SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça de São Paulo suspendeu nesta quarta-feira (13) a ação do Bradesco contra a Americanas após a varejista ter apontado suspeição da consultoria Kroll, responsável pela perícia de computadores.
Segundo a Americanas, há elementos que colocam em dúvida a imparcialidade da consultoria para estar presente no caso.
A varejista argumenta que a Kroll e o escritório Warde Advogados, que representa o banco, estão atuando juntos em casos de semelhante complexidade e repercussão midiática, envolvendo as empresas Kabum, Itaú BBA e Magazine Luiza.
Em fevereiro deste ano, a Justiça de São Paulo negou recurso da Americanas para evitar a perícia que buscaria evidências de fraude nos números que levaram a empresa à recuperação judicial. Na ocasião, a Kroll foi escolhida.
Segundo a Americanas, seriam três os motivos que colocam em dúvida a imparcialidade da Kroll: teria feito “parceria” com advogados contratados pelo Bradesco em outro processo; teria sido contratada por outros credores da Americanas para dar consultoria na recuperação judicial; e assistente do banco teria combinado previamente com perito da Kroll perguntas que seriam feitas a colaboradores da Americanas.
Em nota divulgada nesta quarta (13), o Bradesco afirmou que “tem total interesse no sucesso da recuperação judicial da Americanas S.A. e que jamais se manifestou contra a aprovação de qualquer plano de recuperação judicial”.
“Nenhum plano foi oficialmente submetido para apreciação em assembleia de credores, uma vez que as contas da referida companhia ainda não foram devidamente auditadas, aprovadas e apresentadas”, disse.
A petição foi protocolada pela Americanas nesta terça (12). A decisão foi assinada pela juíza Andréa Galhardo Palma, da 2ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem.
“Considerando a prejudicialidade da questão, bem como a relevância dos efeitos dessa análise antes da realização dos trabalhos periciais, e para que se evite prejuízo às partes, por cautela, acolho o pedido de excipiente para tão somente determinar a suspensão dos autos principais”, disse a juíza na decisão.
“É imprescindível, sobretudo no âmbito de uma controvérsia dessa relevância, que poderá impactar direta ou indiretamente a vida de inúmeros funcionários, credores e acionistas, que não exista qualquer resquício de dúvida sobre a imparcialidade do perito judicial”, disse a varejista, em nota.
“Em razão disso, a Americanas requereu que o processo seja imediatamente suspenso até a adequada apreciação da petição”, afirmou a empresa.
No início do ano, a Americanas reconheceu a existência de inconsistência contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço e pediu tutela cautelar à Justiça, o que impediria a antecipação das dívidas que, segundo a companhia, chegam a R$ 40 bilhões.
O Bradesco, credor em R$ 4,7 bilhões, entrou com ação para ter acesso a documentos.
A Americanas acusa a instituição financeira de se alinhar com ex-CEO da varejista. Em carta enviada à CPI da Americanas, Miguel Gutierrez implicou Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, acionistas de referência da companhia, na crise financeira e contábil. O trio descarta as alegações.