LEONARDO VIECELI

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O setor de turismo sente um baque com os impactos das enxurradas no Rio Grande do Sul. As enchentes de proporções históricas bloquearam estradas e paralisaram o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, o que trava o fluxo de visitantes.

Com a catástrofe climática, hotéis de municípios como Gramado (a cerca de 120 km da capital), tradicional destino turístico da serra gaúcha, passaram a registrar cancelamentos e remarcações de reservas nos últimos dias.

“A situação é muito problemática em razão do que está acontecendo no estado. Com o aeroporto fechado, a movimentação diminui muito. Neste momento, com o estado em calamidade, nem podemos pensar em fluxo turístico”, diz Claudio Souza, presidente do Sindtur Serra Gaúcha.

A entidade empresarial representa negócios como hotéis, restaurantes, bares e parques nos municípios de Canela, Gramado, São Francisco de Paula e Nova Petrópolis.

Souza estima que 85% das reservas de hotéis em maio sejam canceladas ou remarcadas (postergadas).

“Acessos rodoviários estão liberados, a cidade [Gramado] está funcionando. Temos parques abertos, não foram afetados. Mas nosso maior problema hoje é a malha aérea”, afirma.

O Salgado Filho interrompeu pousos e decolagens na sexta-feira (3). A pista e as áreas internas do terminal ficaram alagadas.

A concessionária Fraport Brasil, responsável pelo aeroporto, indicou que ainda não há uma data prevista para a reabertura, mas companhias aéreas já anunciaram a suspensão de voos até 30 de maio.

Para tentar mitigar os impactos, o governo federal e companhias aéreas planejam a ampliação de voos em aeroportos regionais.

“As estradas estão sendo liberadas aos poucos. A principal questão agora é a do aeroporto”, diz Cristiane Mörs, diretora de vendas e marketing da rede de hotéis Laghetto, cuja operação está mais concentrada na serra gaúcha.

Segundo a executiva, de 30% a 40% das reservas foram canceladas ou remarcadas nos últimos dias, o que traz preocupação.

Ela também afirma que funcionários da rede foram prejudicados pelas enchentes. “Temos colaboradores que, infelizmente, foram muito afetados.”

Para o economista Fabio Pesavento, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em Porto Alegre, o principal problema que atinge o turismo gaúcho no momento é o prejuízo de infraestrutura causado pelas chuvas, o que inclui o fechamento do Salgado Filho e os danos a estradas no interior.

Outras possíveis dificuldades mais à frente são a perda de renda ocasionada pela enchente a moradores gaúchos e os eventuais traumas no imaginário de visitantes de fora do estado.

“Não sabemos ainda a dimensão de tudo isso. E se a pessoa ficar assustada e não quiser mais fazer turismo aqui?”, questiona.

O economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), diz que o turismo não fica imune à fase inicial da crise no estado, mas vê potencial de o setor até se recuperar antes de outras atividades.

Isso pode acontecer, segundo ele, porque os danos das enchentes parecem menores na estrutura de empreendimentos turísticos do que em parte da indústria ou da agropecuária, por exemplo.

“A temporada de inverno mal se abriu, é possível que ele [turismo] seja um líder na reação da economia gaúcha”, declara Moraes.

O professor também destaca o potencial turístico da região das Missões, no Noroeste gaúcho, mais afastado das enchentes que castigam áreas como a região metropolitana de Porto Alegre.

Para Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-RS, a recuperação da infraestrutura logística deve ser uma das prioridades no estado após as enchentes.

“A infraestrutura do Rio Grande do Sul não se recupera sem uma ajuda colossal por parte do governo federal”, afirma Bohn, que cita as perdas em estradas e pontes com as enxurradas.

Outra preocupação, indica, é com o poder de consumo da população local após a tragédia. “Nosso turismo vai devagar quando não se tem muita renda.”

A reportagem também questionou a plataforma Airbnb se as enchentes estão gerando cancelamentos de reservas de acomodações no Rio Grande do Sul. A empresa não deu detalhes.

Respondeu somente a uma parte dos questionamentos, dizendo ter uma política de “grandes eventos disruptivos” aplicada em situações imprevistas após a confirmação de uma reserva. Desastres naturais fazem parte da lista.

“Quando esta política permite cancelamentos, ela controla e prevalece sobre a política de cancelamento da reserva. Os hóspedes afetados por um evento coberto por esta política podem cancelar a reserva e receber, dependendo das circunstâncias, um reembolso em dinheiro, crédito de viagem e/ou outra compensação. Os anfitriões afetados por um evento coberto por esta política podem cancelar sem penalidades”, disse a plataforma.

Com o fechamento do Salgado Filho, companhias aéreas anunciaram voos adicionais para outros pontos da região Sul.

A Latam, por exemplo, disse na quarta (8) que definiu uma malha aérea emergencial que adiciona 46 voos extras semanais entre São Paulo e os aeroportos de Jaguaruna (SC), Florianópolis (SC) e Caxias do Sul (RS). O plano vale a partir desta sexta-feira (10).

A Azul, por sua vez, anunciou que realizará 18 voos extras entre esta quinta (9) e a terça (14). Os trechos são entre o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e as cidades gaúchas de Santo Ângelo e Santa Maria, além de rota entre Curitiba (PR) e Uruguaiana, também no Rio Grande do Sul.

Os voos extras já estão à venda, segundo a Azul. “As operações têm como objetivo oferecer mais opções para clientes que estão no Rio Grande do Sul, já que os voos no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, estão suspensos até o dia 30 de maio”, diz a empresa.

A reportagem também consultou a Gol, mas não recebeu retorno até o fechamento deste texto.