SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Integrantes da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e da Polícia Militar divergiram sobre a nova estratégia de fixar a cracolândia na rua Mauá, no entorno da estação da Luz, no Bom Retiro. Usuários de drogas foram escoltados por agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e por policiais por duas noites seguidas até o novo endereço.

Segundo pessoas ligadas à administração municipal, a ideia de transferir os grupos de dependentes químicos foi sugerida pelo prefeito, que escolheu o local no Bom Retiro junto com a secretária de Segurança Urbana, Elza Paulina.

A movimentação foi articulada pela gestão municipal após sucessivas cenas de violência e arrombamentos de lojas no entorno da Santa Ifigênia, onde a cracolândia se alterna entre as ruas dos Gusmões e Protestantes há cerca de quatro meses.

Os transtornos causados a lojistas e consumidores do maior centro comercial de eletrônicos do país são vistos como ponto sensível na campanha de Nunes à reeleição.

Oficiais da PM e agentes da GCM que atuam na cracolândia, porém, discordaram da movimentação por avaliarem que a estratégia irá apenas dispersar ainda mais os dependentes químicos pela região central da cidade.

As forças de segurança avaliam que é preciso conter o fluxo de usuários de drogas em um perímetro controlado para melhor atuação das equipes de saúde e controle da entrada de crack.

Apesar das tentativas de transformar a rua Mauá no novo endereço da cracolândia, vídeos feitos por moradores mostraram a rua, que ganhou dois cavaletes de concreto para reduzir o fluxo de veículos, sem nenhum usuário na tarde desta quinta-feira (9).

Procurada, gestão Nunes disse em nota que a movimentação dos usuários de drogas pela cidade acontece por conta própria e é dinâmica –a prefeitura não comentou sobre as divergências com as forças de segurança. A Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) não respondeu a reportagem até a publicação deste texto.

A tentativa de movimentação gerou revolta entre quem mora e trabalha no Bom Retiro. Integrantes de associações comerciais e de moradores elaboraram uma nota de repúdio contra a permanência da cracolândia na rua Mauá. “Trata-se de um ponto de entrada vital para trabalhadores, moradores e visitantes do bairro, sendo este constituído em maior parte por mulheres”, diz trecho da nota.

Segundo Saul Nahmias, presidente do Conseg Bom Retiro, a rua é o principal caminho para quem sai da rua José Paulino (uma via tradicional de comércio) em direção à estação Luz do metrô. “A maior parte das funcionárias das lojas são mulheres que correm um grande risco nesse cenário”, diz.

Grupo de moradores improvisou um protesto na rua Mauá na tarde desta quinta com cartazes criticando a movimentação dos usuários. “Temos crianças e idosos”, estava escrito em uma cartolina empunhada por uma mulher. “Precisamos de uma solução para a situação da cracolândia”, escreveu outra participante do protesto.

Em julho deste ano, a gestão Tarcísio deflagrou a primeira tentativa para transferir a cracolândia para o Bom Retiro, no caso, embaixo do viaduto Orestes Quércia, conhecido como Estaiadinha. Mas a estratégia falhou. Os dependentes voltaram para a Santa Ifigênia menos de 24 horas depois.