FOLHAPRESS – “Super Mario RPG” é o exemplo perfeito de como um olhar para o passado pode redefinir o estado da arte. Lançado apenas um mês após “Super Mario Wonder”, o remake para Nintendo Switch do game que saiu em 1996 para Super Nintendo esbanja criatividade ao revitalizar um título menos lembrado do bigodudo, com elementos de “Final Fantasy” e opções estéticas que parecem radicais frente a uma onda de jogos —também nostálgicos— que pecam por seguirem demais a tradição.

Esqueça o clássico plataforma 2D, que “Wonder” já deu conta de repensar com o Mario elefante e um coral de plantas carnívoras. Aqui a graça está nas batalhas em turnos, na exploração de mapas e a busca por itens à moda dos bons RPGs japoneses, mas com uma abordagem simples, quase infantil, para ser fruída sem entraves.

A releitura é fiel ao original, ainda que o relançamento abdique do subtítulo “Legend of the Seven Stars”. Quando vai resgatar a princesa Peach das mãos de Bowser, uma espada gigante com olhos e boca atravessa o castelo do vilão e danifica a Star Road, um ambiente cósmico para onde vão os desejos naquele mundo. Com a chegada de uma nova gangue de malvados liderados por Smithy, todos em formato de armas falantes, sete estrelas mágicas são espalhadas pelo mundo. Reunidas, poderão salvar o dia.

Mas esse mundo é um tanto diferente. Mario não transita apenas pelo reino dos cogumelos, conversando com Toads iguais. Os habitantes são variados, com desenhos que dão personalidade para além dos diálogos bem-humorados.

Essa criatividade particular fica evidente ao passear em lugares como uma vila de sapos, com direito a um ancião e uma orquestra de girinos, conversar com nuvens falantes, tubarões piratas e toupeiras. Ou ainda ao lutar com inimigos que lembram os Power Rangers, gorilas acorrentados, cenouras, um dinossauro de chapéu e até um ventilador.

Ainda que tenha humor físico e gestual —já que o Mario aqui não pode falar—, sendo um RPG com muito texto, faz falta a tradução para o português, considerando que a Nintendo está tentando retomar laços com o Brasil.

Mario reunirá parceiros como Mallow (personagem rechonchudo que acredita ser um sapo), Geno (um Pinóquio destemido), além de Bowser e Peach, jogáveis durante as batalhas —algo inédito para época, assim como a parceria entre Nintendo, dona do Mario, com a Square Enix, de “Final Fantasy” e “Dragon Quest”, a partir da qual nasceu o título.

Essa foi a primeira investida da franquia no gênero e, apesar de não ter ganhado continuação, foi essencial para o sucesso das séries “Paper Mario” e “Mario & Luigi”.

Felizmente, mais que modernizar os visuais, o remake tem o mérito de deixar o game mais acessível e claro, sobretudo em seu sistema de batalha. Ele é especialmente viciante porque demanda atenção constante do jogador, já que, para além de selecionar o comando (ataques normais ou mágicos, uso de itens etc.), é possível pressionar o botão de ação no momento certo e ganhar um bônus de dano ou, no caso de defesa, invalidar o ataque inimigo.

Ao contrário do game de 1996, agora há um indicador na tela, mostrando quando o botão deve ser apertado. Pela repetição, pega-se fácil o ritmo da coisa e a jogatina ganha uma tensão e uma fluidez musical e visual. Acertos em sequência garantem um bônus progressivo que, acumulado, dá direito a um movimento super poderoso e variável conforme os lutadores.

O sistema se aprofunda conforme o jogador adquire experiência, liberando habilidades que exigem mais ação e atenção (como pulos em sequência, bolas de fogo, tempestades, poderes de cura etc.), e se familiariza com a trupe. O que a princípio é só um recurso para dar um soco mais forte, logo se torna a alma da jogatina, já que acertar ou errar pode ser fatal.

São cinco personagens ao todo, cada um com habilidades bem diferentes, mas só Mario e mais dois podem dividir o campo de batalha. Mas os pontos são compartilhados entre todos ao final de cada luta, ajudando que todos fiquem balanceados ao longo da jornada.

E apesar das dez horas para terminar a história principal não serem extenuantes, a curva de dificuldade é progressiva e tem um pico no final, como era comum nos anos 1990.

Contrariando manias do RPGs japoneses da época, “Super Mario RPG” brilha por unir uma exploração muito visual, já que não há batalhas aleatórias e invisíveis. Conforme se anda pelo mapa de visão isométrica, com vários trechos e minigames que remetem ao gênero de plataforma, vê-se os inimigos caminhando pelo mapa e o jogador pode decidir enfrentá-los ou não.

É por essa abertura de espírito que “Super Mario RPG”, revisitado, se mostra um dos melhores games do bigodudo. Considerado quase um clássico cult na comparação com “Super Mario World” ou “Super Mario 64”, o jogo transita entre vários gêneros e não tem medo das suas ideias mais mirabolantes.

Há itens e segredos escondidos em lugares invisíveis (daqueles que só se descobria, antes da internet, com a ajuda de um amiguinho ou de uma revista especializada), missões secundárias, chefes e caminhos alternativos. Muito se descobre com perseverança ou sorte. Nesse meio, há adições no remake que convém não antecipar.

A trilha sonora é uma estrela à parte, com destaque para os novos arranjos dessa versão, adicionando camadas de metais e sopros a músicas bastante conhecidas para os fãs. Pode-se alternar entre a música original e a versão refeita no menu de configurações.

Outras graças da modernidade incluem o salvamento automático (uma mão na roda no caso de RPGs onde pode-se perder muito progresso por algum deslize) e as “cutscenes” animadas, que dão nova vida a cenas que, no original, eram apenas sugeridas no emaranhado de pixels.

Agora, com tudo num belo e colorido 3D no Switch, a Nintendo acerta ao dar atenção ao clássico mais obscuro, mas que retoma um tempo de mais experimentos e menos caretice.

SUPER MARIO RPG

– Avaliação Ótimo

– Quando 17/11/2023

– Onde Lançamento para Nintendo Switch na sexta-feira (17)

– Preço R$ 299

– Classificação Livre

– Desenvolvedora Nintendo e Square Enix