JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – As cidades de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) vivem euforia no início do mês de junho, marcado pelas festas de São João. Os dois municípios são conhecidos pelas duas principais festas de são João do país.
As festas juninas envolvem uma cadeia de protagonistas, desde artistas até o poder público, passando por novos empregados no período. As duas grandiosas festas têm muito em comum, mas também peculiaridades locais.
O São João de 2023 é o segundo com liberação de festas após a pandemia de Covid-19. Se em 2022 a marca principal foi a volta da festa junina, neste ano o tom é de consolidar a unidade dos povos e atores envolvidos nas duas cidades.
Em Caruaru, o São João começou desde 28 de abril na zona rural e nos bairros da periferia. Com a chegada do mês de junho, a festa toma um ritmo frenético. Os shows se concentram no Pátio do Forró Luiz Gonzaga e são realizados entre 3 de junho e 1º de julho. São 25 polos ao todo.
“Neste ano, a gente antecipou muito a divulgação da programação de forma inédita para o pessoal se organizar com antecedência. Já há hotéis com diárias a R$ 1.500 e outros muitos com vagas esgotadas”, diz o prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB).
Artistas como Elba Ramalho, Luan Santana, Bell Marques, Matheus e Kauan, Gusttavo Lima, Ivete Sangalo, João Gomes, Simone Mendes e Joelma estão entre as atrações.
Apesar da presença expressiva de 1.200 atrações nacionais, a maioria das apresentações -900- é composta por artistas locais. A Prefeitura de Caruaru realiza, desde 2022, um aumento de 50% nos cachês, com reajuste dividido em três anos, até 2024.
Em 2023, a participação de artistas locais no intervalo de apresentações nacionais e a presença de uma tirolesa com 12 metros de altura e entrada gratuita são novidades no Pátio do Forró.
As quadrilhas também são outra marca forte da festa caruaruense. Lucineia Ferreira é coordenadora da quadrilha Molecodrilha, que faz apresentações durante o São João de Caruaru. O grupo é composto por 65 pessoas, entre dançarinos e produtores.
A consagração acontece no período do São João, mas a preparação vem de meses anteriores. Logo após terminar a festa deste ano, a Molecodrilha já começa a se preparar para o ano seguinte.
“A gente dança quando nos contratam, independente do mês, porque sempre tem algum evento. Mas para o São João especificamente a gente se prepara já o ano todo”, diz
Fundada há 17 anos, a Molecodrilha é uma das mais conhecidas de Caruaru e tem, entre seus integrantes, crianças, jovens e adultos. Os membros atuam voluntariamente, em paralelo a suas atividades profissionais, em meio a dificuldades em obter lucros financeiros com a quadrilha. No entanto, o que mantém de pé a estrutura da quadrilha é o carinho do público.
“Já pensei em desistir de organizar pela falta de apoio e até de lucro, mas quando vejo o aplauso e o brilho nos olhos do público é que tenho animação para seguir em frente e continuar”, diz Lucineia, que arca financeiramente com os figurinos.
Há integrantes do grupo que entraram na quadrilha ainda como crianças e, hoje, adultos, ainda participam das apresentações.
A expectativa, ao todo, é que 4 milhões de pessoas passem por Caruaru ao longo do São João deste ano. A localização próxima ao Recife (130 km de distância) ajuda muitas pessoas a irem e voltarem na mesma noite para a capital. Isso porque o preenchimento da rede hoteleira da cidade deve superar a casa dos 95%, segundo a prefeitura. Cerca de R$ 600 milhões devem ser injetados na economia da cidade.
Outro ponto-chave do São João de Caruaru é a realização do “Maior Cuscuz do Mundo”, com mais de 1.400 kg, tradicionalmente no segundo domingo do mês de junho -dia 11, em 2023.
Além da comida, bandas e orquestras musicais fazem o aquecimento para a partilha do cuscuz. A expectativa é que mais de 70 mil pessoas acompanhem a caminhada até a degustação do prato típico nordestino.
“São 200 pessoas envolvidas diretamente no evento, incluindo seguranças. E só na preparação da comida é uma equipe de 20 pessoas. O evento é gratuito, mas os preparadores são remunerados com patrocínios inclusive”, afirma José Augusto Soares, organizador do Maior Cuscuz do Mundo e Patrimônio Vivo de Caruaru.
Desde abril, um calendário de comidas gigantes, como “maior tapioca do mundo”, bolo de milho gigante, maior canjica, entre outros.
A euforia também toma conta dos protagonistas do São João de Campina Grande. A cidade paraibana rivaliza com Caruaru na disputa pelo título de Maior São João do Mundo.
Em 2023, a festa em Campina Grande tem como foco central uma homenagem aos 40 anos do São João da cidade.
A feirante Bernadete Soares, 52, faz e vende canjicas, pamonhas e milho assado nas ruas de Campina Grande junto com um dos seus filhos. Há mais de 20 anos ela atua com essa atividade no período junino.
“No mês de junho, temos uma renda extra com o São João. É bom porque ajuda a pagar as contas e a gente também se diverte. É um olho na venda e outro no forró, para aproveitar também enquanto nós trabalhamos”, afirma.
Bernadete estima que vende ao menos cem itens de comidas de milho por dia no mês de junho, mas que esse número pode dobrar diariamente na semana do São João, cujo dia é 24 de junho.
Em Campina Grande, são 32 dias de festa ao todo, seguindo até 2 de julho. O Pátio do Povo, principal polo da festa campinense, tem capacidade para até 57,2 mil pessoas por noite. Ao longo do mês, mais de 340 atrações devem subir aos palcos da cidade, além de apresentação de 50 quadrilhas.
A maior festa do ano para Campina Grande deve gerar cerca de 6.000 empregos diretos e indiretos. A estimativa da prefeitura é que o público ultrapasse a casa dos 2 milhões.
Segundo a secretária de Cultura de Campina Grande, Giseli Sampaio, haverá neste ano um camarote adequado para pessoas com deficiência acompanharem os shows na cidade, como forma de acolhimento a todos os públicos.
Geraldo Azevedo, Gusttavo Lima, Wesley Safadão, Xand Avião, Léo Santana, Calcinha Preta, Matheus e Kauan e Jonas Esticado estão entre as atrações em Campina Grande.
A prefeitura de Campina Grande também aproveita o São João para realizar um casamento coletivo, com cem matrimônios, como ação social em benefício de pessoas que não têm recursos para realizar suas festas de casamento.