RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os preços da alimentação no domicílio acumularam queda (deflação) de 0,62% no período de 12 meses até agosto, apontam dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta terça-feira (12).

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelo cálculo, é a primeira vez que esse subgrupo do IPCA mostra redução no acumulado de 12 meses desde maio de 2018. À época, a deflação havia sido de 3,8%.

Na leitura mensal, os preços da alimentação no domicílio caíram 1,26% em agosto de 2023. Foi a terceira queda consecutiva, após recuo de 0,72% em julho e de 1,07% em junho.

André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, associou o quadro a uma oferta maior de alimentos no Brasil.

Conforme o pesquisador do IBGE, melhores condições climáticas na comparação com o início do ano beneficiam a produção de grande parte das mercadorias e, como consequência, geram alívio para o bolso dos consumidores.

Em 2023, o país vive os reflexos do aumento da safra agrícola, cujas projeções indicam recorde. “De maneira geral, a gente pode dizer que a queda dos preços alimentícios tem sido influenciada pela maior oferta [de produtos] no mercado”, afirmou Almeida.

Entre os alimentos pesquisados pelo IBGE, o óleo de soja registrou a maior deflação no acumulado de 12 meses. A baixa foi de 33,9% até agosto.

Leite longa vida (-25,2%), filé-mignon (-15,09%), feijão-carioca (-14,98%), abacate (-13,9%) e frango em pedaços (-13,36%) aparecem na sequência do ranking das maiores quedas no acumulado.

No sentido contrário, cenoura (48,57%), tomate (42,81%), banana-maçã (40,93%), tangerina (30,27%) e farinha de mandioca (28,46%) registraram as altas mais intensas nos últimos 12 meses.

ALIMENTAÇÃO FORA DE CASA AINDA SOBE

No cálculo do IPCA, a alimentação no domicílio integra o grupo alimentação e bebidas, que ainda envolve a alimentação fora do domicílio.

Esse segundo subgrupo subiu 0,22% no IPCA de agosto, após avanço de 0,21% em julho. A alimentação fora do domicílio pode sofrer pressões da demanda maior pelos serviços de bares, restaurantes e lanchonetes, que tiveram retomada após a crise da pandemia.

Os preços das refeições fora de casa também seguem avançando em 12 meses, mas em um ritmo mais suave.

A alta acumulada pela alimentação fora do domicílio atingiu 5,78% até agosto, o que representa uma desaceleração ante julho (6,49%). A nova taxa é a menor desde os 12 meses encerrados em maio de 2021 (5,77%).

O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, também considera que a maior oferta de produtos em 2023 é responsável pela trégua dos preços da comida.

Ele, porém, diz que o fenômeno climático El Niño traz riscos para os próximos meses, em caso de prejuízos consideráveis em regiões produtoras.

“Vemos safras maiores, isso ajuda bastante. A gente espera que a melhora continue nos próximos meses, mas há o risco do El Niño. Ainda não está 100% incorporado nas projeções”, afirma Mercadante.

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal do Oceano Pacífico na região da linha do Equador, elevando as temperaturas globais. Cientistas dos Estados Unidos declararam o início do fenômeno em junho.

No Brasil, o evento aumenta a chance de grandes volumes de chuva no Sul e eleva o risco de períodos mais secos no Nordeste e no Norte, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

ALIEMENTOS COM MAIORES QUEDAS DE PREÇOS EM 12 MESES

**Até ago.2023, em %**

○ Óleo de soja -33,9

○ Leite longa vida -25,2

○ Filé-mignon -15,09

○ Feijão-carioca -14,98

○ Abacate -13,9

ALIMENTOS COM MAIORES ALTAS DE PREÇOS EM 12 MESES

**Até ago.2023, em %**

○ Cenoura 48,57

○ Tomate 42,81

○ Banana-maçã 40,93

○ Tangerina 30,27

○ Farinha de mandioca 28,46

_Fonte: IBGE_