SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto alunos da rede particular vivem a onda de calor, que atinge todo o país, em salas de aula climatizadas com ar condicionado, estudantes da rede pública de São Paulo passam mal enfrentando as altas temperaturas em escolas de lata, no máximo, com ventilador.
Para Danilo Moura, oficial do clima e meio ambiente do Unicef (Fundo das Nações Unidas Para a Infância), esse contraste de condições para o aprendizado é apenas uma amostra de como a crise climática deve agravar ainda mais as desigualdades sociais e educacionais no país.
“A crise climática atinge de forma muito mais grave as populações mais vulneráveis e reforça as desigualdades que já temos. Quem já tem condições menos favoráveis para estudar, passa a contar com mais um fator de desvantagem. Esse é mais um motivo pelo qual precisamos dar respostas mais rápidas para as mudanças climáticas que estamos vivendo”, destaca.
Para ele, a reação à crise climática passa por medidas que possam frear os eventos extremos, mas também que mitiguem os efeitos já vividos sobretudo pelos mais pobres.
“Quem está enfrentando as consequências mais graves, não pode esperar. Estamos todos sofrendo com o calor, mas alguns de forma muito prejudicial. Enquanto as crianças mais ricas estão em salas de aula com ar condicionado, as crianças da periferia passam calor em escolas com teto de zinco. Temos ainda crianças sem aula nas comunidades ribeirinhas do Amazonas, que não conseguem chegar à escola porque não tem mais rio”, diz.
Um relatório publicado pelo Unicef estima que 820 milhões de crianças mais de um terço do total de todo o mundo estão atualmente expostas à ondas de calor. A previsão é de que a situação se agrave ainda mais, na medida em que a temperatura média do planeta aumenta e os padrões climáticos se tornam mais erráticos.
“Estamos em um nível de alteração climática que já tem efeitos contratados, ou seja, já estamos vivendo e precisamos de estratégias para lidar com eles. Precisamos urgentemente de ações para que as crianças possam continuar estudando mesmo com esses eventos extremos”, diz.
“Talvez não seja economicamente viável refrigerar todas as salas de aula do país, mas temos que ter mudanças em infraestrutura para garantir condições mais amenas. Há, por exemplo, estratégias de arquitetura para tornar os prédios mais frescos, garantir que todas as escolas tenham acesso à água.”
Dados do último Censo Escolar, feito pelo Inep, mostram que 13% das escolas públicas do país tiveram interrupção das atividades escolares por eventos climáticos, como inundações e desmoronamentos. Outras 14% tiveram que suspender aulas por falta de água.
“Uma das maiores injustiças estruturais da crise climática é que ela afeta mais quem tem menos responsabilidade sobre ela. Os mais pobres e os mais jovens sofrem mais com ela. É uma injustiça intergeracional, em termos de que estamos passando a conta das nossas ações para as futuras gerações.”