PEDRO TEIXEIRA E LAURA A. INTRIERI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 – O jogo do tigrinho não se espalha só por sites, mas também por aplicativos de smartphone, deixando usuários expostos a golpes e vírus.
Entre 2.217 publicações promovidas no Instagram, Facebook e WhatsApp encontradas pela Folha nos 20 primeiros dias de junho, 420 tinham links para a Play Store, a loja de apps para Android, ou sites falsos se passando por ela.
Os sites fraudulentos que imitam o visual da Play Store tentam distribuir os apps sem moderação.
Aplicativos ofertados fora de lojas oficiais representam perigos financeiros e de privacidade, segundo analistas de segurança consultados pela reportagem. Mesmo sem arquivos maliciosos, as aplicações podem abrir portas para golpes.
“Basta direcionar pagamentos para uma conta Pix de um laranja e, quando o usuário pedir a retirada de créditos, o site mostrar uma mensagem erro”, diz Lucas Lago, desenvolvedor de software e membro do Instituto Aaron Swartz.
Com os aplicativos, desenvolvedores aumentam o alcance do jogo, distribuído no país a partir de uma brecha na regulação, sobretudo para as pessoas mais pobres.
A versão para navegador de aplicativo tende a ter desempenho pior do que os apps próprios, em especial nos celulares menos potentes, segundo o especialista de cibersegurança Alessandro Marques, da empresa AddValue.
Além disso, é mais difícil fiscalizar aplicações instaladas localmente nos aparelhos, do que as disponíveis em sites públicos. Hoje, as duas principais lojas de apps, de Google e Apple, proíbem jogos com apostas em dinheiro.
Nos links que levam a endereços legítimos da Play Store, a maioria dos aplicativos já havia sido removida pela equipe de moderação do Google por violação aos termos de uso.
Os apps encontrados pela Folha nos portais falsos são feitos para versões anteriores do Android que são usadas, em geral, em celulares mais baratos.
A reportagem realizou testes e constatou que as últimas três versões para Android não abrem o aplicativo que mais apareceu em campanhas nas redes sociais da Meta, 34 vezes.
“Logo, o perfil de quem é o alvo está bem claro”, diz Marques, em referência ao público mais pobre que ainda mantém smartphones de gerações anteriores.
O anúncio em questão se apoiava na credibilidade da loja oficial do Google e dizia: “Fortune Tiger -Apps no Google Play.”
O aplicativo rodou em uma versão do Android 11, de 2020, presente em celulares de entrada de três anos atrás. A interface pedia cadastro para jogar o caça-níqueis do “jogo do tigrinho”, sem dar informações sobre a casa de aposta.