SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,56% nesta quinta-feira (12), a R$ 5,617, com investidores repercutindo uma nova bateria de dados domésticos e dos Estados Unidos, além do corte nos juros pelo BCE (Banco Central Europeu).

Já a Bolsa recuou 0,48%, aos 134.029 pontos, com os avanços firmes da Vale contrabalançados pela queda dos papéis da Petrobras.

O mercado analisou mais uma rodada de divulgações macroeconômicas em busca de sinais sobre as próximas decisões de política monetária, daqui e do exterior.

Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos ficaram em 230 mil na semana encerrada em 7 de setembro, em linha com o esperado e pouco acima dos 228 mil da leitura anterior.

O relatório, antes tido como secundário por operadores financeiros, passou a ser observado de perto em meio à mudança de foco do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) para as taxas de ocupação.

A autoridade monetária trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e trabalho para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

Na quarta-feira, o índice de preços ao consumidor (PCE, na sigla em inglês) mostrou que a inflação desacelerou na base anual para 2,5% em agosto, ante 2,9% em julho. O resultado mostra uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que, no mercado de trabalho, as últimas leituras têm indicado enfraquecimento.

A leitura dos investidores é que, para atingir o “pouso suave”, o Fed irá cortar os juros de forma gradual a partir da próxima reunião de política monetária, que acontece na semana que vem entre os dias 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado.

As apostas de um corte de 0,25 ponto percentual agora reúnem 87% dos agentes financeiros, segundo a ferramenta FedWatch, com os 13% restantes centrados na redução maior, de 0,50 ponto.

Ainda na cena externa, o BCE realizou um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, para 3,50%, em movimento amplamente esperado pelos investidores. No entanto, a autoridade monetária não indicou sinalizações sobre as decisões futuras.

“A reunião do BCE de hoje mostrou o que já se era esperado: autoridades seguindo o roteiro sem desviar do padrão de ‘dependência dos dados'”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

“Contudo, a revisão para baixo nas previsões de crescimento reforça nossa visão para a reunião do Fed de setembro, em que um corte de menor magnitude deve ser acompanhado por uma revisão considerável nas projeções, o que apoiaria o argumento de um dólar mais fraco”, completou.

O dólar, em tese, costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco.

Nesta quinta, a cena externa trouxe “melhora no apetite por risco, o que fez o real e outras moedas emergentes se valorizarem”, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

Para o real, há ainda outro fator de relevância: a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto. No acumulado do ano, passou a registrar uma inflação menor, de 4,24% -uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC.

A deflação não reverteu apostas de que a Selic irá subir 0,25 ponto já na próxima reunião do BC, também marcada para os dias 17 e 18 de agosto. A percepção do mercado foi reforçada com dados do setor de serviços, divulgados pelo IBGE na quarta, e vendas no varejo, nesta quinta.

A atividade do serviços subiu 1,2% em julho e renovou o patamar recorde, ante expectativa de recuo de 0,1%. Já no varejo, o avanço foi de 0,6%, ligeiramente acima da projeção de 0,5%, depois de retrair 0,9% em junho.

O resultado reforça o cenário de uma economia forte e aquecida, com potencial de gerar pressões inflacionárias nos próximos meses, o que reforça apostas de alta gradual na Selic.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Já na cena corporativa, Vale subiu 0,90% com apoio do minério de ferro no exterior, mas foi contrabalançada pelas perdas de mais de 1% dos papéis preferenciais e ordinários da Petrobras, após o banco Goldman Sachs cortar o preço-alvo das ações em 10% e revisar projeções de dividendos.

O Ibovespa ainda foi pressionado pelo setor bancário, com boa parte dos grandes bancos em fechando em queda firme.