SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos, fez um discurso para uma plateia para promotores e procuradores em Salvador no qual falou em defesa da democracia, do combate à corrupção e afirmou que o Ministério Público precisa atuar pela “reconciliação nacional”.

As declarações foram dadas nesta quarta-feira (8) na capital baiana, onde ela participou da abertura do Congresso Nacional do Ministério Público e falou para uma plateia de cerca de 3.000 pessoas.

“Temos autonomia, independência e disposição em favorecer um ambiente harmônico entre os Poderes da República, desde que nos limites legais, visando à paz e ao bem-estar social. O Ministério Público brasileiro deve ser uma ponte para a reconciliação nacional, para o consenso do possível”, afirmou ela, que assumiu interinamente a PGR no dia 27 de setembro.

Ela ainda destacou que a Procuradoria-Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público prosseguem “em seu mister de defesa da democracia, da ordem jurídica e dos interesses sociais”. Na sequência, destacou o papel do Ministério Público deve ser uma instituição com atuação resolutiva no combate à corrupção e à criminalidade.

No mesmo discurso, ela ainda afirmou no discurso segue à frente da PGR até a decisão definitiva do nome do novo procurador-geral da República a ser indicado pelo presidente, “cumprindo exatamente o que nos prescreve a Constituição Cidadã e demais normas infraconstitucionais”.

No final do ato, ela assistiu a uma apresentação do bloco afro Ilê Aiyê e acompanhou a música com palmas. Ao descer do palco, afirmou que não falaria com a imprensa.

Também presente no congresso, a ex-procuradora-geral Raquel Dodge disse a jornalistas que espera que o próximo PGR desempenhe com independência e minimizou a indefinição do presidente Lula (PT) para a escolha do cargo.

“Acho que o presidente Lula está justamente querendo acertar. Essa pausa, essa reflexão, é logo depois de uma cirurgia que ele teve, é o momento adequado que ele teve para refletir e tenho certeza que a escolha será muito boa”, afirmou a ex-procuradora-geral.

A subprocuradora Elizeta Ramos assumiu interinamente a PGR sob desconfiança de uma ala do governo Lula (PT) que a vê como lava-jatista e sem saber por quanto tempo ficará no cargo.

Aliados citam esse fato para pressionar Lula a escolher rapidamente quem será o sucessor de Augusto Aras no comando do MPF (Ministério Público Federal).

O petista, porém, afirmou não ter pressa em fazer a indicação. Enquanto isso, a vice-presidente do Conselho Superior da instituição ficará temporariamente no posto. Esta é a maior demora para a escolha do procurador-geral desde a redemocratização do país.

Elizeta Ramos ingressou na Procuradoria em 1989. Em 2009, foi promovida a subprocuradora-geral da República. Ela coordena colegiado na estrutura da Procuradoria responsável pelo controle externo da atividade policial.

Em um mês no cargo, Elizeta mandou sinais ao presidente Lula na tentativa de se cacifar para ser efetivada no cargo. Mas ela também fez gestos à parcela da instituição que se aproximou da Lava Jato nos últimos anos.

A interina intensificou os trabalhos do setor na PGR que apura crimes contra a democracia atribuídos a pessoas próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e manteve uma postura discreta, sem incomodar o governo.

Ao mesmo tempo, deixou as ações contra a Lava Jato no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) paradas e pediu vista (mais tempo para análise) no STF (Supremo Tribunal Federal) de uma queixa-crime contra procuradores da operação devido ao acordo de leniência da JBS.