LUÍSA MONTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na internet, você pode encontrar o sorridente Fábio Cruz, mais conhecido como Fabão, encenando o diálogo de um cardápio físico enciumado com a chegada do cardápio em QR code. Ou encarnando os Três Reis Magos indo visitar Jesus. Ou ainda imaginando estar na Torre de Babel. Também pode encontrá-lo comentando o BBB e ou falando sobre paquera na balada gay.
“Faço humor, amo gatos e falo sobre a vida”, é como ele descreve a si mesmo. Fabão soma quase 300 mil seguidores no Instagram e no TikTok, apresenta dois podcasts, “Joguei no Grupo” e “Tá Mutado”, e pode ser conhecido por alguns como parceiro de Valentina Bandeira, sua grande amiga e companheira nas redes sociais.
Em conversa com a reportagem, Fabão conta que usou o humor como combustível para enfrentar o bullying na infância e viu nas redes sociais uma válvula de escape. E é lá que ele vem ganhando fama.
Foi em 2021, durante a pandemia e quando ele perdeu sua mãe, com quem morava, que ele percebeu nas redes sociais um ambiente propício para se expressar. “Eu fiquei morando sozinho na casa em que eu cresci com a minha mãe. Eu estava completamente biruta”, conta.
Ao mesmo tempo, começou a trabalhar na produtora Play9, na qual hoje é coordenador de conteúdos. Foi a agência que viu potencial e incluiu Fabão em projetos audiovisuais; “Esse é o momento exato onde eu começo a entender que dá para fazer alguma coisa, dá para ser eu sem precisar me blindar”, diz. Quem assiste às esquetes no Instagram não imagina que nem sempre foi assim.
Nascido no Rio de Janeiro e criado no Complexo do Alemão, foi o sétimo neto de 6 netas. Ele contou que, já jovem, sabia que não iria performar toda a masculinidade que se esperavam dele. “Cresci cercado de muita masculinidade, por mais que estivesse numa família majoritariamente feminina, mas em um ambiente muito masculino”, avalia.
Diante da pressão, ele conta que encontrou no humor sua forma de defesa. “Eu sempre fui muito comunicativo e muito bem-humorado”, diz. Antes de tirarem sarro da forma como eu falo, da forma como eu me comporto, deixa eu tirar sarro disso.”
“Durante muito tempo eu fiz do uso daquele humor autodepreciativo, para poder transitar, para poder não ser o alvo fácil, sabe?”, lembra. “Antes de você me acertar eu já me acertei.”
A faculdade de publicidade foi o pontapé para a mudança de vida e para a saída da comunidade. Foi o namorado, com quem está há 10 anos, que a seguir esse caminho. “Ele me incentivou bastante a entrar na faculdade. Entrei bem mais velho. Se bem que eu não acredito que existe uma idade certa. Mas, diante do que a sociedade diz, eu entrei bem mais velho, mas por incentivo dele. Porque da minha família eu só ouvia: Ah, tenha um trabalho, pague as contas e vida que segue. Você não precisa de muito luxo.”
Nas redes sociais, Fabão faz sucesso com suas esquetes bem-humoradas. E ele sabe que isso não é nenhuma novidade. “Eu tenho muito esse pé no chão de não me achar o criador da roda, porque o formato tá para o mundo”, afirma.
E, então, o que o faz diferente dos outros? “Talvez o meu diferencial seja entender o humor como um lugar de grupo, e não de exclusão”, responde. “Eu acho que é um conteúdo que é possível de todos darem risada. Eu acho que o humor agrega, não segrega. Eu acho que isso é um diferencial, de conseguir agregar e conseguir fazer a galera dar risada em conjunto.”
Ele também se orgulha das reflexões que provoca, não descaradamente, mas que estão ali. “Tenho conteúdos que estou falando de algo no plano de fundo que a pessoa não pega de primeira, sabe? Eu estou falando às vezes sobre divisão social, de como a sociedade é elitista, num vídeo onde a pessoa dá uma risada e depois vai falar: Não, espera aí.”
No vídeo em que mostra como seria sua entrada no Big Brother Brasil (Globo), ele solta algumas pitadas de choque social para quem poderia estar ouvindo. Em meio a “eu não vim para fazer casal” e “lá fora eu fico tão doido”, vem um “alguém já botou uma arma na tua cara?”.
“Eu sou um homem preto, gay, que veio da favela -e isso vai estar sempre em mim. Não tem como eu fugir disso, e nem quero fugir. Eu quero abraçar isso, porque isso é o que me mantém quem eu sou mesmo”, diz Fabão.
Sensato e pragmático, ele diz que mantém os pés no chão e não deixa os milhares de likes ou os entrevistados famosos, como Felipe Neto e Ana Paula Padrão, o deslumbrarem: “Eu me permito ter cinco minutos de ‘Meu Deus, que loucura é essa’ para depois botar o pé no chão”.
Para 2024, Fabão planeja continuar com os conteúdos, mas elevar o patamar. Ele fará sua primeira viagem ao exterior para transmitir as competições da Olimpíada de Paris com um time de influenciadores que inclui Igão e Mítico, do Podpah, Valentina Bandeira e Matheus Costa.