PEDRO MARTINS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de dois anos e meio depois de tornar pública sua acusação de plágio contra Adele, o compositor brasileiro Toninho Geraes processou a cantora britânica. Ele pede R$ 1 milhão de indenização a ela, seu produtor e três gravadoras que representam a obra da artista, entre as quais Sony e Universal, que têm sedes no Brasil.

O processo diz respeito à música “Million Years Ago”, que o compositor afirma ter a mesma melodia de “Mulheres”, mais conhecida na voz de Martinho da Vila. Geraes quer receber todo o valor que Adele lucrou com a faixa, que faz parte de seu penúltimo álbum, “25”, lançado há nove anos.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa da cantora e de seu produtor, Greg Kurstin. A Sony afirmou que não comenta o caso, e a Universal, contatada na tarde de segunda-feira por e-mail, não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

Advogado do compositor, Fredímio Trotta diz que, antes de processar Adele, tentou um acordo extrajudicial, mas a artista não se manifestou, e suas gravadoras disseram não ter responsabilidade sobre a composição da obra, apenas sobre sua distribuição.

Segundo o advogado, no entanto, as empresas têm de ser responsabilizadas porque também lucraram com o suposto plágio, ainda que possam não ter tido essa intenção.

Trotta também atribui o tempo levado para ingressar na Justiça à produção de análises das partituras de ambas as canções, que são suas principais evidências para sustentar o plágio, junto de vídeos que sobrepõem uma faixa à outra.

Há ainda outros indícios em sua petição, como o produtor de Adele ter estudado MPB e uma das professoras de educação física da artista ser brasileira, o que levaria, em sua visão, a artista ter conhecido “Mulheres”.

A indenização diz respeito apenas a danos morais. O valor relacionado aos direitos autorais que teriam sido violados ainda são incalculáveis, por depender de dados sigilosos de vendas e audiência, aos quais ele só terá acesso mediante a um mandado da Justiça.

O processo foi protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em fevereiro e está em tramitação de uma vara para outra, onde Geraes já move um processo contra a Universal, responsável por “Mulheres”, sob a acusação de não o ajudar a cobrar seus direitos autorais da britânica.

Segundo Trotta, não há uma previsão para a Justiça analisar a petição e marcar uma audiência, mas ele diz ter pedido urgência, conforme previsto na legislação, por seu cliente já ser idoso —Geraes tem 62 anos.

Ele afirma ainda que decidiu processar Adele no Brasil, e não no Reino Unido, porque o compositor não teria condições de arcar com as custas processuais no exterior.

Trotta diz não ter dúvida de que ganhará o processo. Seu cliente, ele lembra, não é o primeiro a processar um artistas estangeiro por plágio.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Rod Stewart, processado por copiar a melodia de “Taj Mahal”, de Jorge Ben Jor, em “Do Ya Think I’m Sexy”. Stewart teria composto o hit após passar um Carnaval no Rio de Janeiro, na década de 1970, e Ben Jor saiu vitorioso dos tribunais.

O inverso também já aconteceu, principalmente na era dos samples —como é chamada a reprodução do trecho de uma música já existente noutra, seja no puro copia e cola, seja a partir de novos arranjos.

Ainda no ano passado, Nelly Furtado pediu dinheiro à cantora Treyce, recém-alçada à fama, por copiar a melodia de “Say It Right” no refrão de “Lovezinho”, um dos hits do Carnaval retrasado.

Antes, em 2021, a dupla Ávine e Matheus Fernandes teve de compartilhar o valor que ganharam com seu hit “Coração Cachorro” com James Blunt, por terem copiado o uivo de “Same Mistake”, que ficou famosa no Brasil nos anos 2000 por ter feito parte de trilha sonora da novela “Duas Caras”, de Aguinaldo Silva, na TV Globo.