SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Militares de Israel cercaram nesta segunda-feira (13) o hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza e localizado em uma área considerada estratégica aos esforços de Tel Aviv para controlar o norte do território palestino. A ação motivou novas críticas às ações israelenses na guerra contra o Hamas.
Israel afirma que integrantes do grupo terrorista se abrigam em uma espécie de quartel-general construído em túneis abaixo do hospital na Cidade de Gaza, a maior da faixa homônima. Também acusa os combatentes do Hamas de usar os pacientes como escudos, o que a facção extremista nega.
Após o cerco, médicos disseram que pacientes, incluindo bebês recém-nascidos, estavam morrendo por falta de medicamentos. Os profissionais afirmam ainda que a unidade não tem mais combustível necessário para manter a energia elétrica e equipamentos hospitalares em funcionamento.
“Tanques [de Israel] estão em frente ao hospital. Estamos sob bloqueio total. É uma área totalmente civil. Apenas pacientes hospitalares, médicos e outros civis estão no hospital. Alguém deveria parar com isso”, disse o cirurgião Ahmed El Mokhallalati à agência de notícias Reuters. “Bombardearam tudo. Dizemos a todos que o hospital não é mais um lugar seguro para tratamento”, acrescentou.
Israel tem pedido aos médicos que transfiram os pacientes para outro local. Não há, entretanto, muitas opções. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, todos os hospitais do norte do território estão fora de serviço.
Líderes das Forças Armadas dizem ainda que tentaram retirar os bebês e que deixaram 300 litros de combustível na entrada da unidade para alimentar geradores, mas que as tentativas de ajuda foram bloqueadas pelo Hamas.
Ashraf al-Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, rebateu as acusações. Ele disse que são os ataques israelenses que “aterrorizam tanto médicos quanto civis”. À Reuters, ele acrescentou que os 300 litros de combustível abasteceriam o Shifa por apenas meia hora e que o hospital precisa de 8.000 a 10 mil litros por dia segundo ele, a substância deveria ser entregue por uma agência de ajuda internacional.
O hospital foi atingido por disparos e bombardeios nos últimos dias que, segundo o Hamas, destruíram ambulatórios e os departamentos de cardiologia e de cirurgia. O Ministério da Saúde de Gaza disse nesta segunda que, dos 45 bebês nas incubadoras no hospital, seis haviam morrido até domingo (12).
O Shifa “não está mais funcionando como um hospital”, afirmou o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma publicação no X. “Tragicamente, o número de mortes de pacientes aumentou significativamente. O mundo não pode ficar em silêncio enquanto os hospitais, que deveriam ser refúgios seguros, são transformados em cenas de morte, devastação e desespero.”
Além dos seis bebês mortos no Shifa, nove pacientes que estavam na UTI perderam a vida devido à falta de energia elétrica, segundo Yusef Abu Rish, vice-ministro da Saúde.
A situação catastrófica no hospital levou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a instar Israel a proteger o local nesta segunda, em mais uma ressalva a Tel Aviv apesar do sólido apoio de Washington ao Estado judeu.
“Tenho esperança e expectativa de que haverá ações menos intrusivas em relação ao hospital”, disse Biden a jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, quando questionado se havia expressado preocupações ao governo de Israel sobre o assunto. “O hospital deve ser protegido.”
Instalações, veículos e pessoal médico são protegidos por lei nas situações de conflito armado. Há, no entanto, uma exceção: essa proteção pode ser suspensa se um dos lados da guerra explorar a regra para cometer um “ato prejudicial ao inimigo”, como usar um hospital para lançar ataques com foguetes, por exemplo. Mesmo nesse caso, sempre é necessário fazer a distinção entre civis e combatentes.
Em outro hospital, o centro pediátrico al-Rantisi, na Cidade de Gaza, Israel afirmou ter encontrado um centro de comando do Hamas nesta segunda. “Embaixo do hospital, no porão, encontramos um centro de comando e controle do Hamas, além de coletes-bomba, granadas, fuzis de assalto AK-47, dispositivos explosivos e outras armas, computadores, dinheiro etc.”, disse o porta-voz militar de Israel Daniel Hagari.
“Também encontramos sinais que indicam que o Hamas manteve reféns ali”, continuou o militar. “O Hamas se esconde em hospitais. Hoje vamos expor isso para o mundo.”
O Hamas disse nesta segunda ter informado a mediadores do Qatar que o grupo estava pronto para libertar até 70 mulheres e crianças detidas em Gaza em troca de presos palestinos e uma trégua de cinco dias com Israel.
“Na semana passada, houve um esforço dos irmãos do Qatar para libertar os cativos inimigos, mulheres e crianças, em troca da libertação de 200 crianças palestinas e 75 mulheres detidas pelo inimigo”, disse Abu Ubaida, porta-voz do braço armado da facção, em uma gravação de áudio postada no canal do grupo no Telegram. “A trégua deve incluir um cessar-fogo completo e permitir ajuda e assistência humanitária em toda a Faixa de Gaza”, continuou ele, que acusa Israel de “procrastinar” o acordo.
O Estado judeu lançou no m civis da metade norte de Gaza. As autoridades médicas de Gaza afirmam que mais de 11 mil pessoas foram confirmadas mortas, cerca de 40% delas crianças.
Nesta segunda, um bombardeio de Israel em Jabalia, maior campo de refugiados da Faixa de Gaza, matou mais de 30 pessoas e deixou várias feridas, afirmou o Hamas. Antes do início do conflito, o campo abrigava 116 mil pessoas, segundo dados da ONU.
Caso confirmado, esse não será o primeiro ataque no local desde o início do conflito. No final de outubro, um bombardeio israelense ali matou ao menos 50 pessoas e, como sempre, houve uma guerra de versões Tel Aviv descreveu todos como terroristas ligados ao Hamas e o Ministério da Saúde em Gaza disse que se tratavam de mártires.
As forças terrestres israelenses entraram em Gaza no final de outubro e rapidamente cercaram a Cidade de Gaza. Desde então, os combates têm se concentrado em um círculo cada vez mais próximo do hospital Shifa, onde milhares de civis buscaram abrigo.