LUCAS BOMBANA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos esportes mais vitoriosos do Brasil na história das Olimpíadas, com 19 medalhas desde a edição da Cidade do México, em 1968, a vela ganhará uma nova prova nos Jogos de Paris que pode render mais conquistas ao país.
O kitesurfe em que o atleta desliza sobre as águas em cima de uma prancha guiado por uma espécie de paraquedas fará sua primeira participação olímpica na França, com o Brasil representado pelo maranhense Bruno Lobo.
“Foi uma trajetória de muitos desafios, saí lá de São Luís, longe da maioria das competições, treinando só, mas a gente persistiu, conseguimos chegar até aqui e vamos com tudo”, diz Bruno Lobo à Folha. Ele garantiu vaga nas Olimpíadas no Mundial de 2023 da modalidade, em Haia, na Holanda, quando terminou na nona colocação.
Ortopedista, Lobo se afastou da atividade médica para se dedicar exclusivamente ao kite e realizar o sonho de infância de disputar uma Olimpíada.
As provas de kite serão entre 4 e 8 de agosto, com 16 regatas classificatórias e as semifinais e finais no último dia de competição. Os atletas percorrerão cerca de 10 km em cada regata, contornando boias posicionadas ao longo da Marina de Marselha, local da competição, com duração média de 15 minutos.
O atleta diz que a prática do kitesurfe começou como um hobby junto com o pai, mas, à medida que o esporte foi se desenvolvendo e ganhando novos praticantes, passou a se dedicar cada vez mais, com a conquista de campeonatos nacionais e internacionais o maranhense é oito vezes campeão brasileiro e duas vezes pan-americano.
Gerente de esportes da CBVela (Confederação Brasileira de Vela) e treinador de Bruno Lobo, o uruguaio Juan Sienra explica que, a depender das condições meteorológicas, os atletas podem atingir velocidades de até 70 km por hora a categoria mais veloz da vela.
“É um esporte de praia radical, de alta velocidade e com muita adrenalina”, afirma Sienra, em referência ao objetivo do COI (Comitê Olímpico Internacional) de trazer às Olimpíadas novas provas que atraiam um público mais jovem, caso do skate e do surfe em Tóquio.
Os equipamentos utilizados nas provas de kitesurfe são compostos pela prancha, que conta com um tipo de mastro embaixo que permite aos atletas flanar sobre a água, e o paraquedas (pipa) preso à cintura que dá a direção de acordo com os ventos. Devido à velocidade que os competidores podem atingir, há também equipamentos de segurança, como capacete e colete.
Segundo Sienra, ao longo do último ciclo olímpico, foi realizado um trabalho de adaptação ao formato das disputas em Paris. O kitesurfe foi historicamente disputado com os atletas ganhando impulso para fazer manobras acrobáticas no ar. Por isso, foram necessários treinamentos específicos para a disputa olímpica no formato de regatas, com adaptações no material utilizado e até no porte físico de Lobo.
Já sob o novo formato de disputa, o brasileiro foi bicampeão pan-americano, em Lima (2019) e Santiago (2023), e está na disputa pelo pódio na França. Segundo o gerente da CBVela, entre os favoritos ao ouro, estão Maximilian Maeder, de Cingapura, atual campeão mundial de apenas 17 anos, e Riccardo Pianosi, da Itália, vice-campeão mundial.
REVEZAMENTO MISTO POR EQUIDADE DE GÊNERO NAS OLIMPÍADAS
Além do kitesurfe, haverá também pela primeira vez nos Jogos o revezamento misto da marcha atlética, modalidade presente desde as Olimpíadas de Londres, em 1908. O Brasil estará na disputa com Caio Bonfim e Viviane Lyra, bronze na prova nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023.
A nova prova entra no lugar da disputa masculina de 50 km da marcha atlética, no âmbito dos esforços do COI de promover a primeira Olimpíada com o mesmo número de homens e mulheres.
As duplas percorrerão os 42,195 km se revezando, cada um correndo cerca de 10 km em cada trecho, com os homens iniciando a prova e as mulheres encerrando a disputa.
A dupla brasileira alcançou a quinta colocação no Mundial de Marcha Atlética realizado em abril, na Turquia, e chega para a competição em Paris entre os candidatos ao pódio.
“Olimpíada é sonho, trabalhamos muito e o que eu posso prometer é muita dedicação, e que a gente possa passar a linha de chegada, olhar para trás e saber que tudo foi entregue. É com esse sentimento que queremos concluir essa Olimpíada”, afirma Bonfim.
Segundo Gianetti Bonfim, mãe e treinadora de Caio, a nova prova exige uma atenção especial aos intervalos em que os atletas estarão em repouso, com a necessidade de alongamentos a todo momento para manter o corpo aquecido.
Ela diz que, considerado apenas o aspecto esportivo e o preparo dos atletas, a medalha brasileira no revezamento seria “praticamente certa”. Há, contudo, a avaliação dos árbitros, que, de acordo com a treinadora, muitas vezes pode ser subjetiva.
Gianetti cita o Mundial da Turquia, em que a dupla brasileira liderava a prova, mas acabou punida pelos árbitros e perdeu quatro posições. Na marcha atlética, o atleta não pode perder contato com o solo em nenhum momento e tampouco flexionar as pernas a cada passada, com árbitros posicionados ao longo do percurso para avaliar se as regras estão sendo cumpridas.
Os árbitros alegaram que Viviane teria perdido contato com o solo, o que ocasionou em uma punição em que o atleta tem de ficar em uma área de espera por dois minutos. Após a prova, a equipe brasileira reviu a disputa e não percebeu nenhuma irregularidade, mas, diferentemente do futebol que hoje tem o VAR, na marcha atlética a decisão do árbitro é soberana, sem qualquer possibilidade de recurso.
O revezamento misto da marcha atlética acontece no dia 7 de agosto, na região de Trocadéro, em Paris, no entorno da Torre Eiffel.