Paulo, a vantagem também é operacional, segundo a ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Seu retorno representaria impulso não apenas para empreendedores, mas também para os consumidores, aliviando a demanda durante os horários de pico, diminuindo custos de produção, afirma.

Também promove sensação de segurança para as pessoas que desejam permanecer nas ruas, por exemplo, após o expediente de trabalho, argumenta o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine. “Com a possibilidade de aproveitar o horário estendido de luz natural, o turismo também é beneficiado.”

Especialistas, contudo, fazem ressalvas. Além de não gerar economia de energia como antes, a mudança pode gerar no curto prazo “risco de sonolência durante o dia, cansaço, prejuízo no desempenho cognitivo e de atenção, concentração, irritabilidade e alterações do apetite”, segundo Marcia Assis, médica neurologista e vice-presidente da Associação Brasileira do Sono.

As pessoas que já apresentam alguma doença do sono, como a insônia, e idosos podem ter mais dificuldade de adaptação e os sintomas diurnos podem ser mais intensos.

Uma hora a mais de escuridão para os trabalhadores que saem de madrugada também pode resultar em mais perigo. “Escuridão significa perigo, isso é fato. Mesmo de madrugada. Mas no fim da jornada, com a prolongação dos bares e restaurantes, a volta se torna um pouco mais segura”, explica Marcy José de Campos Verde, consultor de segurança.

“Meu conselho é: repense o trajeto. Se as vias que você percorre de manhã não possuem iluminação, é melhor ir por aquelas que têm, mesmo que isso signifique mais gasto de tempo”, diz.

Diferença entre estados

Quando era implementada, a medida alterava os relógios regiões de moradores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste –ampliando a distância de fuso horário de Brasília para aqueles adotados no padrão Amazonas (uma hora a menos) e no do Acre (duas horas a menos).

Por isso, comerciantes do Acre são contra a adoção da medida apenas para parte do país.

“Se tivermos horário de verão, que seja em todos os estados da Federação. Atualmente já temos dificuldades nos contatos com fornecedores dos Estados com mesmo fuso horário de Brasília. Com o retorno do horário de verão, o Acre ficará com 3 horas a menos que outros estados, vamos ter prejuízos, principalmente, no que diz respeito a contatos com fornecedores”, afirma a Acisa (Associação Comercial, Industrial, de Serviço e Agrícola do Acre).

“Claro, se o horário de verão prevalecer para o país todo, iremos iniciar mais cedo nosso trabalho, mas também encerrar mais cedo. Enfim, defendemos que o horário de verão seja para todos os estados”, diz a nota da entidade.