SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da cidade de São Paulo (SP) leva em média 22 minutos para atender ocorrências graves, como paradas cardiorrespiratórias. Para casos leves, a espera é de duas horas.
A Folha de S.Paulo teve acesso aos dados da Prefeitura de São Paulo via Lei de Acesso à Informação.
O tempo de resposta caiu nos últimos quatro anos, mas ainda está acima de padrões internacionais de qualidade.
Segundo revisão conduzida pela American Hearth Association, em 2015, a taxa de sobrevivência em casos de parada cardiorrespiratória aumenta quando a desfibrilação é feita entre 3 e 5 minutos após o evento.
“A partir de 5 minutos de parada cardíaca o paciente tem lesão cerebral”, diz a professora-adjunta da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Flávia Fernandes. “A morte é provável se a parada durar mais de oito minutos”.
Procurada, a Secretaria de Saúde do município afirmou que, no período de janeiro a setembro de 2023, o Samu realizou 170 mil atendimentos, superando o mesmo período de 2022, quando atendeu 168 mil ocorrências. Disse também que o tempo de atendimento varia de acordo com a classificação de risco e a gravidade dos casos.
Fernandes pondera que o tempo resposta é um indicador importante, mas que não reflete necessariamente a qualidade do serviço.
“Outros parâmetros mostram qualidade”, diz. “Diminuição de dor, correspondência da gravidade com a rapidez do serviço e proporção de pessoas que sobreviveram até sete dias depois do atendimento.”
Em outubro de 2012, quando Fernandes coletou dados para sua pesquisa, o tempo médio de resposta das equipes do Samu na cidade de São Paulo em casos graves (classificação Echo) era de 16 minutos.
O Samu é um serviço de atendimento de urgência pré-hospitalar que existe na capital paulista desde 1992. Emprega 1.900 profissionais, entre médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, condutores e telefonistas.
O serviço é acionado pelo número 192. Cabe aos atendentes da Central de Regulação, localizada no bairro do Bom Retiro, atender às chamadas e aplicar um questionário. Trotes e casos que não justificam atendimento presencial são descartados.
Com os dados em mãos, um programa de computador atribui ao chamado o grau de prioridade. As ocorrências são classificadas entre Alfa, Bravo, Charlie, Delta e Echo (do leve ao urgente) e depois revisadas por uma equipe de médicos reguladores.
Não há critério de classificação fixo para cada queixa, mas, em geral, o serviço prioriza casos de inconsciência, parada respiratória e que acometem determinadas faixas etárias, como idosos e crianças pequenas.
Servidores ouvidos pela reportagem, mas que não quiseram se identificar, atribuem parte da lentidão do serviço a uma reorganização do Samu realizada pela Prefeitura em 2019. Na ocasião, a gestão Bruno Covas (PSDB) fechou 58 bases descentralizadas.
Segundo os servidores, a mudança gerou dificuldade na saída das viaturas, uma vez que as ambulâncias passaram a competir com carros de passeio e pedestres nos estacionamentos de postos de saúde e hospitais. Reportagens feitas na época mostraram que o tempo de resposta aumentou em comparação com o período anterior à modificação.
Os profissionais também relatam despachos para atender pacientes com casos leves, que em tese não justificariam o acionamento das ambulâncias, como picadas de inseto e dores de barriga.
Em junho, reconhecendo “defasagem de recursos humanos que assolou o Samu por muitos anos”, a Secretaria de Saúde do município iniciou a convocação de 896 novos servidores, dos quais 487 já foram incorporados ao serviço. Na ocasião, a pasta anunciou também que contrataria condutores de ambulâncias e motolâncias via empresa parceira.
Embora tenha 122 ambulâncias e 36 motolâncias à disposição, o Samu de São Paulo opera diariamente com cerca de 90 viaturas, segundo a Secretaria de Saúde.