RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A redução do número de feriados em dias úteis em 2024 deve ter um efeito irrelevante sobre o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no próximo ano, dizem economistas consultados pela Folha de S.Paulo.

O assunto ficou em evidência após uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta sexta-feira (10). Em reunião com ministros, o mandatário disse que 2023 “teve muito feriado prolongado” e que a quantidade menor em 2024 resultará em um leve aumento do PIB.

“No ano que vem, os feriados cairão no sábado, significa que o PIB vai crescer um pouco mais, porque as pessoas vão ficar um pouco mais a serviço do mundo do trabalho”, declarou.

Nos feriados, o consumo das famílias tende a ficar mais concentrado no setor de serviços, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. Isso, diz, gera uma espécie de compensação do impacto econômico causado pela paralisação de indústrias e lojas.

“Esse é um ponto irrelevante porque você tem alguns feriados que vão continuar durante a semana e outros no final de semana. Para o PIB, a diferença vai ser muito pequena”, afirma Vale.

“No feriado, você não está produzindo na indústria, mas está fazendo mais turismo, está indo para o restaurante. É uma troca de bens por serviços, talvez. O efeito para a economia como um todo é irrisório”, acrescenta.

De acordo com Vale, o PIB brasileiro deve perder fôlego em 2024 devido a dois fatores principais: a desaceleração da agropecuária após o bom desempenho neste ano e o reflexo dos juros em um patamar ainda elevado.

A MB projeta alta de 3% para a economia em 2023 e de 2% em 2024. Na opinião de Vale, o PIB poderia ter um crescimento mais acentuado no próximo ano se Lula reforçasse o discurso de responsabilidade fiscal.

“O que o presidente poderia fazer é ajudar o ministro [Fernando] Haddad a entregar um resultado primário melhor. Isso beneficiaria as expectativas para inflação e taxa de juros, traria mais estabilidade.”

Francisco Pessoa Faria, economista sênior da LCA Consultores, avalia que a redução no número de feriados em dias úteis talvez gere algum estímulo para o PIB de 2024, mas nada tão substancial.

Ele lembra que uma parte das empresas e setores como o agrícola não costumam parar em razão do calendário. “Pode ter efeito positivo? Pode ter. Mas é alguma coisa relevante? Não é”, afirma Faria.

Quatro feriados nacionais do ano que vem cairão no final de semana. Tiradentes será em um domingo, enquanto Independência do Brasil, Nossa Senhora Aparecida e Finados serão nos sábados.

Os trabalhadores terão somente quatro feriadões, com possibilidade de emenda: três no primeiro semestre e o quarto apenas em novembro, na Proclamação da República.

“Por mais que haja uma perda em termos de produção industrial e comércio [no feriado], essa perda não é definidora ou talvez irreversível, considerando as compensações, tanto pelo turismo quanto pelo deslocamento do consumo”, diz a economista Vívian Almeida, professora do Ibmec-RJ. “Esse é um ponto bem importante.”

Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, concorda com a avaliação de que o calendário de 2024 não deve gerar grande impacto no PIB.

Ele também destaca a migração do consumo de bens no comércio para os serviços nos feriados. “A indústria acaba não alterando tanto porque os feriados são tão poucos entre os dias úteis do ano que o efeito [no PIB] é quase nulo.”