SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Decradi (Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância) investiga uma denúncia de crime de homofobia cometido por uma mulher na padaria Iracema, no bairro de Santa Cecília, na região central de São Paulo, na madrugada do último sábado (3).
Vídeos postados no Instagram por Rafael Gonzaga, que estava ao lado do namorado, Adrian Grasson Filho, mostra alguns momentos em que a mulher profere termos homofóbicos dentro da padaria.
Segundo o relato das vítimas no boletim de ocorrência, elas chegaram ao estabelecimento por volta das 4h de sábado para comer após uma festa. Ao tentarem estacionar o carro em uma das vagas, havia duas mulheres e um homem parados sobre a vaga. Após o motorista buzinar, dois teriam saído para o carro estacionar, mas uma mulher continuou parada no local de braços cruzados. O homem, então, teria voltado e a tirado de lá.
Ainda segundo o relato, a mulher teria voltado, empurrado o retrovisor do carro e, em seguida, começado as agressões verbais, com xingamentos e gritos com termos homofóbicos.
Quando o casal foi entrar na padaria, a mulher teria pegado um cone do estacionamento e atirado neles. Os xingamentos continuaram no interior da padaria, e Gonzaga passou a filmar a confusão. Uma das vítimas afirma ter sido atingida no rosto pela acusada.
Na filmagem é possível acompanhar a mulher, que não foi identificada, sendo contida por um homem ao tentar partir para cima dos dois rapazes. Em alguns momentos, ela falou que “era de família tradicional” e que “teve educação”.
“Sou mais mulher do que você. Sou mais macho que você”, ela disse. “Tirei sangue seu, foi pouco. E os valores estão sendo invertidos. Eu sou de família tradicional. Eu tenho educação. Diferença dessa porra aí.”
Enquanto os rapazes filmavam e avisavam que a polícia estava chegando, a mulher disse: “Eu sou branca. Olha lá a hipocrisia. Vamos lá, chama a polícia. Vamos ver quem vai preso aqui”.
Segundo Gerson Alecrim, gerente da padaria ouvido pela reportagem, não é a primeira vez que a mulher cria confusão no local. Em outra oportunidade, ele conta, ela teria dado um tapa no rosto do gerente que trabalhava na madrugada.
“Ela é uma pessoa complicada. A gente não apoia esse tipo de coisa porque a maioria do nosso público é GLS [gays, lésbicas e simpatizantes], e procuramos respeitar e tratar todo mundo bem”, diz.
Na postagem na rede social, Gonzaga criticou a atuação dos policiais, que teriam se recusado a registrar flagrante: “Estamos seguindo os trâmites legais para que essa mulher pague no rigor da lei pelo crime de homofobia. Já transformamos a notificação feita pela PM (que se recusou a dar o flagrante) em Boletim de Ocorrência na Decradi, delegacia especializada em crimes de intolerância”.
Na publicação, Gonzaga explica o motivo de ter divulgado os vídeos: “Passar pela situação de ser agredido e ofendido aos gritos publicamente em função da orientação sexual é algo repulsivo, primitivo, desumano. Não sabemos quem é essa mulher. Queremos justiça e peço a ajuda de todos compartilhando este post”.
Em nota à reportagem, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o caso foi registrado na Decradi como preconceitos de raça ou de cor e lesão corporal.
“A Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância (Decradi) apura o caso, registrado como preconceitos de raça ou de cor (injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional) e lesão corporal. No sábado, dia 3, dois homens de 32 anos foram agredidos por um grupo, em uma padaria na avenida Angélica, bairro Santa Cecília, região central da capital. Policiais militares do 13º BPM/M atenderam a ocorrência por volta das 5h. A equipe policial registrou uma notificação de ocorrência, com as versões dos envolvidos, para encaminhamento à delegacia e orientou as vítimas sobre prazo para representação criminal, conforme a Lei 13.964/19”, comunicou a SSP.