Flávia G. Pinho
CUSCO (PERU)
Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil foi o quinto país que mais enviou turistas ao Peru em 2022, ocupávamos a sétima posição. De acordo com o Ministerio de Comercio Exterior y Turismo del Perú, 92.106 brasileiros estiveram por lá.
O hype em torno da gastronomia peruana, que vem acumulando prêmios internacionais o restaurante Central, em Lima, é o melhor do mundo segundo o ranking 50 Best 2023 ajuda a explicar por que os brasileiros estão cada vez mais interessados em conhecer o Peru. Mas não só.
Segundo destino mais visitado do país, atrás apenas da capital, o departamento de Cusco, que engloba a cidade de mesmo nome, o Vale Sagrado e o Santuário Histórico de Machu Picchu, deixou de ser um roteiro só para os tradicionais mochileiros.
Na última década, o turismo de luxo ganhou tração com a chegada de redes hoteleiras de alto padrão que levaram, na carona, comodidades para quem pretende explorar as ruínas e conhecer a cultura andina com conforto.
Nos anos 1980 e 1990, época do boom na região, explorar Machu Picchu significava enfrentar transportes precários, vencer longas trilhas, escalar montanhas desafiadoras e acampar em cenários inóspitos. Hoje, as duas companhias que exploram a ferrovia até o sítio arqueológico disputam a clientela com mordomias.
A mais antiga delas, a Peru Rail, tem até uma composição vintage operada pela rede hoteleira Belmond decorado como os vagões do começo do século passado, o trem Hiram Bingham, que liga Cusco a Machu Picchu, recebe os passageiros com welcome drink, vagão-restaurante e música ao vivo. A passagem de ida e volta custa 2.152 soles, ou R$ 2.824.
Quem se hospeda no Tambo del Inka Resort & Spa, no Vale Sagrado, tem direito a um mimo a mais: há uma estação de trem nos jardins do hotel. Inaugurada em 2011, a parada é aberta à população, mas tem pouco movimento, já que a maior parte dos turistas embarca em Ollantaytambo, a estação seguinte.
O grupo Marriott, proprietário do Tambo del Inka, especializou-se em paparicar esse novo turista. “É crescente a procura por experiências únicas e luxuosas, e o destino se adaptou com elegância a essa mudança de demanda”, afirma Antonio Villarroel, diretor de marketing da Intursa, que opera os hotéis da rede no Peru.
Não é que os mochileiros tenham desistido do lugar, pelo contrário muita gente ainda vai a pé até Águas Calientes, vilarejo que é a porta de entrada para Machu Picchu, numa caminhada que dura quatro dias mato adentro. Mas o cliente Marriott prefere usar esse tempo no spa, degustando cervejas e batatas cusquenhas ou assistindo a uma aula sobre pisco, a bebida local. Ou, vá lá, explorando bosques nativos de bicicleta, assistido por guias bilíngues.
Para quem gosta de isolamento, o Tambo del Inka, localizado em Urubamba, no coração do Vale Sagrado, é a pedida. Todas as 128 suítes (diárias a partir de US$ 562, cerca de R$ 2.820) são cercadas pelo silêncio e têm varanda ou jardim com vista para as montanhas. A partir do aeroporto Alejandro Velasco Astete, em Cusco, é possível fazer o trajeto de pouco mais de 90 minutos em transporte privativo.
Chegando lá, o turista pode usufruir da cozinha andina do restaurante Hawa e dos drinques do bar Kiri, relaxar no circuito de águas termais do Kallpa Spa ou agendar uma experiência “farm to table”, que vai da colheita na horta à mesa ao ar livre.
Vivências levam a cultura local para dentro do hotel. Nem é preciso visitar as tecelagens da região, por exemplo, para assistir às apresentações que as artesãs peruanas costumam fazer, vestidas com trajes típicos elas reproduzem o ritual no lobby, acompanhadas de dóceis alpacas trazidas pela coleira.
Mais urbano, o Palacio del Inka, também da Marriott, ocupa um palacete de 500 anos no miolo do centro histórico de Cusco, mas não fica atrás em experiências luxuosas. Os hóspedes das 203 suítes (diárias a partir de US$ 415, ou R$ 2.082) têm o privilégio de circular entre 195 obras de arte colonial e visitar museus e restaurantes a pé.
Ir a Machu Picchu pode ser um programa de um dia só. O trajeto de trem leva duas horas e meia, a partir de Urubambo, ou uma hora a mais, a partir de Cusco. O único problema é chegar a Águas Calientes durante o dia, porque só há duas maneiras de subir até as ruínas: a pé ladeira acima, numa caminhada de duas horas, ou nos micro-ônibus, que saem sempre cheios e levam 20 minutos. Há filas para embarcar elas são rápidas, mas sem glamour.
A solução para fugir do rush é chegar a Águas Calientes à tarde, pernoitar no vilarejo e conhecer o sítio arqueológico nos primeiros horários do dia, já que as catracas abrem às 6h. O lugar não prima pelo charme as ruas estreitas e lotadas têm um quê de 25 de Março no Carnaval, mas há um hotel de luxo fora da confusão, o Belmond Sanctuary Lodge, coladinho ao portão de Machu Picchu (diárias a partir de 5.931 soles, ou R$ 7.783).
O mais importante, em qualquer época, é planejar a viagem com antecedência, porque as regras de visitação às ruínas são rígidas. No site reservas.machupicchu.gob.pe, é preciso escolher previamente uma das quatro rotas de caminhada e adquirir o ingresso com dia e hora marcados a entrada sai a 152 soles por pessoa, cerca de R$ 200.
Viajar na baixa temporada para encontrar Machu Picchu mais vazio nem sempre é uma boa saída. Os meses mais concorridos são julho e agosto por um bom motivo é quando chove menos. E as chuvas, quando se trata do clima amazônico, são para valer. De todo modo, a estação da seca começa em maio e
vai até outubro, o que oferece ao turista mais opções de datas. Para garantir, melhor incluir a capa de chuva na mala.
A repórter viajou a convite da Marriott Brasil