Reconhecida pela defesa dos direitos humanos, Jaceguara Dantas da Silva tem o nome apoiado para o STF

Géssica Brandino


SÃO PAULO-FOLHA PRESS
A cena de crianças de comunidades quilombolas com cabelos afros e olhos brilhantes participando da contação da história escrita por ela é uma lembrança que a desembargadora Jaceguara Dantas da Silva guardará por toda a vida.

“Eu vi as crianças negras apontando assim: ‘Ó mamãe, parece eu!’ Achei lindo.”

Na obra “Os Sonhos de Ágatha”, a magistrada do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) se desafiou a encontrar uma mensagem de esperança para ajudar meninas negras que se deparam hoje com o racismo que ela enfrentou na infância.

Daquele período ficaram memórias que Jaceguara revisitou na pandemia, enquanto lidava com a ansiedade de estar longe da mãe. “Eu quis fortalecer essas crianças e dizer que elas não estão sozinhas. Nós temos sim caminhos a percorrer e podemos chegar onde nós quisermos.”

Nascida em uma família humilde em Guajará-Mirim (RO), a filha da dona de casa Leonir e do sargento do Exército Elias se mudou para Curitiba por decisão do pai, que pediu transferência para que os então seis filhos pudessem ter mais oportunidades nos estudos.

Foi também o pai quem deu a ela a consciência racial. Na escola, ela não se lembra de outra criança negra. “Eu era um bichinho estranho, tanto é que as crianças chamavam umas às outras para me mostrarem, porque todas tinham olhos azuis ou eram ruivas”, conta.

A mãe da magistrada é descendente de indígenas e portugueses, o que explica seus fios lisos. “Fico muito chateada quando alguém pergunta se eu aliso meu cabelo, porque eu adoraria ter aquele cabelo bem afro”, diz, animada.

Ela se aproximou nos últimos anos de sua própria identidade indígena, por meio de um projeto em parceria com o governo do estado realizado pela Coordenadoria da Mulher do tribunal, chefiada por ela. A ação busca traduzir a Lei Maria da Penha a oito etnias em território sul-mato-grossense.

“É impressionante como a ancestralidade fala forte, porque nunca tinha percebido essa minha identificação com as mulheres indígenas. Agora entendi muito bem essa divisão que existe dentro de mim, metade negra e metade indígena. Ao participar de uma atividade com elas, os cantos e rezas que fizeram me tocaram profundamente”, diz.