SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – Quase 15 anos depois de disputar sua última maratona como corredor profissional, Vanderlei Cordeiro de Lima volta a correr neste domingo (11) a prova que o consagrou, e no lugar onde entrou, para sempre, para a história do movimento olímpico.

O brasileiro, aos 54 anos, é a grande estrela da Maratona de Atenas, na capital da Grécia, corrida que, literalmente, percorre a história da maratona. Faz como Pheidíppides, que, diz a lenda, saiu da cidade de Maratona e percorreu cerca de 40km para relatar aos atenienses a vitória sobre Esparta, mais de 2.500 anos atrás.

O herói agora é um paranaense que dedicou os últimos anos à vida no campo, na Cruzeiro do Oeste, sua cidade natal, e a um instituto que leva seu nome e forma jovens atletas em Campinas (SP). E que teve a história marcada para sempre pela maratona olímpica de 2004, neste mesmo percurso, quando foi empurrado pelo padre irlandês Neil Horan.

Vanderlei, que então liderava, caiu para o terceiro lugar, festejou muito o bronze, e acabou premiado com a medalha Pierre de Coubertin, honraria raríssima e de primeira prateleira dada pelo COI a atletas que valorizam o espírito olímpico.

O brasileiro já tinha 35 anos na ocasião e ainda teve mais três anos de carreira, encerrada oficialmente na São Silvestre de 2008, mas que na prática se encerrou na Maratona de Paris do ano seguinte. Desde então, passaram-se 14 anos e meio e, por mais que deixasse de treinar, Vanderlei nunca deixou de ter o biotipo e a memória muscular de um maratonista.

Assim, quando ele fechou com a Olympikus o projeto de correr esta Maratona de Atenas, o retorno aos treinos ao lado do técnico de sempre, Ricardo D’Angelo, seis meses atrás, foi buscando relembrar os estímulos que ele recebia enquanto atleta para correr. Exceto por um problema: “Ele pegou dengue e ficou umas três semanas sem fazer nada, desfalecido”, conta o treinador.

“Teve também um pouco da sequela do covid. Tive que ficar um bom período sem treinar. Voltei a treinar mais a sério, peguei dengue. Aí somou covid com sequela da dengue, foi difícil”, diz Vanderlei, que corre a Maratona de Atenas junto com os amadores, ainda que esteja na Grécia patrocinado pela Olympikus.

Em uma prova do tipo, quem larga primeiro é a “elite”, atletas que têm marcas e/ou expectativa para buscar as primeiras colocações. Depois [e a hora dos amadores, divididos em ondas, a partir do tempo previsto de conclusão. Vanderlei larga na primeira onda, para tentar fazer a maratona em pouco mais de 3h.

“O foco e a cabeça estão voltados para terminar a prova. A gente tem discutido terminar em determinado ritmo, fazer uma corrida progressiva. Largou, a euforia e a ansiedade tomam conta. Tenho que procurar me segurar pra fazer uma prova tranquila”, afirma o corredor.

A preparação foi ótima, dizem atleta e técnico. Eles fizeram inclusive uma etapa em altitude, em Paipa, na Colômbia, conhecida por ser destino para treinos do tipo, antes de uma prova que demanda resistência. Foi uma oportunidade de Ricardo e Vanderlei relembrarem momentos importantes ali, como antes das Olimpíadas de 2004.

Em Paipa, Vanderlei correu 20km em ritmo de 4min/km, o que significa fazer uma meia-maratona em menos de 1h30min, e a possibilidade de até baixar das 3h em Atenas. Na reta final, rodou 120km por semana, o que é um ótimo padrão para um atleta não de ponta.

Vanderlei está felicíssimo com o momento. “Eu estava fora do circuito e fora de si mesmo nesse sentido, de voltar a ser competitivo. Esse momento que tô vivendo agora despertou um pouco da vontade de ser competitivo novamente, dentro da minha vontade, da minha condição física. Estar aqui é muito importante para mim, para demonstrar o que é o esporte brasileiro, colocá-lo em evidência, e para mim como pessoa.”

*O colunista viaja a convite da Olympikus