LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alexia Putellas, 29, costumava pensar que o Camp Nou era só para homens. No estádio do Barcelona, ela se encantou por futebol vendo o talento de jogadores como Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Lionel Messi.
Não passava por sua cabeça que um dia ela mesma pudesse ser reverenciada no famoso gramado. Nem que se tornaria o símbolo de uma geração que faria um time feminino lotar as arquibancadas como a equipe masculina acostumou-se a fazer.
Sorte do Barcelona –e de milhões de meninas ao redor do mundo que têm a espanhola como referência– que nada disso impediu de florescer o talento da meia-atacante, eleita a melhor do mundo em 2021 e 2022.
Nascida em Mollet del Vallès, Putellas é a peça principal da engrenagem que transformou o Barcelona em uma potência do futebol feminino nos últimos anos, quando a equipe conquistou sua primeira Champions League –competição da qual é finalista nesta temporada pela terceira vez consecutiva–, empilhou quatro títulos do Campeonato Espanhol e colecionou taças da Copa da Rainha e da Supercopa da Espanha.
Nos últimos nove anos vestindo a camisa do time catalão, ela ajudou a despertar uma paixão capaz de produzir cenas marcantes, como a que foi vista no Camp Nou no segundo jogo das quartas de final da edição de 2021/22 da Champions.
No dia 30 de março de 2022, 91.533 pessoas presenciaram a goleada da formação catalã sobre o Real Madrid por 5 a 2, no maior público da história do futebol feminino mundial.
“Estou quase sem palavras”, disse ela naquele dia, horas depois do duelo. “Quando a partida terminou, os torcedores simplesmente não queriam ir para casa”, lembra.
Foi um momento emblemático, que teria ficado ainda mais marcado na história se o Barcelona não tivesse depois perdido a final do torneio. Depois de ter eliminado o Real, a equipe passou pelo Wolfsburg, porém acabou derrotadas na decisão pelo Lyon, clube que no passado recente dominava a modalidade.
Neste sábado (3), a formação da Catalunha terá uma nova chance de conquistar a competição. No Philips Stadion, em Eindhoven, na Holanda, vai decidir o título contra o Wolfsburg, às 11h (de Brasília). Dazn e YouTube (Dazn e CazéTV) transmitem.
Putellas acredita que a derrota para as francesas na última edição deixou o time mais maduro.
“Acho que melhoramos fisicamente neste ano. O trabalho que o departamento de preparação física tem feito tem sido muito personalizado e importante para que cheguemos bem à final”, disse ela.
Vê-la confiante é um alívio para os torcedores do Barcelona e de toda a Espanha. Na temporada passada, a jogadora ficou nove meses sem atuar por causa de uma lesão no joelho esquerdo, que a tirou a disputa da Eurocopa.
Agora, além de buscar mais um título da Champions com seu clube, ela é novamente a principal esperança de seu país para a disputa da Copa do Mundo, em julho, na Austrália e na Nova Zelândia.
Se fizer um bom Mundial, dificilmente ela não será novamente eleita a melhor do planeta. Em 2022, a espanhola já foi protagonista de um feito raro.
Títulos coletivos costumam ser determinantes para premiações individuais do futebol. Os vencedores de honrarias como o The Best, da Fifa, e a Bola de Ouro, da revista France Football, via de regra, são atletas que lideraram equipes nas conquistas de competições como a Champions League ou a Copa do Mundo.
Mas foi justamente essa escrita que Putellas quebrou, quando as duas tradicionais premiações do futebol reconheceram seu talento pelo segundo ano consecutivo em uma temporada na qual ela perdeu a Champions e ficou fora da Euro.
Putellas tem consciência do que seus feitos representam, mas não é do tipo que se envaidece. “Fama é apenas mais uma coisa com a qual você tem que lidar. Minha vida mudou no ano passado e ainda está mudando, mas estou me concentrando no que faço todos os dias. O resto não me incomoda”, diz ela.
Para a craque, o futebol continua sendo a diversão que sempre fez parte de sua vida, uma paixão que foi despertada lado paterno de sua família –todos torcedores do Barcelona e integrantes da torcida Penya Barcelonista Mollet del Valles–, da qual Putellas tem orgulho por sempre tê-la incentivado a buscar seu sonho de ser uma jogadora profissional.
“Futebol não tem gênero”, afirma. “Sei que tenho sorte pela família que tenho e pelos amigos com quem cresci, mas minha experiência é como deveria ser para toda jovem. A nova geração precisa normalizar isso. O futebol é de todos.”