SAMUEL FERNANDES

PARIS, FRANÇA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prep (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição) são dois métodos parecidos: baseadas em antirretrovirais, elas são duas estratégias disponibilizadas gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para evitar novos casos de HIV. No entanto, as situações em que um ou outro método é recomendado são diferentes, podendo gerar dúvidas.

Alexandre Grangeiro, ex-diretor do programa nacional de HIV/Aids e pesquisador científico da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), afirma que a PEP é utilizada “para complementar o uso de um outro método quando ele falha”.

A mesma recomendação é feita pelo Ministério da Saúde, que informou à reportagem que a PEP “é uma medida de prevenção de urgência”.

O método deve ser iniciado em até 72 horas após uma exposição de risco -por exemplo, a camisinha romper durante o sexo- e quando o usuário tem resultado negativo para teste de HIV. Por 28 dias, a pessoa fará um tratamento com antirretrovirais, sendo que deve ocorrer acompanhamento pelos agentes de saúde durante esse período.

Já a Prep é um método que evita a infecção por HIV antes do contato com o vírus. Também baseada em antirretrovirais, ela é disponibilizada em duas formas: diária, em que o usuário toma o medicamento todos os dias, e sob demanda, que consiste em tomar dois comprimidos no mínimo duas horas antes da relação sexual e outras duas pílulas dividida entre as próximas 24 e 48 horas depois da primeira ingestão.

Escolher entre um ou outro método é algo que depende principalmente da pessoa e de qual dos dois melhor se insere na sua vida, afirma Rico Vasconcelos, médico infectologista e pesquisador da FMUSP. A percepção também é válida para outras formas de prevenir a infecção, como a camisinha. “Não importa quais são os métodos de prevenção que a pessoa vai escolher, eles só vão funcionar se ela usar direito.”

No entanto, o médico afirma que também é necessário entender detalhes que indicam as probabilidades de alguém vir a se infectar pelo HIV. Por exemplo, o uso constante de preservativo e o número de parceiros sexuais são dois desses fatores. Se uma pessoa usa a camisinha rotineiramente e tem poucos parceiros, o risco de infecção é mais baixo. Além disso, qualquer pessoa pode viver com o HIV, mas alguns grupos ainda concentram um número maior de casos, como homens que fazem sexo com outros homens e pessoas transsexuais.

A decisão de qual método adotar leva em consideração esses fatores. “De forma bem simplificada, uma pessoa que tem vida sexual ativa e que não consegue usar a camisinha em todas as suas relações do começo ao fim, é uma pessoa que minimamente tem que saber que existe PrEP e PEP”, diz Vasconcelos.

Mas existem casos em que o uso da PrEP pode ser mais indicado. Um deles é quando a pessoa utiliza a PEP de forma recorrente. “Se a pessoa estiver fazendo o uso da PEP com uma certa regularidade pode, então, com aconselhamento de saúde, considerar a possibilidade de usar a PrEP”, diz Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) no Brasil.

Embora com uma alta taxa de eficácia quando utilizada corretamente, a PEP não tem grande predominância no Brasil, é o que avaliam os especialistas ouvidos pela pela reportagem. Segundo Vasconcelos, existe uma brincadeira de dizer que a PEP é o “patinho feio” frente a outros métodos de prevenir o HIV, como camisinha, tratamento de pessoas que vivem com o vírus e a PrEP.

Granjeiro aponta algumas razões que explicam tal cenário. Uma delas é a burocracia: para utilizar somente uma vez, é necessário ir a um serviço de saúde que conte com o medicamento, fazer um teste de HIV, esperar o resultado e, em caso negativo, só então pegar o medicamento. Ao fim dos 28 dias, o usuário ainda precisa retornar para fazer um novo exame. Se precisar utilizar novamente a PEP, todo o ritual se repete.

Toda essa dificuldade de acessar o método desestimula possíveis usuários que precisariam tomar a PEP após uma exposição de risco. “O método é altamente eficaz, mas como o uso dele é menos conveniente, as pessoas não usam, e ele tem um menor impacto do ponto de vista populacional”, explica Grangeiro.

Além da burocracia, outro problema é que a dificuldade do acesso começa com a baixa disponibilidade de centros que distribuem a PEP. Em alguns estados, o cenário é mais crítico: em Alagoas, por exemplo, só existem três locais que distribuem o método, de acordo com dados do Painel PEP, do Ministério da Saúde.

Mas esse imbróglio não é restrito à PEP, já que a PrEP também ainda tem baixa disponibilização em muitas regiões do país. Para Vasconcelos, isso é um problema, já que “usar verba para educação sexual, com informação e acesso à PrEP é muito mais interessante do que garantir PEP para todo mundo”.

O médico faz um paralelo com métodos contraceptivos: é muito melhor disponibilizar anticoncepcionais, DIU (dispositivo intrauterino) e estratégias de planejamento familiar do que dar prioridade à pílula do dia seguinte, por exemplo.

Em resposta à reportagem, o Ministério da Saúde cita uma nota técnica direcionada a municípios e estados a fim de cadastrar novas unidades que possam disponibilizar a PrEP e a PEP para a população. Tais locais não precisam ser serviços especializados nos atendimentos relacionados com ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), o que pode aumentar o “número de pessoas que possam se beneficiar das profilaxias”.

A pasta também diz que a prevenção combinada, que envolve diferentes métodos adotados em conjunto, é a principal estratégia recomendada para evitar novos casos de HIV, sendo a PrEP e PEP dois desses mecanismos.