SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de São Paulo vai processar a concessionária Enel, que atua na região metropolitana, pela falta de energia que ainda deixa chegou nesta quarta ao sexto dia com 11 mil imóveis sem luz, após as fortes chuvas da última semana. Cerca de 4.600 estão na capital.
Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a Procuradoria-Geral do Município entrará com ação civil pública por descumprimento de acordo da empresa com a capital paulista e de outras normas legais.
A prefeitura diz ainda que irá notificar o Procon e a Aneel, agência nacional de energia, para que medidas sejam tomadas contra a concessionária.
Em nota, a Enel afirma que prestará todas as informações necessárias para as autoridades. “A companhia acrescenta que mantém uma relação de transparência com seus clientes e todos os seus públicos e está fortemente comprometida em oferecer um serviço cada vez melhor à população.”
Nesta quarta (8), moradores estão às escuras mesmo apos o prazo dado pela concessionária para resolver o problema. Desde o fim de semana, a empresa tem dito que iria normalizar o fornecimento de energia “para quase a totalidade dos clientes até esta terça”.
No total, o apagão atingiu 2,1 milhões de clientes da Enel em 24 cidades da região metropolitana.
A demora na resolução tem provocado revolta, com uma série de protestos na capital paulista e na Grande São Paulo.
Nesta manhã, moradores de Sapopemba fizeram um protesto pela volta da energia na avenida Custódio de Sá e Faria.
Na noite de terça, um policial militar ficou ferido durante a manifestação na avenida Giovanni Gronchi, na região do Morumbi (zona oeste). Em Cotia, moradores chegaram a fechar uma pista da rodovia Raposo Tavares.
Outro protesto ocorreu na noite de terça na Vila Leopoldina, na zona oeste. Moradores de um condomínio da rua Carlos Weber, que estava há mais de quatro dias sem luz, fecharam uma parte da via com galhos de árvores e gritaram palavras de ordem por volta das 19h. A falta de energia também afetou estabelecimentos comerciais nas ruas Brentano e Nanuque por mais de 96 horas, de acordo com moradores.
Segundo Sandra Brait, 56, proprietária de uma lavanderia vizinha aos imóveis afetados, a luz só voltou no local por volta das 9h desta quarta, ou seja, o bairro está entre os locais em que a promessa da Enel de retorno da energia foi descumprida.
Brait apoiou o protesto e contou que já teve prejuízos por causa de ligações elétricas malfeitas na lavanderia pela Enel. “É uma serie de erros, a gente tem uma gestão péssima, incompetente, porque tem poucos técnicos. Não conseguem nem fazer a fiscalização correta”, diz a proprietária.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, rebateu as críticas à atuação da companhia após o temporal, argumentando que foi um evento extraordinário.
“Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo”, afirma. Ele diz que a resposta à emergência foi dificultada pela enorme quantidade de árvores que caiu, forçando a empresa a trocar postes e reconstituir quilômetros de rede.
Nesta quarta, em entrevista coletiva, Max Xavier Lins, diretor presidente da Enel SP, repetiu o argumento e disse que a empresa havia se preparado para uma tempestade menor na sexta.
“Quando a gente se prepara para uma tempestade de 55 km/h e vem uma tempestade de 104 ou 105 km/h não é como se tivéssemos duas chuvas 50 km/h. A intensidade é exponencial”, disse o executivo.
Ele afirmou que a companhia tinha 300 equipes de manutenção mobilizadas na sexta, pois já havia uma expectativa de queda de árvores. Lins diz que o número de equipes subiu para 900 e agora há 1.200 nas ruas em cada uma, há em média sete funcionários. Funcionários do Rio de Janeiro e do Ceará reforçam o efetivo, segundo ele.
O presidente da Enel Distribuição SP foi convocado nesta quarta para depor em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa de São Paulo. O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, também foi convocado. Os deputados estaduais devem questioná-los sobre a redução no quadro de funcionários da empresa.
Lins ressaltou que a comissão foi instaurada em maio e ele já foi em uma reunião no mês passado. “Voltaremos quantas vezes a comissão parlamentar nos convoque para prestar todo esclarecimento”, ele disse.
Além disso, vereadores da Câmara Municipal de São Paulo também aprovaram a abertura de uma CPI para investigar a prestação de serviço da Enel na cidade. Isso ocorre apesar de a concessão dos serviços de distribuição de energia ser federal e regulada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).