SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moradores de São Paulo reclamam que continuam sem energia elétrica em casa uma semana após a tempestade que atingiu o estado, na última sexta-feira (3), e deixou 4,1 milhões sem luz.
As reclamações ocorrem mesmo depois de a Enel afirmar na quinta (9) que todas as ocorrências derivadas da forte chuva terem sido solucionadas e o fornecimento ter sido restabelecido para todos os clientes.
Uma das reclamações é do advogado Rennan Nascimento, 31, que mora na rua Luís Delfino, na Vila Mariana. Ele conta que a casa está sem energia desde a tempestade.
“A casa tem duas ou três fases. A luz da sala, por exemplo, acende, mas as dos quartos não. Então, chuveiro, ar-condicionado, todos esses que são 220v não funcionam”, conta.
Os pais do advogado têm 70 anos e estão há uma semana tomando banho de água fria.
“Eles já são idosos, meu pai é cabeleireiro e, claro, quando chega do trabalho precisa tomar banho. Estava até resfriado no começo da semana. É um absurdo esse descaso”, reclama.
A família tem três carros, que estão há sete dias sem rodar.
“O portão eletrônico não funciona, então a gente não consegue tirar os carros. Faz uma semana que estão presos lá. Meus pais estão andando de metrô. Eu e meu irmão estamos gastando com Uber. Tem dia que fico até tarde, de madrugada no escritório, não tem como voltar de metrô. É um transtorno sem tamanho durante essa semana”, reclama.
“Escuro, banho frio, sem televisão, sem internet e sem atendimento”, completa Nascimento.
Ele diz que já fizeram mais de 50 ligações para a Enel e não recebe nenhuma previsão de solução.
“O atendimento da Enel é tenebroso. No telefone de contato, passam estimativas que nunca se cumprem até o momento, nenhuma equipe jamais foi até meu endereço e os atendentes, ao verificar que já possuem diversas chamadas, desligam a ligação enquanto cobramos uma posição”, reclama.
A família contratou um eletricista para avaliar a parte interna da casa.
“Ele disse que dentro de casa está tudo certo, que o problema é do lado de fora, talvez no transformador. Caíram árvores nas ruas próximas, mas, aqui não. Acho importante destacar isso, pois não é verdade que não há mais casas sem energia em São Paulo”, ressalta o advogado.
Outro exemplo é o empresário Victor Cadena, 31, que mora na Praça Nossa Senhora das Vitórias, na Vila Formosa, zona leste.
“Estamos sem energia desde sexta. A gente já abriu vários protocolos, fui numa agência da Enel e nada. Nunca cumprem os prazos prometidos. São três imóveis nessa rua com o mesmo problema”, relatou, na manhã desta sexta.
A falta de eletricidade tem alterado a rotina do empresário.
“Eu tenho uma clínica de estética com a minha esposa e também uma agência de marketing. Eu trabalho home office, mas tenho que me virar na rua com notebook, carregar celular no carro, ou ir trabalhar na clínica”, conta Cadena.
Segundo empresário, um galho caiu na fiação em frente à sua residência, que deixou o fio baixo, depois passou um veículo e arrancou o fio.
Enquanto falava com a reportagem, uma equipe da Enel chegou para fazer a manutenção e o fornecimento foi restaurado por volta do meio-dia.
Questionada, a Enel não respondeu sobre os casos específicos relatados à reportagem. Em nota, afirmou que restabeleceu o fornecimento de energia para todos os clientes impactados na última sexta e que segue trabalhando em ocorrências específicas que surgiram nos dias seguintes à tempestade.
“Pedimos nossas sinceras desculpas a todos os clientes que demoraram a ter a energia restabelecida em suas casas. A energia é um bem essencial à sociedade e temos consciência dos transtornos que um evento dessa magnitude causa às pessoas. Nos solidarizamos com todos que foram impactados pela falta de luz”, afirma Max Xavier Lins, presidente da Enel Distribuição São Paulo, no comunicado enviado à imprensa.
“Desde as primeiras horas do evento, a companhia mobilizou toda a sua força de trabalho, inclusive de outros estados. Eletricistas em campo, técnicos no centro de operações, atendentes no call center e nas lojas de atendimento, além de fornecedores e parceiros, atuaram e seguem trabalhando incansavelmente.”
Nesta quinta (9), a Prefeitura de São Paulo entrou no Tribunal de Justiça com pedido de medida de tutela antecedente (urgência) contra a Enel com uma série de pedidos relacionados ao apagão.
Na ação judicial, apresentada pela Procuradoria-Geral do Município, a prefeitura exige o religamento imediato da rede elétrica em endereços que ainda estariam sem luz, multa de R$ 1 mil por hora de atraso para cada unidade consumidora, prazo de 24 horas para remoção das árvores que continuam caídas e interferem na fiação elétrica em vários pontos da cidade.
Há ainda pedido para que a concessionária apresente, em cinco dias, um plano de contingência para São Paulo e, no prazo de dez dias, projetos e cronogramas de trabalho preventivo para o período de chuvas.
Outro pedido feito à Justiça é prazo de 72 horas para que a Enel informe o número de equipes e funcionários que atuam no controle das árvores, o número de árvores podadas este ano e a quantidade de equipes e funcionários contratados emergencialmente e que ficam de sobreaviso no período de chuvas intensas.
Em nota na quarta (8), após a notícia da intenção da prefeitura de processar a empresa, a Enel afirmou que prestará todas as informações necessárias para as autoridades. “A companhia acrescenta que mantém uma relação de transparência com seus clientes e todos os seus públicos e está fortemente comprometida em oferecer um serviço cada vez melhor à população.”