Enfermidade é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e AVC
Natália Cancian
BELO HORIZONTE-FOLHA PRESS
Silenciosa, em geral assintomática, a hipertensão arterial —conhecida popularmente como pressão alta— afeta ao menos 1 em cada 4 adultos brasileiros.
É, assim, uma das doenças crônicas de maior prevalência no país. Também é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
Idosos são o grupo com maiores taxas de prevalência de hipertensão —acima dos 65 anos, chega a 62,5%, segundo dados da pesquisa Covitel.
Nos últimos anos, no entanto, o contingente de adultos de faixas etárias mais jovens diagnosticados com pressão alta (e sem que haja uma causa secundária) também tem chamado a atenção de especialistas, que atribuem a situação a uma piora em fatores de risco, como sedentarismo e obesidade.
Embora seja simples de ser diagnosticada, aumentar o rastreio da hipertensão ainda é desafio. Outro impasse é a baixa adesão ao tratamento, o que aumenta o risco de complicações.
Veja abaixo perguntas e respostas sobre a hipertensão.
SAIBA MAIS SOBRE A HIPERTENSÃO
O que é hipertensão?
Como é feito o diagnóstico?
Todo mundo deve ter a pressão arterial aferida?
O que causa hipertensão?
Quais são os sintomas da pressão alta? O que se sente?
Como é o tratamento para quem já tem o diagnóstico de hipertensão?
Quais as principais complicações da hipertensão? E como evitar?
O QUE É HIPERTENSÃO?
Hipertensão é uma doença que eleva a pressão com que o sangue circula nas artérias e veias. Na prática, o coração precisa fazer um esforço maior do que o normal para que o sangue seja distribuído pelo corpo.
“É igual a um sistema hidráulico. Se tem fluxo de sangue circulando sobre alta pressão, vai sobrecarregar mais os órgãos onde esse sangue está chegando sob alta pressão. E essa sobrecarga acaba trazendo lesões e alterações que podem, com o tempo, construir a evolução para um evento mais sério, como infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e assim por diante”, explica a cardiologista Andréa Araújo Brandão, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que lembra que a adesão ao tratamento indicado em cada caso ajuda a reduzir o risco de complicações.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?
O diagnóstico é feito com duas medidas da pressão arterial acima de 140 por 90 mmHG (ou 14 por 9, como a medida é chamada no dia a dia) em duas ou mais consultas diferentes. A medição é feita com uso de aparelho adequado e calibrado.
“Em algumas situações, o médico pode precisar de exames complementares, quando existe alguma dúvida ou quando ele suspeita, por exemplo, da chamada hipertensão do avental branco, que é o caso do indivíduo que está ali batendo na trave, mas que fala que quando mede em casa a pressão fica mais baixa. Nesses casos, ele pode lançar mão da monitorização ambulatorial da pressão arterial, que é a Mapa, ou da monitorização residencial da pressão arterial, que é a MRPA, que é um aparelho de pressão automático com capacidade de gravar essas medidas”, explica a cardiologista Erika Campana, professora-adjunta da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
TODO MUNDO DEVE TER A PRESSÃO ARTERIAL AFERIDA?
Especialistas recomendam que a pressão arterial seja aferida pelo menos uma vez ao ano —ou sempre que houver oportunidade, no caso de atendimentos na rede de saúde. A primeira medição deve ser feita a partir dos três anos.
O QUE CAUSA HIPERTENSÃO?
A hipertensão é uma doença multifatorial. Histórico familiar, sedentarismo, obesidade, tabagismo e o consumo excessivo de sal —cuja quantidade deve ser menor do que cinco gramas por dia por pessoa, ou uma colher de chá, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde)— são alguns dos fatores de risco.
“Se tenho uma predisposição genética, como um pai hipertenso ou mãe hipertensa, por exemplo, tenho 25% mais chances de ter hipertensão. Se tenho pai e mãe com hipertensão, tenho então 50% mais chances. O que posso fazer com isso? Tornar meus hábitos mais saudáveis para essa genética não se manifestar claramente ou para que, pelo menos, se manifeste lá na frente e não tão cedo”, diz Campana.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA PRESSÃO ALTA? O QUE SE SENTE?
A hipertensão é tida como uma doença silenciosa por ser, em grande parte, assintomática. Segundo especialistas, os sintomas só aparecem em fases mais avançadas ou quando há uma elevação muito grande da pressão arterial. Entre eles, estão falta de ar, dor no peito, embaçamento da visão, tontura, dor de cabeça intensa e sangramento no nariz.
“São sinais de que a pressão pode estar muito mais alta do que deveria estar”, afirma Luiz Bortolotto, da Sociedade Brasileira de Hipertensão. “Mas o único jeito de saber é medindo a pressão.”
COMO É O TRATAMENTO PARA QUEM JÁ TEM O DIAGNÓSTICO DE HIPERTENSÃO?
Depende de cada caso. Em geral, o tratamento envolve mudanças no estilo de vida —como melhoria da alimentação e prática de exercícios— e uso de medicamentos. Segundo Campana, a estimativa é que cerca de 70% dos pacientes precisem de remédios para controle da pressão.
A frequência de acompanhamento depende da situação de cada paciente. “Se a pessoa não tem aparelho em casa e a pressão estiver muito descontrolada, o ideal é ir ao médico pelo menos a cada mês no início”, afirma Bortolotto. Em outros casos, a cada três ou quatro meses.
Vale lembrar que não há cura para a hipertensão. “O que se tem é um controle da pressão arterial por meio do uso da medicação”, diz Andréa Brandão, que reforça a importância da adesão ao tratamento correto —e contínuo. “Muitos pacientes às vezes entendem que se você toma o remédio e a pressão normalizou, então, pode parar o remédio que está resolvido o problema. Mas não está.”
QUAIS AS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO? E COMO EVITAR?
Segundo os especialistas, a adesão ao tratamento é fundamental para evitar complicações da hipertensão. Entre elas, estão doenças cardiovasculares e renais. Se não tratada, a hipertensão também pode levar à morte.
“Hoje se admite que em cerca de 60% dos casos de infarto você tem a hipertensão arterial envolvida como parte da história do paciente, e, no AVC, estima-se que isso ocorra em 80% dos casos”, diz Brandão.