SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É fato que o Brasil se tornou oficialmente uma república em 15 de novembro de 1889. Mas não é fato que tenha sido um momento de grande nobreza, como patriotas empedernidos acreditam.

O novo regime se impôs graças a um golpe liderado por um ex-monarquista e ocorreu antes do momento previsto devido a uma boataria.

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Por que os militares estavam insatisfeitos com o Império?

O ponto-chave é a Guerra do Paraguai (1864-1870). Com a vitória do Brasil e aliados no conflito, as Forças Armadas ganharam prestígio e popularidade. Assim, passaram a reivindicar mais reconhecimento por parte dos monarcas. Como dom Pedro 2º não esboçou reação expressiva, a insatisfação da caserna só aumentou.

Qual a principal motivação para a derrubada da monarquia?

Não existe um só fator. Além da insatisfação dos militares, havia a ascensão de uma elite urbana (empresários, profissionais liberais, entre outros), que não tinha representação política.

O modo como a abolição da escravatura foi conduzida desagradou a todos os envolvidos, enfraquecendo a corte.

Não se pode também esquecer o positivismo, movimento de grande influência na época. A corrente filosófica valorizava a racionalidade em detrimento da tradição. E a Monarquia, àquela altura, era sinônimo de tradição.

O que aconteceu no dia 15 de novembro de 1889? 

O golpe estava programado para o dia 20, mas foi antecipado devido a uma boataria no dia 14. Neste dia, correu pelo Rio a falsa história de que Deodoro da Fonseca tinha sido preso.

Diante disso, os republicanos resolveram agir logo. No dia 15, Deodoro liderou uma agitação nos quartéis do Campo de Santana. As tropas ocuparam o Ministério da Guerra e derrubaram o gabinete do visconde de Ouro Preto.

Políticos monarquistas foram presos, e a família real recebeu ordem para deixar o país.

Foi um golpe?

Sim. O poder foi tomado por uma minoria republicana, formada por militares, advogados, cafeicultores, entre outros setores da elite. Não se pode afirmar que esse núcleo representasse a maioria da população. O povo estava alheio à Proclamação.

Como Deodoro se tornou o líder da Proclamação?

Não foi uma escolha consensual. Ele era monarquista até meses antes da Proclamação. Só passou a fazer oposição ao Império no segundo semestre de 1889. Por outro lado, era um militar experiente e contava com o respeito dos colegas da caserna e dos civis.

Se Deodoro não tinha o perfil mais adequado, os demais líderes menos ainda. Também militar, Floriano Peixoto era considerado “radical”. Benjamin Constant, outro militar, era um homem dos livros, menos apto para insurreições. O fato de ser civil era um ponto negativo para Ruy Barbosa.

Deodoro fez um bom governo? 

Houve avanços, mas o saldo é negativo. Ele se comportava como um monarquista, incapaz de levar adiante negociações partidárias. Agia com truculência diante das críticas da imprensa.

Seu autoritarismo atingiu o ápice no final de 1891, quando declarou estado de sítio e, em seguida, deu um golpe. Houve, no entanto, uma forte reação, conduzida por lideranças regionais e setores do Exército ligados ao vice, Floriano Peixoto.

Diante da iminência de uma guerra civil, ele renunciou em 23 de novembro de 1891.