SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Todos os textos recentes que saíram a respeito de Isabel Teixeira, que tomou o Brasil de assalto com sua Maria Bruaca no remake de “Pantanal”, começam dizendo que ela é uma atriz, diretora e dramaturga premiada. O que não é mentira.
Isabel Teixeira já venceu duas vezes o prêmio Shell, maior premiação do teatro nacional, e dois troféus da APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte, um por “Pantanal” e outro especial, pela mostra de 50 anos do Teatro de Arena.
Como diretora, tem seu nome associado ao trabalho mais recente da atriz Regina Braga, “São Paulo”, em que ela conta histórias que leu ou viveu na cidade e canta, acompanhada de um grupo de músicos jovens.
“São Paulo” estava pronta para entrar em cartaz quando houve a primeira morte por Covid-19 no Brasil. Foi adiada a duas horas da estreia, em 12 de março de 2020. Só entraria em cartaz dois anos depois e, desde então, fez nove temporadas em teatros diferentes.
Agora, ela será a personagem principal de mais um remake da TV Globo, a nova novela das 18h, “Elas Por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes. Desta vez, ela será Helena, vivida originalmente por Aracy Balabanian, morta em agosto.
Esta foi a novela em que o personagem Mario Fofoca apareceu pela primeira vez, em 1981. Desta vez, o detetive cômico, imortalizado pelo ator Luís Gustavo, será vivido por Lázaro Ramos agora, no folhetim que estreia em 25 de setembro.
“Eu sou a mais rica da novela e a mais má”, diz a atriz, se divertindo com as novidades. “Tenho que chegar duas horas antes da gravação para arrumar o cabelo. Às vezes, fica todo o elenco, os técnicos, a direção me esperando e eu grito lá do meu camarim: É cabelo de rica, dá trabalho e demora mesmo”.
Como atriz, Teixeira já se apresentou na Espanha, em Portugal, no Canadá, nos Estados Unidos, no Japão e fez parte da companhia teatral dirigida pela brasileira Christiane Jatahy, dramaturga e cineasta que atualmente é artista convidada do Teatro Odeon, em Paris, e prepara a adaptação para os palcos do romance “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior.
Teixeira trabalhou com Jatahy até janeiro de 2019, quando começou a se incomodar com o fato de se apresentar em português para uma plateia francesa, apesar de falar francês fluentemente. “O meu caminho sempre foi o da palavra, seja no teatro, seja na novela, tudo começa com a palavra para mim”, diz a atriz.
Sua casa é em Santa Cecília, bairro no centro de São Paulo, próximo a Higienópolis, e onde ela montou uma editora artesanal chamada Fora de Esquadro, que será inaugurada no mês que vem com vários lançamentos de sua autoria, os livros “Janelas Para o Chão” e “Avelã”. O terceiro título, “H.Tel & Soul (Cartografia para um Incêndio)”, é assinado por Virgínia Rey, um pseudônimo da atriz.
“Eu sou uma escritora, sempre fui. Sou uma escritora de diário desde sempre, minha vida toda eu percorri o caminho da escrita. Eu não sou uma atriz”, diz ela, que largou o curso de letras na Universidade de São Paulo aos 19 anos quando viu um anúncio das inscrições para a Escola de Arte Dramática da universidade.
“Minha mãe ficou desesperada, a gente brigou feio”, afirma ela, que é filha da atriz Alexandra Corrêa, morta em 2006, aos 56 anos, e do compositor Renato Teixeira, de 78 anos, autor de “Romaria”, um dos maiores sucessos da carreira de Elis Regina.
Mas a pessoa da família que exerceu a maior influência sobre Teixeira foi seu avô, o jornalista Moacyr Corrêa, primeiro editor desta Ilustrada, entre 1958 e 1971. Ele entrou na empresa Folha da Manhã, que edita este jornal, em 1939, como revisor. Passou para a redação, dirigiu o Jornal de São Paulo, dos Diários Associados, e voltou para a Folha da Manhã em 1949. Morreu em 2007, aos 88 anos.
“Meu avô era um autodidata, aprendeu tudo sozinho. Eu amo ler e escrever por causa dele, passava horas quando criança na biblioteca dele, vendo as primeiras edições que ele colecionava”, lembra a atriz. Sua avó, por sua vez, era atriz, assim como sua mãe. Teixeira cresceu acostumada com coxias de teatro e bastidores de shows, sempre sonhando com a literatura.
Mas o teatro a seduziu, e ela, por sua vez, seduziu a plateia. “Raspei a cabeça quando passei na EAD, fui morar no Crusp, o alojamento para alunos da USP, mas na minha cabeça aquilo era um desvio de rota, achei que ia fazer a EAD e voltar para terminar o curso de letras”, diz.
Por acaso, porém, se esqueceu de trancar a matrícula do curso de letras. Quando voltou para recomeçar o curso, sua vaga não existia mais.
O jeito foi trabalhar. Começou a atuar e dirigir profissionalmente em 1994, emendando um trabalho no outro. Entre 2007 e 2012, atuou no espetáculo “Gaivota, Tema para um Conto Curto”, baseado na obra do escritor russo Anton Tchékhov, dirigido por Enrique Diaz, que viajou pelas principais cidades do Brasil e foi apresentado em Barcelona, Bruxelas, Lyon, Paris, Bogotá, Lisboa, Quebéc, Montreal e Shizouka, no Japão.
Nos intervalos entre as apresentações, foi assistente de direção de Regina Braga no espetáculo “Totatiando”, com Zélia Duncan, em 2011. Em seguida, dirigiu o show “Tudo Esclarecido”, de novo com Zélia Duncan.
Em 2013, dez anos atrás, estreou na companhia de Christiane Jatahy com o espetáculo “E se Elas Fossem Para Moscou?”, que ficou em turnê por quase sete anos, viajando de novo pelo mundo. Durante este período, morou em Paris.
Mas, depois de cinco anos fora do Brasil, ficou com saudades de casa e da língua portuguesa. “A gente nunca deixa de ser estrangeira fora do nosso país”, afirma. Mais uma vez, largou tudo e mudou o rumo de sua vida. Voltou para São Paulo, sua cidade natal, sem nenhum trabalho no horizonte.
No mês seguinte, foi chamada pela Rede Globo para fazer uma participação na novela “Amor de Mãe”. Em seguida, trabalhou na série de suspense “Desalma”, da Globoplay. “Quando veio o convite para fazer Pantanal eu sabia que minha vida ia mudar mais uma vez”, conta.
Na pele de Maria Bruaca, mulher do vilão Tenório, papel de Murilo Benício, ela foi descoberta, ou melhor, redescoberta pelo país inteiro. Na versão original da novela, que passou na extinta TV Manchete em 1990, a personagem era interpretada por Ângela Leal e Tenório por Ântônio Petrin.
“O personagem era o mesmo, mas o mundo mudou, o Brasil mudou. E o que pouca gente prestou atenção naquele momento virou assunto no ano passado, e a personagem passou a ter uma relevância muito maior”, diz a intérprete.