SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O drama dos estrangeiros e cidadãos de dupla nacionalidade retidos na Faixa de Gaza em guerra, 34 pessoas esperando a repatriação ao Brasil inclusas, ganhou um novo capítulo nesta quinta (9).

O Egito reabriu a fronteira no posto de Rafah, mas não divulgou uma sétima lista de estrangeiros autorizados a deixar o território, palco de uma operação militar de Tel Aviv desde que o Hamas, o grupo palestino que o governa, lançou um mortífero ataque contra Israel há pouco mais de um mês.

O motivo é o fechamento da fronteira na quarta (8), que gerou a incerteza acerca do fluxo de refugiados nesta quinta. O local, que é controlado pelo Cairo, havia sido interditado antes por dois dias, no sábado (4) e domingo (5) passados.

O objeto do fechamento foi o mesmo, mas as razões, diferentes. Na primeira ocasião, o Egito protestava contra o bombardeio de uma ambulância que Israel dizia transportar terroristas escondidos entre feridos para serem evacuados ao Egito.

Na segunda, ambos os lados concordaram que havia integrantes do Hamas em veículos enviados do norte de Gaza para Rafah. O grupo palestino não comentou o segundo episódio, mas no primeiro afirmou que as ambulâncias carregavam civis, e acusou Israel de matar 15 pessoas no ataque.

No fim da manhã desta quinta (madrugada no Brasil), o Egito, como fez na segunda (6), reabriu a imigração em Rafah para as cerca de 4.100 pessoas que já tinham autorizações nas seis primeiras rodadas de permissões, além de, é claro, os feridos —esses terão de voltar a Gaza após tratamento.

Para os brasileiros, 24 do grupo, e os 10 palestinos que querem imigrar, a frustração contudo continua. No Brasil, ganhou tração, em especial à esquerda, a versão de que Israel estaria trabalhando para vetar os brasileiros, em retaliação à conduta do país quando esteve discutindo a guerra à frente do Conselho de Segurança da ONU.

Ocorre que Israel não está sozinho na elaboração das listas. Ela é de responsabilidade do Egito, em consulta com Tel Aviv, Washington e Doha, mediadores do processo. É fato que o maior aliado dos israelenses, os EUA, foram os mais favorecidos, mas o país tem o maior contingente de cidadãos em Gaza: cerca de 1.200 dos 7.500 elegíveis.

Além disso, uma adversária de Israel, a Indonésia, estava já na primeira lista. De todo modo, o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, divulgou mensagem na quarta para negar que seu país vete brasileiros.

“O Estado de Israel está empregando esforços para evacuar todos os estrangeiros de 20 países diferentes de para aumentar a cota de forma a compensar o atraso causado pelo Hamas. Está fazendo tudo que está ao seu alcance para articular a saída dos brasileiros de forma segura e o mais rápido possível”, afirmou.

Na semana passada, o chanceler do país, Eli Cohen, disse a seu par brasileiro, Mauro Vieira, que todos deveriam sair até esta quarta, mas os incidentes na fronteira embolaram o processo.

Não que ruidos sejam inexistentes. A diplomacia americana e israelense tomou nota das declarações de autoridades do governo brasileiro na crise, particularmente o assessor internacional do Planalto, o ex-chanceler Celso Amorim, visto como muito pró-palestinos no conflito.

Enquanto isso, em Gaza, a insatisfação dos brasileiros segue em alta. O comerciante Hasan Rabee, de São Paulo, publicou um vídeo no Instagram queixando-se de Israel e dizendo que o embaixador Zonshine estava mentindo ao dizer que o país não controlava as listas de permissões.