SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário de Segurança do Reino Unido, Tom Tugendhat, acrescentou nesta terça-feira (6) um novo capítulo às rusgas com a China. Em declaração ao Parlamento, o secretário abordou o tema das supostas delegacias clandestinas mantidas por Pequim no país europeu e disse que o governo britânico, em comunicação oficial com a embaixada chinesa, classificou de intolerável a atividade desses postos.
Os chamados “postos de serviço policial” chineses ficaram conhecidos após um relatório da organização Safeguard Defenders divulgado em novembro do ano passado acusar Pequim de manter 102 “delegacias clandestinas” em 54 países –incluindo o Brasil. Esses centros teriam, oficialmente, o intuito de prestar auxílio a cidadãos chineses, mas, extraoficialmente, seriam usados para monitorar, prender e deportar chineses expatriados e dissidentes do regime comunista.
De acordo com as declarações de Tugendhat, Londres recebeu da embaixada chinesa a resposta de que os postos citados foram fechados permanentemente. Segundo o secretário, a polícia investigou quatro lugares onde as supostas delegacias estariam atuando e não encontrou indícios de atividades ilícitas em em solo britânico. “Avaliamos que a fiscalização policial e pública teve um impacto repressivo em quaisquer funções administrativas que esses lugares possam ter tido”, disse.
“Essas estações foram estabelecidas sem nossa permissão, e sua presença, independentemente de qualquer atividade administrativa de baixo nível que estivessem realizando, pode ter preocupado e intimidado aqueles que deixaram a China e buscaram segurança e liberdade aqui no Reino Unido”, acrescentou o secretário.
A China sempre negou quaisquer atividades ilegais nesses postos. Segundo o regime, os centros são administrados por voluntários locais, não por policiais, e visam ajudar cidadãos chineses em serviços administrativos como a renovação de documentos.
Nesta terça, o país voltou a refutar as alegações. “Já deixei claro muitas vezes que não existem as chamadas ‘delegacias de polícia no exterior’. Os fatos provaram que tudo em torno delas é uma mentira absoluta, e o exagero dessa questão por alguns políticos é apenas manipulação”, afirmou o porta-voz da embaixada chinesa no Reino Unido em um comunicado, após as declarações de Tugendhat. “A China pede ao Reino Unido que pare de espalhar desinformação, exagerar o assunto e difamar a China.”
Em abril, o jornal britânico The Times publicou um artigo sobre Lin Ruiyou, um empresário chinês ligado ao Partido Conservador britânico. Ele dirigiria uma empresa de entrega de alimentos no bairro de Croydon, no sul de Londres, que também funcionaria como uma das “delegacias clandestinas”.
As relações entre Londres e Pequim se deterioraram nos últimos anos. Contribuíram para a derrocada a repressão do movimento pró-democracia em Hong Kong (ex-colônia britânica), a situação da minoria muçulmana uigur no oeste da China e as suspeitas de espionagem relacionadas à empresa de telecomunicações chinesa Huawei.
O relatório das supostas delegacias clandestinas coroou a tensão, assim como ocorreu com outras nações. A suspeita paira também nos Estados Unidos, por exemplo.
Em abril, agentes federais dos EUA prenderam dois moradores de Nova York por supostamente operarem uma dessas estações no distrito de Chinatown, em Manhattan. Eles são alvos de denúncias de conspiração e teriam persuadido um indivíduo considerado fugitivo pela China a voltar para seu país de origem e ajudado o regime a localizar uma pessoa que vivia na Califórnia.
A Itália, que abrigaria 11 desses estabelecimentos, dispensou policiais chineses de patrulhas em conjunto com os oficiais italianos em dezembro do ano passado. Na época, o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, negou que o pacto tivesse a ver com essas supostas instalações em fala ao Parlamento.