Levantamento realizado pela ONG Quero na Escola mostra também que maior parte das ofensas é proferida por estudantes

Sete em cada dez educadores brasileiros dizem que já escutaram estudantes, professores ou funcionários fazendo piadas racistas nas instituições de ensino em que trabalham. Essa é uma das constatações da pesquisa “Sua Escola É (Anti)racista?”, realizada pela ONG Quero na Escola, de fevereiro a maio deste ano.

GIZ DE CERA

O levantamento ouviu 624 educadores de 21 estados brasileiros e do Distrito Federal, por meio de um questionário online. Mais de 90% dos que responderam são da rede pública.

Os profissionais foram perguntados se, no dia a dia da escola, presenciavam falas ou apelidos racistas e se eles vinham de colegas educadores, estudantes, de si mesmo ou alguma outra pessoa (que poderia ser um funcionário ou até mesmo um familiar de aluno).

CERA 2

Em cerca de metade dos casos, as pessoas que ouviram esse tipo de ofensa apontaram mais de um grupo como responsável pelos insultos. Os alunos lideram o ranking: 46% disseram que escutaram piadas e apelidos vindo apenas de estudantes, e outros 31% citaram como autores das falas racistas estudantes ao lado de outros grupos.

Colegas educadores aparecem na sequência, sendo citados por 5,3% dos entrevistados como únicos responsáveis por esse tipo de ofensa, e por um total de 33% quando acompanhados de outros segmentos (estudantes, outras pessoas e a si mesmo).

CERA 3

A pesquisa perguntava também como os profissionais lidavam com a situação. Duas respostas foram as mais citadas: 41% disseram que falavam para a pessoa que não gostou da piada, e 38% afirmaram que pediam providências, como retratação ou intervenção pedagógica.

RACISMO

Entre os educadores que responderam a pesquisa, 23% afirmaram que já foram vítimas de racismo. Esse percentual ultrapassa os 90% entre os que se declaram pretos, e sobe para 39% entre os que se dizem pardos.

ATAQUES

O levantamento também tinha uma pergunta para entender a percepção da comunidade escolar sobre a presença de manifestações de ódio, como símbolos nazistas e ameaças explícitas. Um terço dos educadores (30,1%) disse que já percebeu esses sinais e tem medo de que isso leve a uma situação mais grave na instituição, como um ataque. Um percentual um pouco maior (37%) afirmou nunca ter percebido qualquer sinal, e outros 28% disseram que já notaram, mas não têm receio.
Entre as pessoas negras, o número das que percebem sinais e têm medo sobe para 37%.
FICHA

O estudo, que contou com o apoio da editora Editora Jandaíra, foi desenvolvido para marcar os 20 anos da Lei 10.639, que instituiu o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Os dados serão apresentados no sábado (28), no evento Primavera dos Livros, no Rio de Janeiro.