Berinjela à moda do Afeganistão 

MARCOS NOGUEIRA

Um dos vícios do cozinheiro solitário é a monotonia. Quem mora sozinho tende a cozinhar sempre as mesmas coisas, por inércia, comodidade e porque não tem ninguém por perto para reclamar. Eu preciso me vigiar para não comer macarrão todo santo dia. Isso não faz bem.

Ao abraçar esta coluna, propus a mim mesmo o desafio de procurar receitas que fogem do lugar-comum, mas que são simples e têm ingredientes acessíveis. Nada de atravessar a cidade para comprar um tempero exótico e caro.

Busco inspiração no noticiário e nas coisas que caem no meu colo, aleatoriamente, via internet.

O Afeganistão ressurgiu na pauta e nas telas brasileiras depois de muito tempo sumido. O motivo é o pior possível: desastre humanitário. É estranho ouvir falar tanto de um país que conhecemos tão pouco.

A comunidade afegã, por aqui, é muito pequena. Só correspondentes de guerra viajam ao Afeganistão. Como os afegãos vivem? O que eles comem? Fui pesquisar.

A cozinha afegã reúne influências de duas escolas culinárias fortíssimas: a turca, a oeste, e a indiana, ao sul.

Os turcos tiveram um império que ia do norte de África ao Iraque, pegando todo o Oriente Médio. Um prato onipresente em toda a região é o kebab, categoria de grelhados que inclui a cafta, de carne moída –no Afeganistão, “kofta”.

Já a influência da Índia vem pelo vizinho Paquistão, de numerosa população pashtun –é a etnia predominante em terra afegã. Manifesta-se com o uso intenso de especiarias aromáticas e pimentas.

Turcos, indianos e afegãos são fãs da berinjela e do iogurte. São esses os dois principais elementos do prato que eu vou apresentar hoje: o banjan borani.

É uma receita ótima para dias quentes, pois pode ser comida em temperatura ambiente, com pão sírio (ou árabe) ou qualquer tipo de pão. Ou arroz.

Berinjela e iogurte são coisas que estamos acostumados a comer, só que não juntas. Aposto que, após provar, você vai querer banjan borani toda semana.

A preparação que eu apresento é uma mistura de receitas que eu pesquisei em sites paquistaneses, americanos e australianos. Algumas delas recomendam a berinjela chinesa, pequena e comprida, com menos sementes. Eu usei essa e deu certo, mas compre a que encontrar.

Você pode descascar ou não a berinjela, cortá-la em rodelas ou na transversal. As receitas pesquisadas mandavam fritá-la, mas eu acho sacanagem recomendar tal coisa para quem mora só: grelhada, funciona perfeitamente e não fica encharcada.

Por último, um toque sobre o iogurte: leia bem a embalagem, pois muito iogurte “natural” já vem adoçado. Fuja do iogurte adoçado.

BANJAN BORANI

​Ingredientes

1 berinjela grande (comum) ou 2 pequenas (japonesas), em fatias

1 pote de iogurte natural (170 g)

2 dentes de alho triturados

Óleo vegetal (quanto baste)

1 cebola

2 tomates maduros picados

1 pimenta dedo-de-moça (opcional) picada

1 colher (chá) de cúrcuma (açafrão da terra)

1 colher (café) de páprica doce

1 pitada de semente de coentro moída

1 pitada de pimenta caiena em pó (opcional)

Sal, pimenta-do-reino, hortelã seca e coentro verde a gosto

MODO DE FAZER

Salgue as fatias de berinjela e deixe-as desidratar por 1 hora.

Misture o iogurte com metade do alho e sal. Reserve.

Aqueça uma grelha ou frigideira em fogo médio. Seque as fatias de berinjela e besunte com óleo para não grudar na grelha.

Corte a cebola ao meio no sentido longitudinal. Pique uma das metades (reserve) e separe as “pétalas” da outra. Grelhe as pétalas de cebola até ficar macias e levemente tostadas.

Grelhe também as fatias de berinjela, sem nunca as sobrepor, por 3 ou 4 minutos de cada lado. Reserve.

Aqueça 1 colher (sopa) de óleo e refogue o alho e a cebola restantes, a pimenta e o tomate por 5 minutos (ou até o tomate começar a se desmanchar). Tempere com sal, pimenta-do-reino, cúrcuma, coentro em pó e pimenta caiena.

Coloque a berinjela sobre o molho de tomate, tampe a panela e deixe em fogo baixo por 5 a 7 minutos, sem mexer.

Num prato, faça as seguintes camadas: molho de iogurte, berinjela e molho de tomate e a cebola grelhada. Salpique hortelã e/ou coentro. Coma com pão árabe ou arroz, quente ou em temperatura ambiente.