SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Sergio Caetano, afirmou nesta sexta-feira (8), em conferência com investidores e analistas, que os dividendos extraordinários da estatal retidos no ano de 2023 não serão redirecionados para investimentos, como foi cogitado pelo mercado.

Reforçou que a finalidade é assegurar recursos para o pagamento de dividendos, juros sobre o capital próprio, suas antecipações e recompras de ações.

No entanto, afirmou que não foi fixado um prazo para o pagamento, que ainda está em análise. “Recursos podem passar para dividendos a qualquer momento”, destacou Caetano.

Na noite de quinta-feira (7), a petroleira anunciou que o lucro remanescente do exercício de 2023, após os dividendos e formação de reservas legais e estatutária, totalizou R$ 43,9 bilhões.

O comunicado, no entanto, destacou que o conselho de administração havia recomendado que esse montante fosse integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital, como previsto no estatuto social da companhia.

“A reserva foi criada para equalizar pagamento de dividendos. Essa reserva não será destinada para investimentos. Não é para acordo tributário ou para fusão. Não está destinada para tapar prejuízo, que não está no cenários”, afirmou.

“Foi destinada para dividendos e será usada para dividendos”, afirmou Caetano.

O executivo também reforçou que não haverá mudança na política de remuneração dos acionistas. “Não há nenhuma indicação para que isso aconteça.

Em diferentes momentos em que tratou do tema dos dividendos ao longo do dia, os executivos reforçaram que o conselho opção por fazer a reserva de 100% dos recursos observando o cenário de fortes investimentos para 2024 e 2025, detalhados no plano da companhia, e considerou mais prudente fazer a reserva com a totalidade do capital.

No entanto, negaram que exista a expectativa de prejuízo nesse período, que possa comprometer a geração de novos dividendos.

Segundo Caetano, o aumento do endividamento bruto no ano passado, da ordem de 8%, fica dentro do limite e foi feito dentro de uma estratégia para antecipar ganhos.

“Controle de dívida é uma prioridade, e não vamos superar o limite de R$ 65 bilhões”, afirmou.

Segundo ele, esse aumento refletiu, em parte, o efeito da inflação global na contratação de bens e equipamentos e também a antecipação de custos para viabilizar a entrada em operação de uma plataforma.

“Vamos gerar uma curva de aumento de produção óleo e gás, é um endividamento produtivo”, afirmou.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, reforçou que o valor de reserva também não será destinado para o pagamento de dívida, como foi ventilado em alguns segmentos de mercado na manhã desta sexta.

Prates complementou que um dos acionistas relevantes da estatal é a União, e que ela também não receberá o recurso.

Os investidores também quiseram entender o processo de decisão e a lógica dos integrantes do conselho para reter os dividendos extraordinários, bem como a participação do governo na decisão. Os executivos, porém, disseram que não poderiam comentar os detalhes.

Prates, no entanto, negou de forma veemente que tenha ameaçado entregar o cargo por entrar em desacordos com o conselho sobre o pagamento de dividendos, informação que chegou a circular.

“É uma novela danada. A pessoa [que disse isso] tem uma criatividade gigantesca”, afirmou.

“A minha tendência sempre é responder que não comento reuniões de conselho. Essas reuniões sempre geram duas coisas, além de resultados: falsas informações e vazamentos. São coisas diferentes, vazar o que aconteceu e criar encima do que não aconteceu. Nesse caso, claramente, criou-se encima do que não aconteceu.”

Ele reforçou que “absolutamente não coloquei o cargo à disposição, e não colocaria numa reunião de conselho menos ainda”. Na sua avaliação, os comentários nessa linha faziam parte da tentativa de insinuar que ele tinha conluio com acionistas, algo sem sentido para um profissional com seu histórico, sem nenhuma relação com pessoas do mercado financeiro, afirmou.

“Vamos esclarecer: a proposta da diretoria que subiu para o conselho era salomônica: 50%-50%”, afirmou.

“Nosso racional era que se a gente teve um bom resultado, com um volume de caixa bem acima do mínimo, era possível dividir. Uma parte ia para reserva, outra parte se somaria aos dividendos ordinários. Foi colocada em votação, e essa proposta perdeu. Foi uma movimentação normal do conselho que nós acatamos.”

Os analistas financeiros aguardavam a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários, permitidos pelo estatuto e endossados pela diretoria, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo ainda na quinta-feira (7). Não estava no radar da maioria que o conselho poderia barrar a sugestão da diretoria.

A retenção dos dividendos extraordinários levou a forte queda das ações nesta sexta. No pior momento, a Petrobras a perdeu mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado.

Apesar da reação, Caetano avaliou que dificilmente o conselho fará uma revisão da decisão com base em pressão do mercado.

Prates, por sua vez, afirmou que entendeu a reação do mercado de ações.

“Não vejo exagero. Não vejo histeria”, disse, reafirmando acreditar que será possível reverter a queda no valor das ações à medida que a companhia sane as dúvidas que forem surgindo.

Ele também relembrou que conta de reserva para remuneração de capital é uma novidade, criada numa mudança estatutária recente, e é natural que os investidores tenham dúvidas.

“Explicamos várias vezes que é uma conta destinada para guardar dividendos para uma distribuição ao longo da linha do tempo, de forma diferente daquela trimestralidade habitual. Ela existe em toda as nossas congêneres.”

E reafirmou que não há prazo para o pagamento.

“É dividendo, vai ser sempre dividendo e pago como dividendo, mas a cronologia desse pagamento pode querer eventualmente variar. Pode haver interesse em diferir ao longo do ano, ou mais tempo até, se um evento futuro, alguma coisa que você imagine que possa acontecer, leve com que os dividendos fiquem muito desiguais ao longo do tempo no futuro”, afirmou.

“Mas quem está conosco no longo prazo sabe que aquele dividendo está ali.”