JOÃO GABRIEL DE LIMA

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LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – João Gabriel de Lima Lisboa “A Europa precisa de uma limpeza.” Este é o slogan do partido Chega, da ultradireita portuguesa, em seu programa eleitoral para o Parlamento Europeu. Num evento no último dia 19 em Madri, o líder da legenda, André Ventura, deu o tom da campanha: “Não podemos ter essa entrada massiva de imigrantes islâmicos e muçulmanos na Europa”.

Ventura foi aplaudido no encontro Viva 24, promovido pelo partido Vox, da ultradireita espanhola, que reuniu representantes de várias siglas do mesmo espectro ideológico. A ultradireita europeia vem atuando em bloco para aumentar sua representação no Parlamento.

O Chega é famoso pelas bravatas xenófobas desde que o partido foi fundado, em 2019, época em que seu líder criticava e ofendia a comunidade cigana em Portugal.

Causou surpresa, assim, a declaração do vice-líder do partido, António Tânger Correa, num debate entre candidatos ao Parlamento Europeu: “Há uma imigração que consideramos excelente, que são os brasileiros. Os brasileiros durante bastante tempo melhoraram, em muito, a parte comercial em Portugal, com um atendimento muito melhor e muito mais humano do que tínhamos antigamente”.

O que estaria levando o Chega a poupar os brasileiros no discurso anti-imigração? “Há basicamente dois fatores”, diz o cientista político italiano Riccardo Marchi, autor do livro “A Nova Direita Antissistema – o Caso Chega”.

“O Chega tem sido financiado por pequenos empresários, muitos deles do setor de restaurantes do sul do país. Esses empresários têm dito a Ventura que precisam dos imigrantes brasileiros.” O Chega foi o partido mais votado em Faro, capital da região do Algarve, ao sul de Portugal –destino turístico favorito de europeus do norte em busca de praias ensolaradas.

Entre os cerca de 400 mil brasileiros que vivem atualmente em Portugal com documentos regularizados, muitos efetivamente trabalham em hotéis e restaurantes –o tal “atendimento mais humano”. Um relatório do Observatório das Migrações, no entanto, mostra um número cada vez maior de brasileiros entre empresários e profissionais liberais.

O segundo fator seria religioso. “Muitos dos fundadores do Chega foram influenciados por pregadores evangélicos brasileiros, que acompanhavam através do YouTube”, diz Marchi. “E hoje são os evangélicos brasileiros que procuram o Chega, convidando os políticos do partido a conhecer os templos.”

Outra explicação para a boa vontade do Chega com os brasileiros é a proximidade cada vez maior entre André Ventura e Jair Bolsonaro. Ventura publicou vídeos de apoio ao brasileiro na campanha presidencial de 2022, e Bolsonaro retribuiu a gentileza nas eleições legislativas de 2023 –em que o Chega tornou-se o terceiro partido de Portugal. Na ocasião, o Chega elegeu um brasileiro com cidadania portuguesa, Marcus Santos, à Assembleia da República. Santos disse em entrevistas que despertou para a militância política ao frequentar comícios de Bolsonaro no Brasil. Os afagos não impedem que alguns eleitores do Chega ofendam os imigrantes brasileiros. Marcus Santos, que é negro, já foi vítima de memes racistas na internet. O bordão “volta para a tua terra” ainda é recorrente na caixa de comentários quando o Chega posta vídeos sobre brasileiros em seu canal do YouTube. No Viva 24, em Madri, André Ventura encerrou sua fala com uma peroração anticorrupção: “Como dizem nossos amigos brasileiros, lugar de bandido é na cadeia”.

A questão da imigração, no entanto, ainda é a principal bandeira do partido na campanha europeia. O tema não é tão forte em Portugal quanto em países como França e Holanda, mas vem ganhando espaço no rastro de episódios de violência. Há duas semanas, imigrantes argelinos e marroquinos foram agredidos na cidade do Porto por extremistas de ultradireita. Capturados pela polícia, alguns dos agressores confessaram a motivação racista dos ataques.

Grupos religiosos que são vítimas de violência acusam o Chega de estimular esse tipo de agressão. Na mesma época dos episódios do Porto, viralizou nas redes sociais um vídeo que mostra um homem no metrô de Lisboa portando um kirpan, pequeno punhal curvo que é um símbolo da religião sikh.

Ao comentar as imagens do vídeo, Ventura se queixou da “insegurança cada vez maior” nas ruas de Lisboa –recorrentemente apontada como uma das capitais mais seguras da Europa.

Em encontro na Assembleia da República promovido pela sigla Bloco de Esquerda, Sukhwinder Singh Jolly, um dos líderes da comunidade sikh de Lisboa, disse que “uma desconfiança está a ser plantada”. A lei portuguesa proíbe o porte de armas brancas, mas abre exceções para peças de valor histórico ou religioso. Um portal da comunidade sikh recomenda que os adeptos da religião usem o kirpan por baixo da roupa.

Outra explicação para a boa vontade do Chega com os brasileiros é a proximidade cada vez maior entre André Ventura e Jair Bolsonaro.

Ventura publicou vídeos de apoio ao brasileiro na campanha presidencial de 2022, e Bolsonaro retribuiu a gentileza nas eleições legislativas de 2023 –em que o Chega elegeu uma bancada de 50 deputados num universo de 230, tornando-se o terceiro partido de Portugal.

Na ocasião, o Chega elegeu um brasileiro com cidadania portuguesa, Marcus Santos, à Assembleia da República. Santos disse em entrevistas que despertou para a militância política ao frequentar comícios de Bolsonaro no Brasil.

Os afagos não impedem que alguns eleitores do Chega ofendam os imigrantes brasileiros. Marcus Santos, que é negro, já foi vítima de memes racistas na internet. O bordão “volta para a tua terra” ainda é recorrente na caixa de comentários quando o Chega posta vídeos sobre brasileiros em seu canal do YouTube.

No Viva 24, em Madri, André Ventura encerrou sua fala com uma peroração anticorrupção: “Como dizem nossos amigos brasileiros, lugar de bandido é na cadeia”. Desta vez não houve bordões contra brasileiros no canal do Chega no YouTube.