SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A paisagem do centro de São Paulo tem mudado com o tempo, por exemplo com gradis que cercam a praça da Sé e cada vez mais PMs e guardas-civis em patrulha para tentar minar as ações dos ladrões.

As modalidades de crime também se transformaram, e assaltantes em bicicletas hoje substituem os chamados trombadinhas. Muitas vezes garotos em situação de rua, esse tipo de ladrão foi retratado em filmes como “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, filme lançado no início dos anos 1980 pelo diretor Hector Babenco (1946-2016).

Enquanto a quantidade de batedores de carteira parece menor pelas ruas de São Paulo, os ladrões que agem sobre duas rodas estão cada vez mais presentes nas avenidas Paulista e São João e no entorno da praça da República, em busca de celulares.

Mas quem são eles? A Folha de S.Paulo conversou com policiais civis envolvidos em investigações contra o bando e conseguiu traçar um perfil dos jovens. De acordo com os agentes, que falaram em condição de anonimato, desde fevereiro deste ano, quando teve início a operação Speed Bike, cerca de 100 pessoas foram identificadas como suspeitas de praticarem furtos montados em bicicletas e 58 delas foram presas em flagrante.

Segundo os policiais, o grupo é formado somente por homens, que têm idades entre 16 e 25 anos. A maioria vive em bairros da região central de São Paulo, ainda segundo os agentes, e não têm emprego fixo. Os policiais disseram ainda que não há indícios de que esses suspeitos tenham algum tipo de vínculo com a cracolândia.

As investigações até aqui não apontam uma coordenação, mas pequenos grupos que se juntam para cometer os crimes. A apuração também indica que os ataques contra pedestres e motoristas podem ser feitos por uma única pessoa ou por grupos de até cinco ladrões, que agem a partir da distração da vítima, tomam seu celular e fogem pedalando.

“Não existe uma gangue da bike. Existem algumas gangues da bike, tem mais de uma. Eles estão substituindo os trombadinhas, porém, é um tipo de trombadinha. Esse negócio de usar a bicicleta foi uma novidade, porque agora o objeto mais furtado é o celular”, afirma Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para Mingardi, a ação do ladrão montado em uma bicicleta acaba sendo mais fácil do que a do batedor de carteira. “O trombadinha precisava arrancar a corrente [do pescoço da vítima], pegar a carteira do bolso, pegar bolsa, era mais difícil. O celular normalmente está na mão e em uma mão só, essa é vantagem. E eles têm para quem vender. Tem muito receptador de celular”, diz o analista.

As ações da Polícia Civil contra os ladrões resultaram, entre fevereiro e novembro, na apreensão de 124 bicicletas. Boa parte dessas apreensões ocorreu na área do 78° DP (Jardins), que abrange a avenida Paulista, um dos pontos preferidos da gangue da bike.

Os policiais ouvidos pela reportagem afirmam ainda que grande parte das bicicletas usadas nesses crimes possui procedência lícita —em muitos casos, após as apreensões os suspeitos comparecem à delegacia e apresentam a nota fiscal da compra, e assim conseguem recuperar a bike.

Nos últimos dias, a gangue da bicicleta voltou a ganhar notoriedade após o ataque ao Bar Brahma, na tarde do último domingo (3). Naquele dia, um integrante de um dos bandos foi pego e agredido por testemunhas após uma tentativa de furto em frente ao bar, que fica na esquina das avenidas Ipiranga e São João. Após as agressões, o jovem teria chamado outros suspeitos, que foram até o local e atiraram pedras contra a fachada do bar.