IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que a Ucrânia lançou sua longamente aguardada contraofensiva neste domingo (4), mas que não teria tido sucesso em cinco setores da frente na região de Donetsk, no leste do país invadido por Moscou há 15 meses.
Não há nenhuma confirmação até aqui por parte de Kiev, nem avaliações independentes. Segundo o general Igor Konachenkov, porta-voz da Defesa russa, “o inimigo não cumpriu suas tarefas e não teve sucesso”.
A informação de Moscou é que 250 soldados, 16 tanques, 3 veículos de combate de infantaria e 21 blindados ucranianos foram destruídos. Não há como avaliar a acurácia dessa informação, como de resto ocorre de lado a lado na guerra.
A contraofensiva de primavera da Ucrânia tem sido cantada há pelo menos dois meses. O presidente Volodimir Zelenski já afirmou que ela estava pronta para ser lançada, após o reequipamento de suas forças com talvez cem tanques ocidentais e o treinamento pela Otan (aliança militar liderada pelos EUA) de nove brigadas –algo próximo de 45 mil soldados.
Se de fato ela começou neste domingo, mostra um caminho inusual. A previsão de analistas era de que os ucranianos atacariam o sul do país, em Kherson ou Zaporíjia, regiões que como Donetsk e Lugansk foram anexadas ilegalmente por Vladimir Putin em setembro, mas não estão totalmente sob controle russo.
Donetsk, aliás, é onde há maior presença ucraniana, com talvez 40% do território sob domínio de Kiev. A região sob Moscou, contudo, está desde 2014 nas mãos de rebeldes separatistas pró-Rússia. A guerra civil no país seguiu a derrubada de um governo amigo de Putin na Ucrânia, e veio após a anexação da Crimeia pelo Kremlin.
A esta altura, até porque o anúncio foi feito na madrugada de segunda (5) em Moscou por Konachenkov, não é possível saber exatamente o que está ocorrendo. Um ataque no Donbass pode ser uma cortina de fumaça para a ação ao sul, visando justamente cortar a ligação terrestre estabelecida desde o ano passado entre o a Rússia e o leste ocupado com a Crimeia.
Militares ucranianos já indicaram que essa é uma prioridade, embora nem seus aliados ocidentais acreditem que a retomada da península anexada seja factível no médio prazo. As sucessivas indicações em Kiev de que a ação era iminente também levantaram suspeitas acerca da real capacidade da ofensiva.
Em uma entrevista no sábado (3), o general americano David Petraeus, ex-comandante no Afeganistão e no Iraque, além de ex-diretor da CIA (agência de espionagem dos EUA), por sua vez, afirmou que após conversas com oficiais ucranianos estava convencido de que a contraofensiva seria robusta.
O último sucesso militar de monta de Kiev na guerra ocorreu em novembro, quando os russos deixaram a cidade de Kherson para ocupar posições mais defensáveis na margem oriental do rio Dnipro. Antes, uma contraofensiva surpresa havia expulsado forças de Moscou em um pedaço de Kharkiv (norte).
A frente de 1.500 km estabelecida na Ucrânia foi fortificada com posições defensivas pelos russos nos últimos meses. Moscou também teve algum avanço, tendo capturado no mês passado a estratégica Bakhmut, cidade de Donetsk que drenou energia de ambos os lados no chamado “moedor de carne” desde o ano passado.
Enquanto o drama se desenrola, houve novos ataques a cidades russas perto da fronteira ucraniana neste domingo. Em Belgorodo, houve combate em uma vila, e em Kursk um drone de longa distância foi abatido. Mais importante do ponto de vista simbólico, o Corpo de Voluntários Russo, um grupo com filiação neonazista com apoio de mercenários poloneses, disse ter tomado 12 soldados de Moscou reféns.
Cerca de 4.000 soldados do Kremlin foram enviados para a região, visando evitar novos incidentes como os ataques a Chebeniko na semana passada.