SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pelo menos 40 civis morreram e dezenas ficaram feridos no Sudão após bombardeios do Exército neste domingo (10), afirmou um grupo local de voluntários. O ataque é o mais mortal desde o início do conflito interno no país africano, em abril.
“Por volta das 07h15 (2h15 em Brasília), as forças aéreas bombardearam a área do mercado de Qura”, informou o Comitê de Resistência desse bairro no sul da capital, Cartum. O grupo pró-democracia, que organiza assistência entre os moradores desde o início do conflito, chamou o ataque de “massacre” e teme que o número de vítimas continue aumentando.
Ofensivas aéreas em áreas residenciais têm se intensificado enquanto a população espera há cinco meses por uma resolução do conflito entre o Exército sudanês e as paramilitares RSF (Forças de Apoio Rápido, em português). Nenhum lado dá sinais concretos de abertura para uma mediação.
A série de ataques com drones da manhã deste domingo atingiu um grande distrito da cidade ocupado principalmente pelas RSF, disse à agências de notícias Reuters uma testemunha que viu as explosões. Por motivos de segurança, a pessoa pediu para não ser identificada.
Os moradores dessa área costumam ser trabalhadores que, sem emprego, não conseguem arcar com os custos de escapar da capital que sofreram enorme aumento após o início das hostilidades entres as duas facções do Exército.
Imagens compartilhadas por um grupo de voluntários locais chamado Sala de Emergência do Sul de Cartum mostraram mulheres e homens feridos e corpos cobertos por panos, alguns empilhados.
Mohamed Abdallah, porta-voz da organização, disse que os afetados tiveram que ser transportados em riquixás, pequenos carros de tração humana, ou carroças de burro. Os atingidos não param de chegar ao hospital mais próximo, Bashair, que fez um “apelo urgente” a todos os médicos da região.
Os Médicos Sem Fronteiras, que operam o centro de Saúde, no sul de Cartum, disseram nas redes sociais que pelo menos 60 pessoas ficaram feridas os profissionais pararam de contar enquanto operavam pessoas com partes do corpo dilaceradas, afirmou a organização.
“Cartum está em guerra há quase seis meses. Mesmo assim, os voluntários (…) estão chocados e sobrecarregados com a escala do horror que atingiu a cidade hoje”, disse a coordenadora de emergência Marie Burton.
Na sexta-feira (8), a Sala de Emergência do Sul de Cartum disse em um comunicado que o hospital, um dos poucos ainda em funcionamento, estava ameaçado de fechamento devido à falta de suprimentos e à dificuldade da equipe para chegar até o edifício.
Em um comunicado, as RSF previsivelmente acusou o Exército sudanês de realizar o ataque. O Exército, por sua vez, negou a responsabilidade e culpou o adversário. “Nós direcionamos nossos ataques somente aos agrupamentos e estações do inimigo, em diferentes áreas”, disse o general Nabil Abdallah à Reuters.
A estratégia das RSF é espalhar seus combatentes por áreas residenciais de toda a capital Cartum e das vizinhas Bahri e Omdurman algo que o Exército tenta reverter usando sua vantagem de artilharia pesada e ataques aéreos, o que resulta em centenas de vítimas civis.
Na semana passada, por exemplo, ataques em Omdurman ocidental mataram pelo menos 51 pessoas em dois dias. Com a maioria dos hospitais fechados e sem governo local em funcionamento, voluntários lutam para documentar a extensão das mortes.
O Projeto de Localização e Dados de Conflitos Armados (Acled, na sigla em inglês), tenta fazer esse trabalho. De acordo com a organização, o conflito já custou a morte de quase 7.500 pessoas número que pode estar bastante subestimado, já que muitas áreas do país estão completamente isoladas e ambos os lados se recusam a comunicar as suas perdas.
O Exército e as RSF começaram a lutar em 15 de abril, após os chefes das duas facções, que em 2019 se aliaram para derrubar a ditadura de 30 anos de Omar al Bashir, tiveram divergências em relação à integração de suas tropas para devolver o poder aos civis. Embora vários países tenham lançado esforços de mediação, nenhum conseguiu interromper os combates.
Os embates se concentram principalmente em Cartum, a capital, e Darfur, uma vasta região no oeste do país que faz fronteira com o Chade. Tal cenário forçou quase 5 milhões de pessoas a fugirem das suas casas.